Desde o início sabíamos que a campanha de Fábio teria de matar um leão por dia em Caruaru para rivalizar com as dos grupos tradicionais, que sempre polarizam as eleições na cidade. Seria necessário superar o tempo curtíssimo no guia eleitoral, bem como as limitações financeiras, oriundas de ser candidato por um partido embora forte ideologicamente, mas sem acesso as fontes de financiamento.
No contexto
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Essas limitações, entretanto, poderiam ser superadas, como mostra o próprio PSOL na campanha de Belém do Pará, onde o candidato Edmilson Rodrigues, mesmo tendo o sétimo tempo do guia, lidera a corrida. Pois a questão não é apenas ter tempo para falar e sim ter o que falar, e nesse aspecto Fábio pouco acrescentou ao debate político.
Quando foi anunciado o lançamento de uma candidatura do PSOL em Caruaru, criou-se a expectativa de que teríamos um militante autêntico de esquerda fazendo o contraponto, a crítica social as duas oligarquias que se revezam no poder ao longo dos anos. Pois o PSOL, surge de uma dissidência do PT, ao questionar a política de alianças do primeiro Governo Lula, onde um grupo de militantes históricos e ideológicos procuraram resgatar a magia do PT através do PSOL.
Quando do início do guia as frustrações apareceram, embora sob a égide da esquerda o discurso de Fábio revelou-se em vários momentos: confuso ideologicamente, desconexo e incompreensível, embora seja verdade que pelo menos no quesito comunicação ele melhorou ao longo da campanha. A marca da esquerda nunca apareceu na campanha de Fábio, e o próprio me esclareceu os motivos numa entrevista à Rádio Cultura, pois o mesmo já militou nas hostes de Tony Gel e Demóstenes e foi filiado ao PRTB, ou seja, um autêntico membro da direita que passa a impressão de só estar num partido de esquerda porque foi o único que estava disponível nessas eleições.
A sua baixa pontuação nas pesquisas, além de ser consequência bipolarização que reina em Caruaru, também foi reflexo de um discurso que não encontrou receptividade na população, pois as suas propostas em inúmeros casos beiraram o absurdo e extrapolaram a esfera de atuação do Governo Municipal.
Contribuiu também para esse quadro, a sombra de suspeita que paira sobre a sua candidatura, que estaria a serviço do grupo de João Lyra, em virtude do engajamento de pessoas ligadas ao Vice-Governador e os pronunciamentos feitos por Fábio em desagravo a João no guia e nas entrevistas. Ora como Fábio quer ser o novo e conquistar o voto do eleitor independente se transparece em suas ações a subordinação a um dos grupos políticos mais tradicionais da cidade?
O próprio candidato parece já ter admitido a sua derrota ao falar em vitória política, mas fez seu papel em lançar uma candidatura alternativa. Se o seu futuro será o limbo político ou o centro da vida política local, dependerá das suas ações nos próximos anos e principalmente da qualidade do seu discurso e propostas, que deverá representar fielmente o seu campo ideológico seja ela qual for.
*Mário Benning é analista político