Maratona parte II – O sprint da oposição – por Mário Bening*

Mário Flávio - 04.10.2012 às 08:51h

O desafio da oposição em Caruaru sempre se mostrou titânico, concorrer com um prefeito no cargo e que costurou um amplo leque de apoios, tarefa difícil, porém não impossível. Sabemos que as chances de reeleição são grandes, todavia não são absolutas, podemos falar de tendências, mas não podemos falar em inevitabilidade. Afirmar que um prefeito em reeleição sempre vence ou o maior tempo no guia se elege, são generalizações, pois afinal se isso fosse regra não precisaríamos de eleições, pouparíamos recursos e tempo.

No contexto

Maratona parte I – A corrida eleitoral de Zé Queiroz na campanha de Caruaru – por Mário Benning

Cada eleição tem a sua história e sempre temos, como afirmava Nelson Rodrigues, o Sobrenatural de Almeida, responsável por lances imponderáveis no futebol e porquê não também nas eleições. Essa talvez tenha sido a campanha eleitoral em que a oposição tinha um grande elemento a seu favor, o anseio de renovação. A opinião pública estava disposta a apostar numa candidatura nova, num rosto novo, que representasse a mudança na classe política, mas não apenas um personagem novo, também se desejava novas práticas de gestão, com o estabelecimento de metas e resultados, e que colocassem a administração municipal efetivamente no século XXI.

Bastava apenas à oposição encarnar essa personagem e colher esse votos, coisa que infelizmente nenhuma das duas candidaturas conseguiu, por razões diversas, e o voto da renovação não encontrou destino e retornou para a situação nessa eleição, adiando assim para 2016 a passava de bastão para uma nova safra de políticos. Para Miriam, até o momento com os dados que temos disponíveis, a situação passou de a favor a adversa, de líder durante pré-campanha assumiu, ao longo guia, o segundo lugar nas pesquisas. Cenário esse que foi mais consequência dos erros da sua coordenação do que mérito do seu adversário.

O que mostrou uma contradição visível, Miriam melhorou enquanto candidata, ficou mais à vontade, melhorando seu desempenho, obviamente que ela não tem a desenvoltura do seu marido ou do seu adversário, mas a sua campanha degringolou ou até mesmo a sabotou. Tal situação só pode ser explicada a partir de duas hipóteses: ou a sua equipe é muito amadora, situação que não me convence ou eles estabeleceram como meta além de eleger Miriam recuperar a imagem de Tony Gel, uma defesa do seu legado e a sua reabilitação. E com isso enrolaram o meio de campo enfraquecendo assim Miriam.

Além disso, temos outros elementos, tais como, era de se esperar que Miriam investisse maciçamente em um guia bem elaborado e propositivo, que seria o coroamento da sua campanha, já que durante a convenção e todo mês de julho a campanha do DEM, teve um ritmo mais leve e fluído, e também seria uma forma de compensar a sua inexperiência. O seu guia deveria ser propositivo e realçar as diferenças entre o que seria a sua gestão e a atual gestão, de mostrar as contradições de Queiroz, de municipalizar o debate de partir anulando estratégia de estadualizar ou mesmo nacionalizar o pleito, desenvolvida por seu adversário. Criticar sim, pois esse é o papel da oposição, mas o que ela errou foi o tom, ou o formato da crítica, que oscilou de individualizada, a pessoa de Queiroz transformando-o em vítima, a piegas e cômico, com o atualmente exilado Mané Lanca.

Mais um erro foi a insistência em situações pontuais, como a pedra ou o restaurante, pois seria isso o que Miriam tinha a dizer a Caruaru? Uma pedra ou um bar? Tal discurso reforçou o do seu opositor, pois se era somente isso que ela tinha a dizer significa afirmar que o restante da gestão estava bem. Atualmente em Recife, Geraldo Júlio faz campanha como oposição, critica a gestão e não o gestor propõe e arrebanha votos, seguindo o modelo de Eduardo, candidato da oposição a governador em 2006, falando de metas, eficiência e profissionalização da administração estadual.

Outro erro crasso da campanha foi a associação direta realizada entre Miriam e Tony Gel, através da qual ela assumiu o papel de participante numa gestão altamente rejeitada, com isso ela perda a aura do novo construída antes da campanha e absorve a impopularidade de Gel. Era possível fazer diferente já que ela é sua esposa?

Sim, temos um dois exemplos disso aqui em Pernambuco, em 1998 o Governo Arraes termina sobre a égide do caos, greve na polícia, salários atrasados e o seu neto, herdeiro e secretário, Eduardo Campos, batizado como Dudu dos Precatórios, oito anos depois ele é eleito governador. Para isso evitou ao longo da campanha qualquer menção ao governo do seu avô e quando o mesmo era acusado pelos desmandos de 1998 saía pela tangente afirmando que queria discutir propostas e não passado, deixando ao seu adversário o ônus atacar. Em Olinda Izabel Urquiza escondeu o nome da mãe, uma prefeita ficha suja, conta com um tempo de guia bem menor que o seu adversário, mas vem ameaçando seriamente a eleição de Renildo Calheiros.

Nessa reta final o desafio de Miriam, o seu Sprint passa a ser reverter à vantagem do seu adversário, e evitar o voto de manada, o eleitor que não quer perder o voto. E se for impossível vencer, mais pelo menos perder com a menor margem possível para ter assim uma oposição fortalecida logo no início do governo do seu adversário, uma derrota por largar margem arrasaria a oposição como em 2008, e forçaria seu grupo a ceder o controle da direita em Caruaru.

*Mário Benning é analista político