Presidente da Argentina, Alberto Fernández anuncia que não será candidato à reeleição nas eleições de outubro

Mário Flávio - 21.04.2023 às 19:10h

O presidente da Argentina, Alberto Fernández, anunciou nesta sexta-feira (21) que não será candidato à reeleição nas eleições presidenciais de outubro.

O país passa por uma grave crise econômica, mais uma vez. A Argentina vive acostumada à instabilidade econômica: em seus 40 anos de democracia, completados neste ano, atravessou nove grandes crises, algumas com anos de duração, e conserva hoje o mesmo PIB per capita também de 40 anos atrás. Em média, cresceu só 1% ao ano no período.

A desistência, incomum para um presidente, ocorre quase um mês após Mauricio Macri, presidente entre 2015 e 2018, fazer o mesmo movimento pela aliança de oposição Juntos pela Mudança. Macri havia tentado a reeleição em 2019, mas perdeu para Fernández. A poucos meses do pleito, a disputa ainda é considerada muito incerta.

Fernández fez o anúncio com um vídeo no Twitter – com a duração de 7 minutos e 42 segundos.

“No dia 10 de dezembro entregarei a faixa presidencial a quem for eleito nas urnas pelo voto popular”, disse Fernández na extensa e produzida gravação que conta com sua locução.

“Vou trabalhar para torná-lo um parceiro ou uma parceira em nosso espaço político que represente aqueles de nós que continuamos lutando por uma pátria justa com equidade para todos”.

Com a desistência, Fernández abre espaço para seus concorrentes dentro da aliança de esquerda nas prévias. Entre os nomes considerados presidenciáveis está o da atual vice, Cristina Kirchner, com quem ele frequentemente tem desconfortos.

Outro possível candidato pela aliança é o ministro da Economia, Sergio Massa. Um terceiro nome cotado pelo peronismo é o de Daniel Scioli, hoje embaixador da Argentina no Brasil.

No vídeo, o presidente ensaiou uma avaliação de sua gestão e reconheceu que sua gestão não alcançou o que foi proposto. “É claro que não conseguimos tudo o que nos propusemos a fazer. Os projetos e sonhos que não puderam se concretizar nos machucaram”, disse.

Ele sustentou que já recebeu um país endividado, em recessão, com alta pobreza e inflação, além de ter passado pela pandemia e pela guerra da Ucrânia. Mesmo assim, argumenta que construiu casas e fez obras públicas “como nunca”, ampliou os direitos das mulheres e “construiu pontes” na América Latina.

O mandatário justifica a crise pela forte seca que prejudica uma das principais fontes de renda para o país, as commodities, e também culpa os “especuladores de sempre que geram inquietudes, jogando com o dólar ilegal”. Por isso, diz, agora tem que se concentrar nos problemas dos argentinos.

Fernández insistiu na importância de definir quem será o candidato oficial através do processo de prévias do partido Frente de Todos e pediu que “todos os qualificados se apresentem para que a direita não volte”.

O presidente também enviou uma mensagem ao interior do partido Frente de Todos e especificamente ao kirchnerismo que, especialmente recentemente, o questionou e exigiu que ele desistisse de se candidatar à reeleição.

O chefe de Estado fez o anúncio público um dia depois de um dia tenso nos mercados. Dias atrás, confirmou-se que a inflação de março foi de 7,7%, a maior em 20 anos.

Segundo o Indec (IBGE argentino), cerca de 39% dos argentinos estão pobres.

O presidente da Argentina, Alberto Fernánde, cumprimenta o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto