Papa emérito Bento XVI pede perdão por abusos e erros cometidos pelo clero

Jorge Brandão - 08.02.2022 às 13:25h
Foto: Gregorio Borgia

O papa emérito Bento XVI pediu perdão nesta terça-feira (8) por “falhas graves” na forma que lidou com casos de abusos sexuais dentro da Igreja, mas disse não ter cometido qualquer irregularidade, após uma investigação independente ter acusado o alemão de acobertar casos de pedofilia na época em que era arcebispo de Munique.

“Tive grandes responsabilidades na Igreja Católica. Maior ainda é minha dor pelos abusos e erros que ocorreram nestes lugares diferentes durante o período de meu mandato”, disse. As falas de Bento XVI são uma resposta ao relatório de 20 de janeiro, feito por um escritório de direito a pedido da Igreja Católica alemã, sobre como casos de abusos sexuais foram lidados na arquidiocese de Munique entre 1945 e 2019. Bento, então cardeal Joseph Ratzinger, comandou a arquidiocese de 1977 a 1982.

O relatório independente publicado em 20 de janeiro deste ano afirma que o então arcebispo Joseph Ratzinger teria acobertado quatro casos de pedofilia na Alemanha mais de 20 anos antes de se tornar o líder da Igreja Católica. Os abusos aconteceram quando Bento XVI ainda era arcebispo de Munique, e o documento diz que padres pedófilos continuaram na Igreja e Ratzinger não impôs nenhuma restrição explícita às atividades deles nem iniciou qualquer processo interno de investigação.

O relatório também afirma que Ratzinger não teve interesse em falar com as vítimas ou cuidar delas e o máximo que fez foi transferir um dos pedófilos, mas o padre abusador continuou trabalhando na pastoral, com visitas a pessoas da comunidade. Quatro dias após a divulgação do relatório, Bento XVI admitiu que participou de uma reunião em janeiro de 1980, quando era arcebispo de Munique, sobre um dos padres acusados de abuso sexual de menores.

Nesta terça-feira, o Vaticano apresentou uma carta escrita por Bento com respostas às acusações, junto a uma resposta mais técnica feita por advogados e assessores. “Como arcebispo, o cardeal Ratzinger não esteve envolvido em qualquer ocultação de atos de abusos”, escreveram os assessores.

A resposta pessoal do papa emérito, por sua vez, teve um tom mais espiritual. Na carta, ele apresentou o que disse ser uma “confissão”, relembrando as missas que começam com fieis confessando seus pecados e pedindo perdão por suas falhas. “Vim a entender que nós mesmos somos levados a esta falha grave quando negligenciamos ou fracassamos em confrontá-la com a responsabilidade necessária”, escreveu. “Posso apenas expressar a todas as vítimas de abusos sexuais minha profunda vergonha, meu profundo pesar e meu pedido por perdão”.

Na investigação mais ampla sobre alegações de abusos na Arquidiocese de Munique entre 1945 e 2019, a investigação independente diz que houve ao menos 497 vítimas, principalmente jovens. No início de janeiro, um documento interno da Igreja Católica publicado pelo jornal alemão Die Zeit já havia sugerido que o papa emérito teria acobertado casos de abusos contra menores na década de 1980. Bento XVI nega conhecimento dos crimes à época.

O caso envolve um padre que teria abusado de ao menos 23 meninos com idades entre 8 e 16 anos. Um decreto da arquidiocese de Munique, publicado em 2016 e ao qual o jornal alemão teve acesso, mostra que a instituição criticou o comportamento dos clérigos, incluindo a inação de Ratzinger, diante dos abusos.

Bento XVI se tornou em 2013 o primeiro papa a renunciar em quase 600 anos e vem, desde então, mantendo uma vida privada no Vaticano. Em 2020, um jornal alemão revelou que ele estava em uma situação “extremamente frágil” e sofria com uma doença infecciosa no rosto.