Opinião – Vila do Juá no II distrito de Caruaru da escassez de lideranças ao abandono – por John Silva*

Mário Flávio - 14.02.2014 às 08:00h

Ainda no início do ano de 2013, alguns dias após eu ter rompido o ano com familiares de minha namorada na Palmatória, povoado bem próximo a Vila do Juá; escrevi um texto intitulado “Crimes e insegurança no II distrito de Caruaru, até quando esta situação?” sobre a ausência de segurança pública, na verdade relatei alguns fatos que vinham ocorrendo no II distrito em Caruaru, a maior parte deles roubos, assaltos naquela área. Pelo que tenho sabido nada mudou a ausência da policia, e da patrulha rural nas localidades que integram o II distrito em Caruaru, aliás, esta falta de segurança se estende aos demais distritos de Caruaru e comunidades rurais. Escrevia na época na esperança de chamar a atenção das autoridades municipais sobre o problema, e das autoridades policiais. Fui uma voz no deserto, mas minhas reflexões não param no aspecto da segurança, queria considerar rapidamente hoje três características especificas da vila do Juá: Educação, Política, e estrutura.

No Juá temos um prédio abandonado em uma área que é do Estado, na verdade se encontra caindo aos poucos, no passado gerações de filhos da terrinha estudaram lá, minha mãe estudou lá, meu pai, tios, pois á área que já foi uma escola, “grupo” como a população conhece deveria hoje ser uma escola de nível médio, escola que não existe no II distrito, e é pauta da comunidade há muito tempo, o resultado é que todos os anos quem deseja concluir o ensino médio deve se deslocar ao centro de Caruaru todas as noites. Se não bastasse, área circunvizinha ao antigo “grupo” escolar Jô Juá, foi à bem pouco tempo invadida irregularmente movimento incitado por certo “educador” do Juá, sorte que nem o estado, nem o Ministério Público foram acionados ainda.

O que dizer do Matadouro público, onde trabalham meus primos, o mais conhecido entre eles é Ginaldo. Outro dia quando visitava o Juá, pude perceber rapidamente como a estrutura estava defasada com o passar dos anos, é mais um lugar abandonado pela Prefeitura Municipal, lembro que há um tempo a população inclusive estava na TV falando sobre a situação. Tradicional é o açougue do Juá, meu avô Branco nos tempos áureos trabalhou por lá, olha que meu avô tem quase 90 anos, e o prédio também precisa de melhorias em sua estrutura.

E o centenário cemitério do Juá sua última ampliação remonta o inicio do século XX, acho que 1905, de lá para cá, muitos de meus familiares, meus bisavôs, e tantos outros familiares de muitas outras pessoas se apertam por lá, a vila cresceu, mas o cemitério parece que parou no tempo, tanto já se falou em sua ampliação, 4 gestões municipais já registraram o discurso de ampliação, recentemente há mais de 1 ano a prefeitura tentou comprar área próxima ao cemitério, uns dizem que ela comprou, outros não. Mas enfim, o problema ainda continua lá e todo dia de finados eu e muitos outros presenciamos a superlotação do cemitério.

A infraestrutura na Vila do Juá, não é das melhores, as duas pracinhas que existem, uma esta às claras porque fica no centro do lugar a outra já se encontra esquecida, sem iluminação, aos cacos. Aliás, iluminação pública que é deficiente em todo o II distrito. Enquanto a prefeitura esta revitalizando as praças do centro de Caruaru, até construindo novas como no caso da próxima a conhecida rua São Paulo, outras da periferia e também nas comunidades rurais estão há décadas no abandono. Não posso esquecer também de falar na falta de um plano diretor atualizado para a cidade e que efetivamente seja posto em prática, assim como em muitos outros lugares a Vila do Juá nos últimos 10 anos vem crescendo de forma desordenada, já são inúmeras as habitações, as novas ruas, sem condições básicas calçamento, saneamento e água encanada. Este último item chegou há pouco tempo, eu particularmente acredito que o Juá foi uma das últimas comunidades a ter água em Caruaru, e um pedido que atravessou gerações, se na época de minha mãe o poder público em Caruaru não fosse atrasado, talvez ela hoje não sofresse as consequências das latas de água que carregou na cabeça com minhas tias a longas distancias.

Penso que este abandono que vem sofrendo a Villa do Juá e outras comunidades em Caruaru são ocasionadas ou pelo envelhecimento das lideranças locais, ou pela falta de lideranças capazes de otimizar as relações com a população e trazer mudanças esperadas nestas áreas. Exemplo, disso é a Vila do Juá que na vida pública de Caruaru já se destacou por sua forte efervescência política, como poucas comunidades rurais em Caruaru, vereadores como: Vanderley Oliveira, nas décadas de 1970, 1980, emplacou 5 legislaturas na Câmara, era campeão de votações no Juá, além do conhecido farmacêutico Genésio Guedes que na década de 1980 exerceu mandato de vereador.

O último do rol de vereadores do Juá é Lourinaldo Florêncio de Morais, conhecido como “Louro do Juá”, que no inicio dos anos de 1990, ascendia à vereança em Caruaru, muito creditado pela população do Juá, ao passar dos anos tornou-se “Persona non grata” da comunidade, através de episódios como o da venda da ambulância do Juá, os mais de 30 mil reais em dinheiro público gastos sem finalidade pública, ou seja, indevidamente na legislatura de 2006, e mais recentemente com a Operação Ponto Final onde ele, Val do DEM e mais 8 vereadores são suspeitos de concussão (ato de exigir para si ou para outrem, dinheiro ou vantagem em razão da função pública, direta ou indiretamente), corrupção passiva e organização criminosa.

Sombra da ausência de lideranças na Vila do Juá é que o último vereador citado na eleição de 2012 teve números muito baixos nas urnas perdendo para Joseval do DEM, mais conhecido como “Val”, que não possui história de envolvimento e enraizamento junto à população do Juá, o que moveu sua campanha foi o fator financeiro. Agora, o que resta a mim, a meus familiares, amigos, colegas a população em geral do II distrito é aguardar pelos “movimentos da História”, uso um termo de historiador para traduzir um ditado popular: “Rei morto, rei posto”.

*John Silva – É professor formado pela FAFICA, mestrando em História pela UFPE, Presidente da Associação dos Moradores do Severino Afonso, Presidente da JPSD Pernambuco e ex-líder do Centro Acadêmico de História Luzinete Lemos.