Que a política no Brasil, de um modo geral, por seus (e nossos) representantes, está ligada aos mais diversos interesses não é nenhuma novidade para ninguém. Infelizmente, aqui o escândalo não choca o quanto deveria. É noticiário cotidiano. Ainda assim, poucas foram as vezes que uma conexão escusa se desnudou de modo tão cru como recentemente com a divulgação das escutas telefônicas que captaram uma série de ligações entre o senador Demóstenes Torres (antigo DEM, agora sem partido – GO) e o bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Demóstenes, que era tido como um dos mais ferrenhos críticos aos casos de corrupção revelados envolvendo seus pares do Congresso Nacional, se viu com as calças na mão depois do Brasil conhecer a relação promíscua que ele mantinha com o referido empresário da jogatina ilegal. Com efeito, as conversas reveladas expuseram uma relação asquerosa, uma subordinação típica de uma meretriz com o seu cafetão. Discutindo de aprovação de projetos a pagamentos de “gorjetas” de um milhão de reais, os diálogos assanharam a poeira que uma parte da comunidade política insiste em varrer para baixo do tapete: a influência criminosa dentro do Congresso Nacional.
Isso é um assunto muito sério. Sabemos que apesar da Constituição atribuir o Poder única e exclusivamente ao povo, que deve exercê-lo em um contexto efetivamente democrático, a realidade vem nos mostrando que o Poder Político no Brasil tem um preço e pode ser de qualquer um que se disponha a pagá-lo.
Um senador que serve a um bandido causa mais dano a um país do que mil bandidos juntos. É por isso que casos como esse não devem nunca ser considerados como apenas “mais um caso de corrupção” ou “uma simples quebra de decoro parlamentar”. Isso é caso de polícia, de justiça e de prisão. Enquanto estivermos acostumados com a inércia diante do errado o injusto não vaiperder a oportunidade de nos dar um banho de água fria numa cachoeira de casos de devassidão política.