Achei engraçado o furor – e o feedback instantâneo – que a cobrança do vereador Jajá provocou em relação às mortes de mães e bebês na Casa de Saúde Bom Jesus. As secretárias – legítimas e de consideração – e demais integrantes de um tal de Conselho Municipal das Mulheres – logo subscreveram o documento intitulado “Carta aberta pela autonomia das mulheres”, enviado à imprensa. Li e achei uma graça.
Não concordo com ofensas, nem com bravatas de quem quer que seja, mas achei que o documento em tela merecia uma resposta, afinal sou mulher, “autônoma” e mãe. Segue a resposta publicada no Blog do Mário Flávio:
“Autonomia das mulheres é poder ter seu filho numa maternidade pública sem que ele morra, ainda na barriga, por negligência e completa falta de interesse do médico pelo paciente. Autonomia das mulheres é poder dar à luz sem morrer por barbeiragem. Autonomia das mulheres é ser atendida numa unidade pública, com sangramento, em claro abortamento do feto, com todos os cuidados possíveis – como eu não tive a chance de ser, por culpa de médicos medíocres e descompromissados. Autonomia das mulheres é levar seu filho a uma UPA e ter certeza de que o medicamento que o médico vai indicar é o correto e não vai matar sua criança.
Parabéns, Jajá, pela sua cobrança. Todas as mulheres, principalmente essas, das secretarias, deveriam promover protestos e passeatas, se colocarem radicalmente contra e lutar para que essas situações não mais ocorram. Não concordo com ofensas a seu ninguém, mas só vai ter meu respeito quem, ainda mais imbuído de cargo público e em situação de gestor, fizer algo para mudar isso. Recado de mulher, mãe e jornalista indignada com a falta de atitude do governo – e da sociedade – com relação a tantos “assassinatos” de inocentes por falta de compromisso e interesse de quem foi colocado lá para atender ao povo.”
O Conselho, de cuja existência fiquei sabendo só agora (pelo visto suas movimentações têm sido um tanto tímidas), deveria se preocupar menos com brios ofendidos e mais com o direito que a “autonomia das mulheres” conquistou: o de escolherem ser mãe. Ou não. O que não dá é só tomarem uma providência quando uma “amiga” foi cobrada, ainda que não da forma mais adequada, em plena sessão pública (e amplamente repercutida) da Câmara. Em vez de protestarem contra uma cobrança – que não está de todo despida de mérito – que tal protestarem contra a morte desses inocentes? Isso também é tarefa legítima, arrogada pela autonomia conquistada pelas mulheres.
Gabriela Kopinits é jornalista*