Opinião – Seria Cômico se não fosse Trágico – por Mário Benning*

Mário Flávio - 15.03.2013 às 10:55h

A Câmara Municipal de Caruaru foi palco essa semana de uma cena que seria cômica se não fosse trágica, quando os nossos nobres representantes, na ausência de matérias para serem analisadas, ou dos valorosos requerimentos a serem aprovados, aproveitaram o espaço para discutir futebol. O interessante é que o tempo gasto nesse ócio criativo foi o mesmo que faltou para apreciar com mais zelo o PCC dos professores, para discutir o avanço da seca na zona rural ou as recomendações negativas do Tribunal de Contas tanto ao aterro sanitário, quanto aos indicadores da rede municipal de educação.

Tal fato só reforça a percepção de que a atual legislatura está sendo muito eficiente, nesse começo de mandato pouco mais de três meses, em produzir uma agenda negativa manchando a imagem da Casa perante os caruaruenses. Nessa legislatura tivemos um aumento quantitativo no número de vereadores, contudo ao mesmo tempo uma sensível queda na qualidade. Se na legislatura anterior havia pelo menos a intenção em demonstrar um zelo com a coisa pública, em recuperar a imagem desgastada da Casa, principalmente após o escândalo da participação em falsos congressos, das verbas indenizatórias entre outros; a atual composição parece empenhada em por abaixo o pouco que foi conseguido.

Esse cenário tenebroso teve início logo na posse, quando a larga maioria dos vereadores protagonizou uma cena vergonhosa, acatando de maneira pacífica e subserviente a intervenção da prefeitura na indicação da presidência e na composição da mesa diretora, inclusive tomando conhecimento dos “ungidos” apenas poucas horas antes da posse e da eleição dos mesmos; demonstrando claramente que a tônica da relação entre o executivo e o legislativo municipal seria uma relação marcada pela subordinação e passividade.

O desgaste cresce e se avoluma, quando os recém-empossados têm a oportunidade de fazer a diferença numa matéria extremamente controversa aprovada no apagar das luzes do ano passado, o aumento das remunerações do executivo e do legislativo, ambos vetados pelo prefeito. O acatamento do veto sinalizaria para os demais membros da sociedade, que a Câmara estaria disposta em criar pontes e construir diálogos com a sociedade organizada. Todavia os nossos legisladores demonstraram claramente a sua indiferença em relação à opinião pública ao derrubaram o veto, indignando amplos setores da cidade, mas deram um atestado de incompetência, pois aprovaram o aumento para depois descobrir que não poderiam arcar com o mesmo, em virtude dos limites da Lei de Responsabilidade Fiscal.

O bater cabeça do legislativo prosseguiu com a meteórica aprovação do polêmico PCC da educação, no qual os mesmos confirmaram que aprovaram sem ler e partiram para uma defesa canina do executivo, elencando o mérito do projeto e os avanços do mesmo para a educação municipal, apesar do choque da matéria aprovada cegamente com princípios do direito administrativo e das dificuldades que o mesmo impôs a vida acadêmica do professor, demonstrando, infelizmente, que a Câmara aprovará qualquer matéria enviada pela Prefeitura, não importando o quão polêmica, ou nociva ela seja.

Nesse caso, houve desgaste para o executivo, autor da proposta, porém o ônus maior ficou para a Câmara, pois na esteira da repercussão negativa, a prefeitura admitiu os erros e vícios no processo e abriu as negociações; porém os nossos vereadores continuaram a dar declarações contraditórias e defender a maneira como o trâmite ocorreu e o valor do projeto, quando a própria prefeitura já começava a modificá-lo. Porém o empenho dos nossos vereadores em afundar o legislativo municipal parece não ter limites, os mesmos ainda não compreenderam que não importam as estratégias usadas para serem eleitos, o quão sui generis foram as suas campanhas, no momento em que tomam posse, durante os próximos quatros anos dentro ou fora do plenário da Câmara, os mesmos se tornam a voz da cidade, representando mais de 300 mil pessoas. No exercício dos seus mandatos se exigem a prática do decoro e a liturgia do cargo, condições indispensáveis aos ocupantes de cargos públicos, pois com tais recursos os eleitos demonstram que respeitam o poder que foi outorgado pela população.

O caso do deputado Tiririca é um exemplo, em sua campanha o mesmo apelou para a comédia e o escracho, porém após a posse o mesmo vem tendo uma atuação irretocável na Câmara Federal. Ao usarem o espaço do plenário para fazerem comentários ou piadas de gostos duvidosos ou debaterem futebol, arriscam cruzar o limite tênue entre a informalidade e a inconsequência e desrespeitam tanto o cargo, quanto a população. Assim, os nossos representantes alargam ainda mais o fosso existente entre a Câmara e a sociedade Caruaruense, reforçando a percepção que os mesmos não merecem ser levados a sério. Se nesse curto espaço de tempo a Câmara está antecipando o que vem pela frente nos próximos quatros anos, nos fornecendo um aperitivo, que Deus tenha misericórdia de Caruaru.

*Mário Benning é professor no IFPE e analista político