Coluna publicada no Jornal Vanguarda
Rousseau defende em suas obras que a sociedade degenera o homem, que era bom no estado de natureza e torna-se ruim e egoísta quando cede aos apelos do poder e conquista a propriedade privada. Para o pensador genebrino, o homem era bom por nada ter de seu e, ao mesmo tempo, possuir tudo, por partilhar todos os bens com a sua comunidade. No mito do bom selvagem, o filósofo defende que o homem era feliz antes da cidade e do Estado, mas agora que foram criadas estas “conquistas” já não podem mais ser apagadas e temos que viver da melhor forma: em um Estado democrático em que democracia seja exercida de forma direta, respeitando-se a vontade de todos.
Rousseau disse que só o compreenderiam duzentos anos depois de sua obra ser escrita e, analisando o guia eleitoral, não há como deixar de lembrá-lo. O guia dos candidatos a vereador nos dá a certeza da nossa degeneração social, pois parece um tétrico quadro de humor em que figuras esquisitíssimas aparecem. Como as nossas cidades cresceram e o nosso Estado se tornou demasiadamente complexo, a nossa democracia não dá para ser exercida de forma direta, mas através de nossos representantes e o vereador é o político mais perto do povo.
Quando assistimos a candidatos que só dão vexame em público nos perguntamos quem é que tem condições de nos representar de fato. Em um país em que Tiririca, palhaço de circo e analfabeto, foi um dos deputados mais votados, imaginamos a qualidade dos vereadores eleitos em nossas cidades. Precisamos exercer o nosso direito de voto da melhor forma possível e protestar contra uma sociedade corrupta em que a vontade de todos não é respeitada, elegendo uma dessas figuras para edil do nosso município, é, no mínimo, um grande sinal de burrice.
Se Rousseau vivesse hoje e assistisse ao guia eleitoral iria, com certeza, comprovar a sua tese e defender um doutorado com distinção. Duzentos anos depois do Iluminismo ainda não conseguimos iluminar a nossa sociedade e, eleição após eleição, continuamos no degenerando por escolhermos mal.
Rita de Cássia Souza Tabosa Freitas
é doutoranda em Filosofia dos Direitos Humanos
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