Um fato sempre recorrente nas eleições municipais é o atrelamento das candidaturas locais ao Governo Estadual. Assumir o papel de candidato do governador, seu ungido, já é parte habitual das campanhas por todo o estado. Em Caruaru não poderia ser diferente, foi assim com João Lyra e Arraes, Tony Gel com Jarbas e na última, Queiroz com Eduardo. Tão forte é esse atrelamento que os grupos políticos da cidade também se dividem, ocupando palanques diversos, com a oposição e situação local, geralmente apoiando candidatos opostos, em troca de suporte nas suas disputas futuras.
Sempre foi assim e continuará sendo por um bom tempo. O que diferencia esse momento dos anteriores, é que talvez em nenhuma fase anterior da nossa história, o cenário político caruaruense esteve tão diretamente atrelado ao pleito estadual. Com a montagem das chapas para governador embaralhando e bagunçando o tabuleiro político em Caruaru.
A primeira e mais falada é a possibilidade do lançamento de João Lyra como candidato a governador. Vindo a se concretizar essa candidatura, e a sua eleição, teremos o fortalecimento do seu grupo de forma exponencial. João teria a sua disposição vários instrumentos que permitiriam anular o peso da máquina municipal e atrair para a sua esfera de influência várias lideranças que hoje orbitam José Queiroz.
Bem como teria um papel imensurável na próxima eleição para prefeito. Todavia mesmo que João não seja o escolhido, mas se ocorrer uma vitória do PSB, ainda assim ele teria como manter, e até mesmo reforçar, o seu espaço na cidade. Contudo essa não é a única possibilidade a impactar na cidade. Nos últimos dias circulou pela mídia estadual a alternativa de Queiroz como candidato a vice na chapa de Armando Monteiro.
Mesmo com o atual desgaste da gestão, o prefeito tem um capital de votos e uma história política que o gabarita a ocupar a função. Esse fato, se materializado, provocaria uma ruptura colossal nas correlações das forças locais. Se vitorioso, Queiroz, anabolizaria o seu grupo político e restringiria a margem de manobra dos seus adversários por um bom tempo, pois ele ascenderia a uma posição de destaque eclipsando os seus principais oponentes na cidade.
E de quebra ocorreria à ascensão de Douglas Cintra ao Senado, e a possibilidade de lançar seu filho, Wolney Queiroz, como candidato a prefeito já em 2016. Manteria também ainda a sua influência na máquina municipal através do seu vice-prefeito, Jorge Gomes. E se o resultado for adverso, ele embaraçaria os planos de Raquel Lyra de disputar pelo PSB, já que Jorge Gomes seria candidato natural à reeleição.
Mas, depois de todo esforço que Eduardo dispendeu em prol de Queiroz na última eleição ele poderia ou deveria trocar de lado? Claro, afinal nunca e jamais são palavras que não existem na política. E tal ato não deverá de maneira nenhuma estar associada a uma traição, pois buscar por espaço e por visibilidade fazem parte da atividade política. Se Eduardo pode romper com o PT e Lula, porque Queiroz não pode fazer o mesmo? O próprio prefeito também já adiantou a senha para, se necessário, se esquivar do apoio imediato ao candidato do governador.
Ao condicionar o alinhamento a um consenso da frente que ele comanda. O apoio que era automático está virando um provável e no futuro próximo, quem sabe, uma negativa. E para tal fato o prefeito contará com uma série de argumentos a seu favor. Poderá dizer que o seu partido, PDT, fechou apoio a Dilma e o PT, e ele como um homem de partido está obrigado a seguir. Também alegará que Eduardo se aproximando da direita para conseguir viabilizar sua candidatura a presidente, afastou-se das esquerdas, das ideologias.
E ele permanecerá fiel ao seu credo político e ao presidente Lula, que também apoiou a sua reeleição e fez vultosos investimentos na cidade. Não terá sido ele a abandonar o barco, mas o Governador que em busca de um projeto pessoal rompeu com a frente que o elegeu, reelegeu e apoiou a sua gestão. Argumentos é que não faltam, e é bom lembrar um dito popular: “quando a pessoa não quer, qualquer desculpa serve”. Entretanto todos esses cenários são teorizações, abstrações, que podem ou não ocorrer.
Teremos que esperar março de 2014, pois só nessa data saberemos as parcerias mantidas e as rupturas efetivadas. E como dizia Magalhães Pinto, política é como nuvem, você olha está de um jeito, e daqui a pouco está de outro. Afinal como disse o Senador Armando Monteiro à sucessão estadual passa por Caruaru, e completando, poderá não deixar pedra sobre pedra.
*Mário Benning é professor e analista político