Opinião – Queiroz 4.0 – por Mário Bening*

Mário Flávio - 24.10.2012 às 08:30h

Findo o processo eleitoral, resultado contabilizado e amplamente divulgado, naturalmente começaram a aparecer nas mídias inúmeros pronunciamentos de correligionários do prefeito bradando sobre a vitória folgada e esmagadora de Queiroz. E de como a sua reeleição, apesar do início adverso era inevitável, como se a mesma fosse favas contadas.

Na realidade, agora que a poeira assentou e os ânimos, antes tão exaltados, se amainaram, nos permitem afirmar que o processo não foi tão simples, tranquilo e definido assim, pois pelo menos durante boa parte do processo eleitoral havia a real possibilidade de uma vitória da oposição. Essa linha de raciocínio é corroborada ao lermos a entrevista do prefeito ao Jornal Vanguarda, logo após a eleição, na qual o mesmo afirma que o resultado do pleito só ficou definido, claro, em suas pesquisas internas, no final de setembro.

Ora, por que uma campanha que contou com tantos apoios, que superou no marqueting seus adversários, que tinha um lastro financeiro superior, o domínio da máquina pública e que teve como desafiantes dois candidatos inconsistentes, só conseguiu consolidar a vitória no final de setembro? A explicação simples, o que nem a situação e nem a oposição conseguiram captar em nível local, é que a reboque do que vem ocorrendo nos grandes centros do país, vem emergindo um novo tipo de eleitor, com novas demandas e exigências menos ideológica e mais pragmática.

Com os avanços sociais ocorridos, principalmente nos últimos anos, através da valorização do salário mínimo, do crescimento econômico, dos programas sociais como: PROUNI, FIES, entre tantos outros, o Brasil conseguiu aumentar a sua classe média em todo território nacional. Classe média essa, que hoje puxa o consumo e que passou a exigir dos seus governantes, que desenvolvam ações que impactem positivamente em seu cotidiano, já que a mesma detém o básico e almeja: educação, saúde, lazer, mobilidade e responsabilidade com a coisa pública.

A emersão de uma nova classe média no Brasil como fator novo, embolou o processo eleitoral no país como um todo, bagunçando as pesquisas eleitorais com a indecisão e volatilidade do voto, deixando para definir nos últimos momentos do processo, um voto que por ser local, é menos ideológico. Nesse quesito, se procura um gestor, que independente de ser filiado à esquerda ou direita, promova uma melhoria significativa em sua qualidade de vida. Essa nova classe média estreou em Caruaru nessa eleição e não foi percebida claramente nem pela situação, em sua gestão, e nem pelas oposições em suas campanhas, que pregavam para as classes D e E.

Foi essa nova classe que atormentou e rejeitou o governo Queiroz ao longo do seu mandato e que estava pronta para apoiar uma candidatura nova, e que teve que ser reconquistada pelo prefeito. A prova disso é que a aprovação da atual gestão, diferentemente das avaliações dos governos federal e estadual que recebem: ótimo e bom, patinou ao longo do mandato sempre no regular, mediano, no limite da reprovação.
Foi esse eleitor insatisfeito com a administração, que na reta final, refluiu para Queiroz, diante da incompetência da oposição em apresentar um modelo de gestão plausível.

Queiroz recebeu o voto de prevenção, ou seja, uma parte do eleitorado votou nele para evitar o mal maior, se com ele está ruim, com os outros seria o desastre… Essa percepção é referendada pelo próprio núcleo duro da gestão, ao decidirem imprimir um novo rumo para a administração municipal logo no pós-pleito, ao anunciarem uma transição e um novo modelo de gestão. Caruaru será a cidade onde avião atola, prefeito renuncia para ser vereador e agora prefeito reeleito faz transição. Algo impensável num governo reeleito, afinal se foi reeleito para que transição? Se foi reeleito, não é porque foi bem avaliado? Seriam necessários nesse segundo mandato apenas pequenos ajustes ou uma reinvenção da gestão?

O que demonstra que embora comemorada a vitória publicamente, nos bastidores o momento é de pensar e repensar os próximos quatros anos.
Afinal Queiroz não quer governar sobre fogo e rejeição o próximo mandato, e para isso ele terá que entregar o que foi prometido em 2008 e postergado nos últimos quatro anos, uma máquina pública eficiente, comprometida com resultados e com sensibilidade social. Daí essa urgência em reinventar a estrutura da prefeitura de Caruaru, e com os frutos dessas ações ser o principal ator político local, que só conseguirá navegar essa frente pesada de partidos se estiver escorado por uma gestão bem avaliada, que o blindará dos ataques da oposição, como Eduardo Campos em nível estadual.

Para isso é necessário conquistar efetivamente o apoio desse eleitorado novo que, a cada eleição, com o aumento da renda e da escolaridade, tenderá a transitar a zapear pelos grupos políticos locais sem uma fidelidade carnal, como no passado, mas sim de acordo com os resultados das administrações e dos programas de governo. Esse é o grande desafio da quarta gestão do prefeito, pois o discurso da herança maldita já está exaurido e não funcionará nos próximos quatros anos se a máquina travar.

*Mário Bening é analista político