Um dos fatos mais comemorados na última eleição, além da vitória do prefeito, foi a formação de uma bancada elástica para a situação na Câmara Municipal, 16 vereadores num total de 23. Com esse quantitativo a Prefeitura contaria com maioria absoluta para votar as matérias do seu interesse sem nenhum sufoco. Seria assim evitado o desgaste entre Câmara e Prefeitura tão frequentes na legislatura anterior. Também mereceu destaque na época o perfil da bancada, que seria mais manobrável que a anterior; pois teria uma grande quantidade de vereadores inexperientes, de primeiro mandato.
Mesmo que alguns aliados fiéis do prefeito não tenham concorrido, ou até mesmo não se reelegido, como Adolfo ou Bruno Lambreta, a percepção dos articuladores do executivo era que essa bancada seria mais sensível aos apelos do Governo. Até mesmo dócil ou submissa, já que não tinham em sua composição nenhum membro com vocação para independência, como Lícius Cavalcante ou Rogério Meneses.
Nesses primeiros seis meses a bancada foi fiel e aprovou tudo o que era do interesse da Prefeitura, da composição da mesa diretora ao famigerado PCC da educação. Todavia nos últimos dias estouram nos bastidores vários sinais de insatisfação da base, que deverão acender o alerta na articulação política do Governo. Afinal aquilo que era considerado sólido, a maioria na Câmara, dá sinais de estar se desmanchando no ar, com a pequena traição dos vereadores na votação da regulamentação do transporte coletivo o que concretizou a primeira derrota da Prefeitura na Câmara.
Ainda não estão claros todos os motivos dessa rebelião pontual, se ela vai se estender a outras votações ou ampliar o número de insatisfeitos, mas que há sinais inequívocos de desgaste na relação da base com o executivo isso há. Nesse processo, porém alguns elementos ganham corpo e afloram entre os quais destacamos:
A desarticulação do Governo, desde a primeira votação do projeto é evidente o bate cabeças entre o líder do Governo e o Vice-líder, que não falavam a mesma língua, e demonstravam claramente que não estavam a par das articulações para a votação da matéria. Se não fosse pela experiência do Presidente da Casa em interromper a sessão, mesmo que com esse ato tenha flertando com o desrespeito ao regimento, à matéria teria sido derrotada na semana passada.
Como se coloca uma matéria relevante pede-se urgência e não se tem certeza da sua aprovação? Por que a eminente derrota semana passada não serviu de alerta para que os articuladores do governo caíssem em campo e dessem ordem unida à base?
Essa rebelião de Sivaldo, Cecílio e a relação dúbia de Neto, foram deflagrados por que motivos? Como vereadores da situação que nunca emitiram nenhuma declaração contra o governo, junto com um que teoricamente é oposição, Neto, embora alardeie frequentemente suas boas relações com o governo ,provocam a derrota do governo em um assunto vital?
Eles migraram para a oposição e vão devolver os cargos na máquina ou querem mais espaço? Estão insatisfeitos com a divisão da bancada em Alto Clero, com vereadores que possuem canal aberto com o Prefeito e membros da sua equipe, e o baixo clero com vereadores que são olvidados pelo executivo municipal? Há algum motivo ainda não revelado?
Nos próximos dias Caruaru estará ansiosamente aguardando a fala dos vereadores para que os mesmos justifiquem os seus votos para a sociedade, e expliquem como pretendem sair da sinuca de bico em que se encontram. Por que o ato de rebeldia deles só contemplam três explicações: primeiro votaram contra por discordarem do projeto e assim estarão comprando briga com a Prefeitura, pois ratificaram todas as críticas da oposição. Segundo, votaram contra para serem “ternurados” pelo prefeito e receberão o rótulo de fisiologistas e se desgastarão com a cidade e com demais membros da bancada. E uma terceira hipótese que foi divulgada pelo Vereador Cecílio no pós-votação, que eles cederam aos argumentos das atuais empresas de ônibus não interessadas na nova legislação municipal.
Mesmo tendo despertado a sede de sangue do executivo, com o líder do Governo ameaçando os rebeldes com a fúria do prefeito, a chance de sofrerem uma sanção mais séria é mínima. Pois quaisquer punições aos infiéis os jogarão nos braços da oposição, e a prefeitura necessita dessa maioria nos próximos anos. Queiroz terá que engolir a bucha e manter as aparências até o momento em que possa descartá-los, pois é melhor um inimigo declarado do que um aliado não confiável.
Tal quadro só nos permite realizar uma conclusão, que embora a prefeitura possua maioria na Câmara, a sua bancada é qualitativamente inferior à oposição. Dizemos isso porque em que situação dezessete ou dezoito vereadores são eclipsados por apenas cinco? É bom Queiroz ter cuidado, pois como diz o ditado popular, “cesteiro que faz um cesto faz um cento é só ter cipó e tempo, afinal para trair e coçar é só começar”. Já que a sua sólida base está mais para um castelo de cartas, que ameaçará cair nas votações importantes se os interesses pessoais forem contrariados ou se o lobby entrar em campo.
*Mário Benning é analista político