A pandemia nos afetou bastante mas, finalmente e aos poucos, a vida normal volta ao seu rumo. Já na próxima semana, os passos seguintes para a retomada do comércio em Caruaru serão tomados e a principal atividade econômica de nossa cidade voltará a respirar e a fazer Caruaru respirar.
A atividade empresarial – especialmente o comércio – sempre foram e ainda são de suma importância ($$$) para o bom funcionamento dos serviços públicos – estes que, hoje em dia, são tão exigidos pelos cidadãos caruaruenses.
Mas UM DOS SERVIÇOS ESSENCIAIS à população não voltará tão cedo: ESCOLAS – exatamente porque seu modelo de operação é o que apresenta MAIS RISCOS para a disseminação do Coronavírus: muitas pessoas, fechadas em uma mesma sala, aglomeradas, por 4 horas ininterruptas todos os dias.
Por mais precauções que se tomem, sejam máscaras, luvas e banho de álcool gel, o tamanho e o tempo longo de aglomeração nas salas de aula são realmente perigosos.
A “solução” (prefiro chamar de “gambiarra”, essencialmente quando falo do ensino infantil e fundamental) que se deu foi tentar levar a escola às casas por meio de aulas remotas (não, aquilo lá não é EAD, não é Educação à Distância): um fiasco! Um engodo!
Algumas escolas tradicionalmente bem estruturadas, como as melhores escolas particulares da cidade, as “aulas” começaram a ser fornecidas em tempo recorde, e com eficácia razoável. Pouco se perdeu, mas houve, sim, perdas.
Foi possível, inclusive, atingir um público numericamente expressivo porque quase todos os alunos dessas escolas particulares (senão todos eles) têm acesso à Internet de qualidade o tempo todo em suas casas!
A minha principal fonte de preocupação está no ensino municipal de Caruaru – em especial, NAS CRIANÇAS E JOVENS que são atendidos por esta rede de ensino – sem querer, aqui, colocar culpa em gestão, secretaria, diretores e/ou professores em si.
Quantas destas crianças têm acesso à Internet capaz de suprir suas aulas em casa (pelo Youtube)? Quantas crianças são atendidas pela TV Câmara (que foi bem projetada, mas, pela legislação e pela execução, nem chega à Zona Rural ou mesmo a alguns bairros como as Rendeiras).
Essas crianças vão ficar DESASSISTIDAS assim mesmo? Como se “basta fazer a gambiarra sem verificar se ela está sendo efetiva”? Na minha terra, isso não é SOLUÇÃO, isso é chamado de “UM CALA-A-BOCA”.
Se não foi possível entregar o KIT DE MERENDA a todos os alunos (o que é, convenhamos, uma tarefa bem menos complexa de planejar, controlar e executar), o que dizer das aulas (a entrega do conteúdo), planejamento, garantia de qualidade, abordagem – que é a atividade essencial da escola?
Como garantir que estas crianças realmente estão adquirindo o conhecimento e as competências necessárias com essa “nova forma” de entregar o conteúdo escolar? (se, muitas vezes, nem na forma tradicional eles adquiriam essas competências).
O que fazer? (a partir daqui, é OPINIÃO MINHA, ok?)
Não dá para manter o sistema “remoto” por muito mais tempo na rede municipal: há bem menos controle nas competências adquiridas e na efetividade do aprendizado.
Ou seja, os professores e gestores fingem que o conteúdo está sendo dado e os alunos fingem que o estão adquirindo (o que, em alguns casos, já acontecia, falemos a verdade).
Não dá pra voltar agora… seria aglomeração demais. Teríamos um outro pico do número de casos em Caruaru, podendo levar a outras medidas de contenção e bloqueio que voltariam a prejudicar o funcionamento da cidade (e a vida dos indivíduos) por mais algum tempo.
Não dá para pedir afastamento físico, porque turmas de 40 alunos deveriam ser divididas em 2 ou 3 turmas de 20 a 13 alunos (e não tem sala suficiente para isso).
Aliás, já faltam salas há algum tempo: em algumas escolas, da zona rural especialmente, há várias turmas (3º, 4º, 5º anos) que dividem a mesma sala física – e a mesma professora… É deprimente, mas é real. E, em outros casos, temos salas cujos tetos CAEM, né?
O que fazer, então? (MAIS OPINIÃO MINHA!)
Minha sugestão de solução é clara e gera estranheza e repulsa por parte de alguns: se demorar para voltar, tipo: Agosto, Setembro, que tal pensar em ANULAR ESSE ANO LETIVO para a rede municipal de Caruaru?
Se demorar para voltar, interrompam este ano letivo, desconsiderem-no, No início do próximo ano, as crianças começarão exatamente na mesma série em que começaram neste ano.
“Ah, mas vão perder UM ANO DE VIDA ESCOLAR”
É bem melhor que considerar esse ano válido sem que as crianças tenham efetivamente aprendido o que deveria ser aprendido.
“Ah, mas as redes privadas não vão anular, nossos alunos da rede municipal vão ficar mais defasados e a desigualdade de condições vai aumentar em relação aos alunos da rede privada!”
E você acha que um aluno que NÃO SABE ler direito ou NÃO SABE raciocinar matematicamente, ou que não obteve o conteúdo que deveria adquirir estará “menos desigual” só porque continua passando de ano e avançando nas séries escolares para “poderem fazer o ENEM” mais cedo?
Todo mundo acha que a criança/jovem tem que fazer o ENEM aos 16, 17, 18 anos? Não seria melhor fazer o ENEM quando estivesse preparado para enfrentá-lo de verdade? Ou “qualquer curso serve”? Ou “o importante é ter um diploma” (mesmo que não se saiba o que estudou)?
“E vão ficar ‘sem fazer nada’ até o próximo ano?”
NÃO! Aproveitemos para usar ESTE RESTO DE ANO para corrigir as falhas de aprendizado, reforçar conceitos básicos, alfabetizá-los de forma adequada (em 6 meses é totalmente possível) – VAMOS APROVEITAR o resto deste fatídico 2020 para construir a BASE EDUCACIONAL que muitos de nossas crianças e jovens não têm – e que é responsabilidade da escola!
Vamos identificar os mais necessitados (do 1o ao 9o ano do ensino fundamental) e vamos preparar adequadamente todos eles! Dar-lhes uma possibilidade de futuro que a qualidade de educação atual deles não permite que eles tenham!
A partir deste ponto, construindo-lhes o alicerce, O CÉU será o limite para eles!
Basta que aprendam a ler adequadamente (o exame do PISA mostra que nossos alunos estão longe disso) e raciocinar matematicamente (o PISA mostra que neste ponto são até piores).
Sim, eu sempre ouvi que “há males que vêm para o bem” e muita gente têm dito que “sairemos desta pandemia como pessoas melhores, como seres humanos melhores” – tá na hora de aplicarmos isso nas nossas crianças.
Paremos de “passá-las de ano” sem saberem o conteúdo (o que acontece muito e também continuará acontecendo depois da pandemia, infelizmente)… Vamos aproveitar esse TEMPO que a Covid nos deu para REALMENTE “tapar todos os buracos” na escolarização destas crianças da rede municipal de Caruaru!
Vamos aproveitar esses próximos seis meses para assegurar que elas saibam ler e compreender os textos DE VERDADE… que elas saibam raciocinar matematicamente, para poderem resolver problemas e terem base para aprender o que virá no futuro.
Quem sabe, com essa “mudança”, a gente não permita a geração de futuros cientistas, engenheiros, médicos… que, se continuarem com as perspectivas que hoje possuem, nem poderiam sonhar com esses objetivos!
Por favor, anulem o ano letivo de 2020 para o ensino fundamental da rede municipal de Caruaru!
Aproveitem o segundo semestre para corrigir os erros na educação das crianças! Para prepará-las para aprender de verdade! Para voltarem com a BASE necessária para voar em suas vidas!!
Esse é o meu sonho. Espero acordar as autoridades para torná-lo realidade!
*Professor João Antonio