Opinião – Os debates na campanha eleitoral – por Roberto Peixoto

Mário Flávio - 09.07.2012 às 07:30h

Por mais que os especialistas em marketing político afirmem que a proposta do marketing com relação a um candidato é a de não esconder a verdade, mas mostrar para o eleitorado que aquele político que está sendo “vendido” é um ser humano com defeitos e virtudes, na prática não é bem assim. Por não ser apenas propaganda o marketing político usa uma série de procedimentos e técnicas, tendo as pesquisas quantitativas e qualitativas como fontes privilegiadas que apontam de forma avaliativa os sentimentos, humores e variações do eleitorado quando, a partir daí, decidem o que é melhor para imagem do seu “produto” (leia-se o candidato).

Portanto, aquele ser humano com defeitos e virtudes agora é outro, só tem virtudes. De tal sorte que o eleitorado passa a ter a visão do candidato que não é mais a sua. Nessa fase tudo o que o candidato diz é aquilo que as pesquisas dizem que o povo quer ouvir. Uma metáfora que explicaria bem esse momento é a do ventríloquo: o candidato/ventríloquo coloca o boneco/eleitor no colo e usa do artifício de falar ao mesmo tempo em que manipula o boneco, dissimula o timbre natural da própria voz e entabula um “verdadeiro diálogo” com a peça inanimada, o que contribui para reforçar a ilusão de que o discurso proferido é o do eleitor.

As peças publicitárias também guiadas pelas respostas das pesquisas terminam sendo confeccionadas para atingir diretamente a segmentação do eleitorado, ficando fácil dirigir o discurso para as minorias sociais ou mesmo para as elites de todas as ordens. Tenho a plena convicção que o instrumento decisivo para que possamos melhor avaliar os candidatos à prefeitura é o debate entre os postulantes.

O debate público entre os candidatos, os temas que são pautados, as demandas que são apresentadas pelo município são tão ou mais importantes que as pessoas que são escolhidas na disputa pelo Executivo Municipal. Os debates e compromisso assumidos no debate afetam as posições que os candidatos tomarão em seus mandatos através dos compromissos firmados durante a campanha. No debate o candidato se desnuda diante dos seus eleitores.

É claro que no Brasil os debates ainda são engessados com uma urna cheia de papeizinhos, sorteio de temas, tempo limitado para replica, tréplica e muita conversa jornalística. Pois bem, se o debate é fundamental o formato até que pode e deve mudar. Um exemplo seria o da TV francesa, que recentemente colocou frente a frente os dois candidatos à presidência da França, NICOLAS SARKOSY E FRANÇOIS HOLLANDE, no seguinte formato: de frente um para o outro, separados por uma mesa e na presença de três jornalistas.

Os jornalistas só falam duas vezes. No início dizem quem vai falar primeiro. E no final do programa dizem boa noite. Os candidatos se apercebem imediatamente que a presença dos jornalistas significa apenas um fator inibidor para as possíveis agressões pessoais.

Quem está controlando o tempo de cada um dos candidatos e condenando possíveis agressões é cada um dos milhões de telespectadores/eleitores franceses. Por essa razão os candidatos se abstiveram de agredir um ao outro e até mesmo de falar muito. A regra é a seguinte: o primeiro candidato expõe o que quer fazer e o outro contesta os argumentos, apresenta outros argumentos. Diz de onde tirará os recursos para o que promete etc.

Não sei se os três candidatos à Prefeitura do nosso Município admitem um formato de debate como o francês. Seria bom que começasse por Caruaru o fim dos debates insossos, sem aprofundamento dos temas e fugas dos assuntos. Esse modelo está superado. Mas, independentemente do formato, o que a sociedade caruaruense não deve permitir é que os debates não aconteçam.

Instituições como escolas públicas e particulares, União Municipal das Associações e Similares de Caruaru, nossas Faculdades e Universidades, Clubes de Serviços, Associação Comercial e Industrial de Caruaru, Sindicato dos Comerciários, Associação Inter-Religiosa, o próprio Observatório Social, recentemente instituído, as emissoras de rádio e de televisão e outras instituições, devem enviar ofícios aos candidatos de acordo com a legislação eleitoral, convidando-os para debater os seus programas de governo para a cidade.

Qualquer candidato que se recusar a debater deve ser denunciado aos membros e seguidores dos órgãos que fizeram o convite, porque candidato que sem motivo comprovadamente sério, foge do debate, é candidato fraco, sem compromisso com a cidade, despreparado e que não merece o voto dos eleitores.

• Roberto Peixoto é professor