Opinião – O latifúndio improdutivo faz-se ultrajante; o do agrotóxico, criminoso – por Agassiz Almeida

Mário Flávio - 27.01.2015 às 08:25h

De acordo com projeto transnacional articulado pela Via Campesina, entidade internacional de salvaguarda da luta camponesa em todo o mundo, e com apoio da Confederação Nacional dos Camponeses da Bolívia, da Confederação Camponesa do Peru, da Federação Nacional Camponesa do Paraguai e da Confederação Nacional dos Camponeses do Chile, e as nacionais, Movimento dos Sem Terra (MST), Pastoral da Terra, CUT, Grupo Tortura Nunca Mais, CNBB, Associação dos Anistiados Políticos, Centro de Direitos Humanos do Ministério Público de Pernambuco, no dia 14 do corrente mês na sede do Memorial das Ligas Camponesas do Brasil Francisco Julião (antigo Engenho Galileia), município de Vitória do Santo Antão, Pernambuco, realizou-se evento comemorativo dos 60 anos da fundação, em janeiro de 1955, da Liga Camponesa da Galileia, da qual participaram Francisco Julião, Zezé da Galileia e dezenas de camponeses.

Integrantes dos movimentos sociais do Nordeste e nomes representativos das lutas camponesas, por eles ou seus representantes, estiveram presentes, dentre os quais, Francisco Julião, Agassiz Almeida, Gregório Bezerra, Abelardo da Hora, Edval Cajá, Clodomir Morais, Paulo Cavalcanti, Zezé da Galileia e Marcelo Santa Cruz.

O prefeito de Vitória de Santo Antão, Elias Lira, compareceu ao evento; ele vem emprestando o seu apoio ao Memorial Francisco Julião, inclusive com a construção de uma unidade médica. A programação iniciou-se com o coral da Pastoral da Terra cantando o hino das Ligas Camponesas sob a regência do Pe. Geraldo Menucci, compositor desta música. Em seguida, foi inaugurada a biblioteca José Ayres dos Prazeres.

Com a palavra Edval Cajá, um dos organizadores do evento: “Revivemos, com a comemoração dos 60 anos das Ligas Camponesas do Brasil, Francisco Julião, a história das lutas dos camponeses cuja vitória só será realmente concretizada com a implantação de um regime socialista no país. Esta é a verdade. Vamos enfrentando desafios conduzidos pelo lema de que a terra deve ser de quem trabalha”.

Anacleto Julião, filho do líder Francisco Julião, visivelmente emocionado, destacou: “Ainda criança acompanhei a luta do meu pai para formação das Ligas Camponesas no Nordeste e no Brasil. Sei dos graves desafios que ele enfrentou por parte de poderosos latifundiários que faziam dos camponeses escravos das suas ambições. Que sensibilidade me toca neste momento estar ao lado de centenas de companheiros que empunham a mesma bandeira que um dia meu pai ergueu aqui”.

Em seguida, falou Agassiz Almeida: “Nesta comemoração, caros companheiros, a história nos fala no dorso de 60 anos de desafios e lutas, desde quando, numa tarde-noite de janeiro de 1955, Francisco Julião, Zezé da Galileia e centenas de camponeses, nestas terras férteis do Nordeste do Brasil, soergueram uma fortaleza de resistência contra a opressão de quatro séculos de latifúndio.

Correram os anos. As forças democráticas encurralaram o latifúndio de terras improdutivas. Enorme desafio abre-se para os povos de todo o mundo. Um latifúndio mais poderoso do que o que escraviza os camponeses é o do agrotóxico; ele estende as suas garras por todos os continentes, devastando florestas e matas, contaminando águas e rios, poluindo o meio ambiente.

Que criminosa hidra está levando veneno à mesa dos povos montada no próprio Estado, e ao mesmo tempo berra cinicamente: a produção agrícola está aumentando.

Que serpente é esta que envenena e mata milhares de vidas? O poderoso latifúndio do agrotóxico.
Ao encerrar, deixo aos companheiros esta proposta: Que 2015 seja celebrado como o Ano Internacional da Soberania Alimentar”.