Agosto ficou marcado como o mês de desgosto, ou do cachorro louco na política nacional. Essa pecha é decorrente das inúmeras crises que ocorreram durante o fatídico mês, que arrastaram o país para a instabilidade política, jogando as lideranças em verdadeiros infernos astrais. Tivemos em momentos diversos, todos em agosto: o suicídio de Getúlio Vargas, a renúncia de Jânio Quadros, mais recentemente, também em agosto, o ápice da crise do mensalão e no ano passado o julgamento do mesmo.
Em Caruaru, o prefeito Zé Queiroz vem experimentando a sua dose de inferno astral em agosto, afinal irromperam nesse mês diversas agendas negativas que estão toldando e até mesmo paralisando a gestão municipal. A pauta negativa começou com a ameaça de racha na bancada governista. A insatisfação dos vereadores no retorno do recesso era palpável. O clima de lua de mel desde a posse esfriou, pois a prefeitura não tem caixa para atender os apelos fisiológicos e aos infinitos requerimentos aprovados semanalmente. Agravou a situação a percepção dos vereadores de que o funcionamento do Orçamento Participativo afetará as suas reeleições, já que os serviços públicos não chegariam mais por intermédio dos seus requerimentos, que têm o peso do papel em que são impressos, que permitem que os mesmos assumam a paternidade das obras em seus redutos eleitorais.
Diante desse cenário os vereadores estão ameaçando fazer o papel que lhes cabe, fiscalizar, já que o pacto: fechar os olhos para o funcionamento do executivo, em troca de cargos e obras, não está sendo cumprido pela Prefeitura. Vários membros da situação alardeiam que podem vir a apoiar a CPI da CGU. Embora o barulho seja grande nessa crise, talvez seja mais fácil de desarmar, basta abrir os cofres, como Dilma fez ao liberar as emendas e pacificar a base. O problema com essa medida é que assim os vereadores colocarão a prefeitura de joelhos e a tornarão refém dos seus caprichos nos próximos quatros anos.
As demais pautas negativas desgastam a gestão de Queiroz com um segmento do eleitorado local, que lhe apoiou maciçamente nas últimas eleições, os de maior escolaridade e renda. Esse eleitorado que não sofre com as limitações dos serviços públicos na periferia da cidade, passa a julgar a gestão com outros olhos após a divulgação de inúmeros fatos negativos, maculando a capacidade de Queiroz em consolidar uma gestão moderna e transparente.
Começou com a divulgação do IDH de Caruaru, abaixo e bem distante das cidades do mesmo porte na Região Nordeste 2.503ª posição entre os municípios brasileiros com IDHM de 0.677. Isso evidenciou o descompasso entre renda e desenvolvimento persistem em Caruaru. Frise-se que esse resultado negativo não pode ser apenas debitado a Queiroz, porém ele paga o preço por ser o atual prefeito e por ter administrado a cidade 14 anos nos últimos 30 anos.
Aumenta o imbróglio de Queiroz a divulgação agora de um relatório de mais de 300 páginas da CGU, evidenciando inúmeras irregularidades, no manuseio dos recursos do Fundeb em Caruaru. Para uma gestão que está enfrentando uma crise sem fim com os professores municipais, empurrando goela abaixo um PCC draconiano e ameaçando congelar os salários dos docentes pelos próximos anos. A divulgação de um relatório demonstrando que os recursos existem, mas que estão sendo mal administrados e envoltos em inúmeras irregularidades, desmonta assim a legitimidade do discurso da prefeitura em aprovar o PCC da educação.
A esse caldeirão acrescem, mais uma vez, as expectativas criadas durante a campanha eleitoral e que não estão sendo atendidas, a frustração do cidadão é explicitada na estratosférica desaprovação do gestão cerca de 54%. A Prefeitura está tentando reverter o cenário através de algumas estratégias tais como o lançamento de uma campanha nos meios de comunicação, ressaltando os pontos positivos da gestão, bem como aguarda que a retomada de várias obras na cidade gere uma agenda positiva que sufoque a pauta negativa.
E há ainda alguns ases nas mangas se essas estratégias falharem, realmente reabrir as negociações do PCC e acabar com a crise na educação de vez. E outra mais radical, jogar alguém às feras para pacificar a opinião pública, Lula afastou Dirceu, Dilma fez a faxina com os ministros envoltos em maracutaias. Queiroz pode também recorrer a esse expediente e assim sinalizar que não protege, nem concorda, com os mal feitos descobertos ou a paralisia da máquina.
E principalmente, materializar o discurso de que esse é o primeiro ano de uma nova gestão e não o quinto de um mandato do qual ninguém tem saudades.