No momento em que escrevo, já circula informações sobre seu falecimento. Não sei se ao ler esta oficialmente já esteja sendo anunciado. Mas seja em que momento for registro minha homenagem ao “criador ou fundador da conciliação, do diálogo”, Dalibhunga, nome que ganhou aos 16 anos, quando iniciado na vida adulta numa cerimônia tradicional Xhosa.
Mas já se prenunciava, desde seu nascimento (18 de julho de 1918), que teria dias tempestuosos, pois quando nasceu foi chamado Rolihlahla Mandela pelo pai (Nkosi Mphakanyiswa Gadla Henry). Em Xhosa, Rolihlahla significa “que traz problemas”.
O nome de Nelson só veio na Escola Primária. Foi-lhe dado pela professora no primeiro dia de aulas em Qunu,e não se sabe de alguma razão especial, apenas que era um nome muito popular na altura. Madiba é o nome do clã Thembu a que Mandela pertence. Foi também o nome de um chefe Thembu no século XIX. Chamar Madiba a Mandela é sinal de carinho e respeito.
O Tata (Pai em Xhosa) da democracia na África chegou a ser preso durante 27 anos durante o regime do apartheid e se tornou o primeiro presidente negro da África do Sul após as eleições de 1994. Não só lutou contra, mas participou da articulação de transição entre o apartheid e o governo democrático. Nos anos seguintes, concentrou seu trabalho em causas de caridade, vindo a se retirar da vida pública, tendo sua última aparição pública em 2010 durante a Copa do Mundo, que foi sediada na África do Sul.
Nossa geração tem muito que aprender com Mandela. Depois isolado numa ilha na prisão, e era perpétua, posto em liberdade veio a governar sua nação. E, em dias de manifestações e protestos por todos os cantos do país, seu exemplo de luta, coragem e firmeza ladeado da capacidade de dialogar, superar diferenças, perdoar e reconciliar devem nos levar a reflexão.
Há um poema “Invictus” (William Ernest Henley, 1849-1903), escrito em 1875 e publicado pela primeira vez em 1888. Que manteve Mandela inspirado nos anos de sua prisão:
Não estremeci, nem gritei em voz alta.
Sob a pancada do acaso,
Minha cabeça está ensangüentada, mas não curvada.
Além deste lugar de ira e lágrimas
Avulta apenas o horror das sombras.
E apesar da ameaça dos anos,
Encontra-me, e me encontrará destemido.
Não importa quão estreito o portal,
Quão carregada de punições a lista,
Sou o mestre do meu destino:
Sou o capitão da minha alma.
Na prisão, Mac Maharaj, organizador do livro “Mandela: Retrato Autorizado”, destacou que “Foi um grande privilégio viver 12 anos na prisão com Mandela e aprender com ele, tê-lo como mentor e aprender as verdadeiras qualidades de um líder, que podem ser resumidas numa expressão: um verdadeiro líder e um servidor do povo”.
Ao sair, discursou: ““Eu não estou aqui como um profeta. Estou aqui como alguém que vai servir o seu povo. Eu estou aqui de pé graças a vocês; à luta de vocês. Por isso, nos anos restantes de minha vida, estarei a servir a vocês… Eu lutei contra a opressão dos brancos. Lutei contra a opressão dos negros. Quero uma sociedade em que todos possam viver em harmonia, sem ódios, sem racismo de parte a parte. E, por este ideal, estou disposto até a dar a minha vida.”
O SISTEMA RESISTE
Onde está a insatisfação do povo? Quando conseguiremos avançar nestas cobranças que fazemos? As verdadeiras reformas nos principais campos (urbano, agrário, político, etc) deveriam ser prioridades, mas sem deixar de descartar a reforma interior de cada cidadão. Exigimos investimento do orçamento público nos equipamentos sociais para garantir a construção e concretização de políticas públicas sociais de qualidade para toda a população; Transparência no processo orçamentário; Lutamos por direitos humanos; Proteção para crianças e adolescentes brasileiras, mas precisamos abandonar em nós mesmos nossa inclinação para aceitar o suborno e benefícios “oferecidos” no universo do poder. Na prática é necessário nos reeducarmos em nossos princípios e valores, a sociedade terá mais força de cobrar o justo e o certo quando a maioria que for para as ruas além de denunciarem os crimes cometidos no país não aceitarem ser parte dele. Haverá corruptos onde não há corruptíveis?
VOCÊ SABIA?
O MPL foi batizado na Plenária Nacional pelo Passe Livre, em janeiro de 2005, em Porto Alegre. Mas antes disso, há seis anos, já existia a Campanha pelo Passe Livre em Florianópolis. Fatos históricos importantes na origem e na atuação do MPL são a Revolta do Buzu (Salvador, 2003) e as Revoltas da Catraca (Florianópolis, 2004 e 2005). Em 2006 o MPL realizou seu 3º Encontro Nacional, com a participação de mais de 10 cidades brasileiras, na Escola Nacional Florestan Fernandes, do MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra] (http://tarifazero.org/mpl/)
NA PRESSÃO DAS RUAS
As passagens vão sendo reduzidas, e vamos mais além. O plenário do Senado aprovou projeto de lei que inclui as práticas de corrupção ativa e passiva e concussão (obter vantagem indevida em razão da função exercida). As penas mínimas desses crimes ficam maiores e eles passam a ser inafiançáveis. Os condenados perdem direito a anistia, graça ou indulto e fica mais difícil o acesso a benefícios como livramento condicional e progressão do regime de pena. Falta a Câmara aprovar.
I CONFERÊNCIA MUNICIPAL DE IGUALDADE ETNICORRACIAL
Vinte e oito municípios brasileiros confirmaram realização da Conferência. Caruaru está entre eles. O tema da nacional é “Democracia e desenvolvimento sem Racismo: Por um Brasil afirmativo”. A comissão organizadora em Caruaru já foi formada e, assim como a de Cultura, a edição nacional acontece em novembro deste ano.
A FORÇA REVOLUCIONÁRIA DO AMOR
“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, sua origem ou sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se elas aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar.” Nelson Mandela
*Paulo Nailson é dirigente político com atuação em movimentos sociais, Cursa Serviço Social. Membro da Articulação Agreste do Fórum de Reforma Urbana (FERU-PE) e Articulador Social do MTST. Edita a publicação cristã Presentia. Foi dirigente no PT municipal por mais de 10 anos.