Opinião – Latino: subproduto de uma subcultura – por Marcelo Diniz*

Mário Flávio - 28.10.2012 às 13:21h

15 de Julho de 2012: O cantor sul-coreano PSY lança no youtube o videoclipe de seu K-Pop (Pop coreano) “Gangam Style”, em que faz uma crítica animada ao estilo de vida assaz luxuoso de um gu (distrito com governo local) de Seul, conhecido pelos centros de compras, mansões e condomínios.
20 de Setembro de 2012: Com 2.141.758 “likes” no Youtube, o clipe entra para o Guiness Book. Outubro de 2012: Latino consegue mais uma vez estragar uma música, lançando sua versão em português, com o título de “Despedida de solteiro”.

Não acho que todo artista tem a obrigação de desenvolver arte engajada. Arte é expressão daquilo que se apreende através dos sentidos, devidamente processado pelo nosso olhar e apresentado ao mundo. Ninguém tem o direito de exigir de um artista que minta em sua arte, produzindo algo que não faça parte de sua realidade ou do seu modo de encará-la.

O problema é que o que Latino produz não é arte. Se já foi algum dia, eu não sei. O que sei é que nos últimos anos aquele jovem senhor de 39 anos se esmerou em deturpar uma série de hit’s internacionais em versões medíocres, se apresentando em estilo playboy e alimentando essa visão de mundo em que as pessoas valem o que têm e não o que são. Nesse último caso, ele deturpa uma música que tem por objeto justamente o combate a essa visão, inclusive comparando mulheres a gado (há um trecho da música em que diz “laçar, puxar, beijar”).
Claro que não é o único!

O mercado ama Latino, Michel Teló e tantos outros produtos “culturais” que apelam para a coisificação das pessoas (principalmente das mulheres) e para a alimentação do sonho capitalista do “ter”. Para esses o espaço midiático e o mercado fonográfico oferece condições privilegiadas nas estantes e na tela de nossas TV’s durante os domingos e feriados, ou durante a semana, no chamado “horário nobre”. Enquanto isso, artistas com muito mais sensibilidade e responsabilidade são condenados a depender de selos regionais e palcos públicos para apresentar a produção de cultura popular, que cada dia mais se torna menos popular entre os cidadãos, porque o incentivo estatal, embora grande hoje em dia, ainda não consegue fazer frente ao poder do deus mercado.

Para combater esse mal, seria necessária uma reforma nos meios de comunicação que responsabilizasse os mesmos com a apresentação da diversidade cultural e as produções regionais. O problema é que o sistema encara qualquer iniciativa desse tipo como “censura” ou “ingerência”, acusando os propositores de tentar promover propaganda ideológica. Então me respondam: Essa produção é, ou não uma propaganda ideológica pela manutenção do status quo?

Compreendo a luta pela imparcialidade como uma luta utópica. É importante como horizonte, mas é óbvio pela concepção de arte que apresentei no início do texto que toda produção humana está sujeita a um julgamento, resultado do modo como nossa percepção apreende o conhecimento do mundo à nossa volta.

Latino é só um exemplo de subproduto de uma subcultura, de um sistema em que as coisas valem mais e as pessoas são meras portadoras de capital a ser capturado.

Marcelo Serra Diniz é militante da Juventude do PT, Ex-Secretário da União dos Estudantes de Pernambuco (UEP – Candido Pinto), Ex-Diretor de Relações Internacionais da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e delegado do Orçamento Participativo de Juventude de Caruaru.