Na segunda-feira, dia 09 de dezembro, o centro de Caruaru foi tomado pelo caos, um verdadeiro dia de fúria. Com correria, pessoas machucadas e os boatos tomando a cidade, principalmente pelas redes sociais. Falava-se de arrastões e até mesmo de mortes no Parque 18 de Maio. Os problemas começaram logo cedo. Nas primeiras horas da manhã, as ruas do centro já seguiam congestionadas, travando a circulação dos bairros no entorno da feira.
Filas e filas de carros e ônibus, buzinas, ânimos exacerbados, o calor, tudo indicava que teríamos um dia de cão. E como se já não bastasse todo esse inferno, surge e se espalha como um rastilho de pólvora, o boato de arrastões, agravando ainda mais a situação. Daí por diante o que se viu foi o descontrole total, uma verdadeira histeria coletiva. Não será possível identificar a fonte da boataria, contudo podemos responsabilizar o grande culpado por ter armado o circo e preparado o ambiente, para a realização de tão lamentável espetáculo, a gestão municipal.
Nem que a Prefeitura tivesse planejado intencionalmente essa bagunça ela teria sido tão eficiente em seus objetivos. O primeiro erro, não ter efetivado a decisão de transferir a feira nos últimos cinco anos. Ao mantê-la confinada num espaço que não a comporta, a prefeitura armou uma bomba no centro na cidade, que estourou nessa segunda e que irá detonar outras vezes até ser concretizada a sua saída. O tempo de discutir já passou, está mais do que na hora do Executivo, com transparência e alicerçado em dados confiáveis, iniciar o processo de mudança.
O que tem que se discutir é o local da transferência e o modelo a ser adotado, se PPP ou uma área pública, com regras bem claras. Outra decisão equivocada, a de realizar a feira a partir da manhã de segunda. Será que só os gestores municipais não sabiam que as feiras do final de ano atraem uma quantidade maior de compradores? E que, consequentemente, haveria mais veículos nas ruas estreitas do centro, no mesmo horário em que as pessoas estão saindo de casa para irem ao trabalho ou escola? E que se o trânsito no centro travasse, num verdadeiro efeito dominó, desabaria a circulação nas áreas circunvizinhas?
Junte-se a isso o policiamento insuficiente. Todos os ingredientes necessários ao caos estão consumados. Agravou o cenário a demora da Prefeitura em desmentir os boatos, que tomaram a cidade e se espalharam pelo estado e pelo Brasil, com uma entrada ao vivo no Globo Notícia. Quanto em junho de 1973, Recife foi tomado pelo boato que a barragem de Tapacurá tinha estourado, foi o caos total. Porém, logo no início do tumulto, o Governador, na época Moura Cavalcanti, foi ao centro da cidade para acalmar os moradores e acionou as redes de tevê e rádio para emitirem boletins desmentindo a notícia.
Em Caruaru, na época das redes sociais, o disse-me-disse se propagou livramente, sem nenhum pronunciamento da Prefeitura até as 10 horas da manhã. E para completar, num momento em que a cidade aspirava por alguém que tomasse as rédeas e colocasse os pingos nos is, das brumas do caos, o prefeito se pronuncia, não para admitir os erros ou punir os culpados, mas para apontar o dinamismo da economia caruaruense pelos transtornos: “Gostaria de dizer que evitei ir ao Parque 18 de Maio, mas andei pela cidade toda e vi porque estamos num município que não para de crescer”.
Com tal frase Queiroz agiu igual ao Imperador Nero, que cantava e tocava, enquanto Roma ardia em chamas. O caos da manhã de segunda não teve nada a ver com o dinamismo econômico da cidade, mas foi fruto direto de decisões equivocadas e mal planejadas. Talvez seja esse o momento da gestão municipal acompanhar o ritmo de crescimento da cidade, passando a profissionalizar os seus quadros, a monitorar as ações desenvolvidas e acompanhar o cumprimento das metas estabelecidas.
Para que o executivo municipal seja um fator que impulsione a economia local e não um fator de restrição. Afinal como o próprio Prefeito não cansa de repetir, Caruaru não é mais uma cidade pequena do interior.
*Mário Benning é professor e analista político*