A queda do socialismo real e a hegemonia do neoliberalismo, jogou à esquerda mundial em uma terrível apatia política, na perda de seus rumos e de sua identidade. A luta pelo poder e a formação de governos de coalizão foi uma alternativa encontrada pela esquerda, em particular na América Latina, para se adequar ao que se chamava de modernidade e eficiência.
Essa adequação está ligada a morte das utopias e a necessidade de manter a difícil equação de um discurso ideológico revolucionário e uma prática cotidiana de bastidores e tráfico de influência, ajustando-se as demandas neoliberais. Nesse processo, enterramos nossas bandeiras, renunciamos nossos projetos, conspiramos contra nossos ideais e trocamos as ruas e as praças pelos gabinetes, considerando que ocupar mínimos espaços políticos significa mudar a face da tirania.
Em nome destas articulações sombrias nos tornamos asseclas de neocoronéis. Abandonamos as massas pelas negociações de alcovas e deixamos de ser a vanguarda dos movimentos sociais e da luta dos trabalhadores para mediar conflitos de interesse do capital.
A crise do neoliberalismo é civilizatória, porém, mostra que o foco é o capital e não a pessoa humana, que continuará produzindo exclusão. Diante deste cenário caótico não teria a esquerda perdido sua orientação ideológica? Em vez de sentar nos gabinetes dos neocoronéis e lutar por ampliação de cargos e cooptação de lideranças, não deveria está na rua no compasso dos movimentos sociais? Escutando e mediando, na vanguarda dos que lutam por reconhecimento e inclusão?
Então o que é ser esquerda? Ouso responder que não significa necessariamente estar filiado a um partido de esquerda, mas, referenciado na luta em defesa dos trabalhadores, das causas relevantes para a humanidade, sejam elas: planetárias, nacionais, regionais ou locais. Onde existir desigualdade, injustiça, violação de direitos, e, estiver um ser humano que clame por Justiça, alguém que se sensibilize e lute por sua causa sem abrir mão dos seus princípios: Ali está uma pessoa de esquerda.
Os grandes partidos de esquerda, entre eles o PT, nasceram da crítica aos vários modelos autoritários vivenciados na República brasileira, não necessitam ser refundados, mas, retomar seu projeto original de poder e sua opção pela classe trabalhadora, centrado em dois eixos: O socialismo e a luta em defesa dos excluídos. Que triste momento da história política da esquerda local vivemos, em que aqueles que acreditam que um partido de esquerda que se forje na luta, sejam tratados como dissidentes ou adversários, onde o discurso ético só serve para meia – dúzia, onde apoiar a luta dos professores que tiveram direitos violados é uma afronta aos esquerdistas de gabinetes que olham os trabalhadores como inimigos e se comportam como Cronos na mitologia grega.
A esquerda engole seus próprios filhos: Os revolucionários, os inquietos, os diferentes, e todos devem se ajoelhar em prol de uma visão maniqueísta dominante. Nesse ambiente surreal a esquerda pune quem está na luta e defende quem dela se afastou, quem é capaz de sentar em uma mesa de negociação e mostrar seu projeto de poder, indiferente ao que está sendo negociado naquele momento.
Assim, com o acender das luzes do processo eleitoral todos nós, inclusive a esquerda de gabinete será cobrada por suas incoerências e incongruências. O tempo é senhor da história, e, as decisões serão apresentadas ao seu tempo. Mantenho-me um homem de esquerda, eternamente na luta em defesa dos trabalhadores, e onde for convocado, independente da situação partidária em que me encontre. ONDE ESTIVER LUTA EM MINHA REGIÃO LÁ ESTAREI NA DEFESA DOS OPRIMIDOS.
*Wilon Dodson Valença Sobral, membro do Partido dos Trabalhadores, militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e ativista das causas dos Direitos Humanos.