Na História do Brasil, a herança do coronelismo foi mote de livros, estudos acadêmicos e literários que ressaltaram desde a violência dos coronéis do passado a sedução do poder e do status difundido pelos chefes políticos urbanos atuais. No campo da História e da Ciência Política encontramos clássicos de autores como Sérgio Buarque de Holanda, Raimundo Faoro, Victor Nunes Leal que em abordagens que mantém atualidade tentam explicar as perversas relações políticas de nosso país e que construíram uma cultura política autoritária fundada na corrupção e na substituição dos interesses coletivos pelos interesses pessoais.
Assim, por clientelismo devemos compreender o sistema de favor e de tutela que mantém os interesses políticos mediados pela relação do “é dando que se recebe” e que marca a troca de favores politicos que substituiu o velho voto de cabresto do coronelismo do passado pelo voto de permuta do clientelismo atual onde a promiscuidade dos valores domocráticos reúne corruptos e corruptores em uma teia de relações de que substituíram as velhas estratégias de dar uma dentadura, material de construção, cesta básica por novas estratégias: Cargos comissionados, contratos temporários, cargos de chefias, cooptação de lideranças, propinas, etc….
Assim, esta cultura política foi se estruturando em nosso país e em particular no Nordeste, sob o manto do jeitinho brasileiro e vem demonstrando como podem ser nefastas estas práticas para a democracia, espelhadas em escândalos que desde a redemocratização de nosso país explodiram com os jardins da casa da dinda, os mensalões do DEM, do PSDB e do PT, o escândalo do metrô em SP que envolve os governos do PSDB, e recentemente as acusações que levaram 10 vereadores de Caruaru a Penitenciária local, a corrupção perpassou as ideologias e os partidos.
Independente se são inocentes ou culpados, as prisões dos vereadores de Caruaru reacendem a polêmica política que o problema envolve, demonstra o quanto ainda vivemos sob uma democrácia frágil em que o tema da corrupção ainda não tem lugar e espaço. As prisões recairam e fragilizaram o legislativo e o equilíbrio entre os poderes, jogou a oposição ao descrédito e o pior, fragilizou a crença da opinião pública sobre a função social da política.
Pois bem, não se muda o mundo sem a política, sem um legislativo forte que pressione o executivo e o fiscalize, não com conduta de vingança, extorsão de valores ou de pedidos de cargos e vantagens. Mas é necessário ressaltar que nem todos os edis foram presos ou acusados, e que as generalizações são muito perigosas. Só se melhora o legislativo pelo voto e pelo acompanhamento do eleitor sobre o trabalho de quem elegeu.
Independente de como terminará essa história recente de Caruaru, de que se chegue a inocência e a culpa dos acusados, está nas mãos dos eleitores de nossa cidade mudar o futuro. Mas diante do atual cenário político local de autoritarismo, cooptação política e escandalos de corrupção é esperar para ver se avançamos democraticamente ou nos mantemos em uma cultura política degradante. Só o eleitor nos dirá, precisamos esperar para ver.
*Profa. Dra. Ana Maria de Barros – Cientista Política
Profa. Adjunta da UFPE – CAA
Profa. do Mestrado em Direitos Humanos – UFPE – CAC
Vice- Líder do Grupo de Pesquisa – CNPq – UFPE: Educação, Inclusão Social e Direitos Humanos