Em pleno século XXI, ainda experimentamos os resquícios do século XX. A guerra de trincheira na Ucrânia remonta a Primeira Grande Guerra Mundial, enquanto o conflito travado em túneis na Faixa de Gaza faz eco ao Vietnã. Este é o palco global, e estamos navegando pela transição de eras. Um sinal de alerta se acende diante dos recentes conflitos globais, que remontam desde a Guerra Fria até os atuais movimentos de multipolaridade.
Se, para alguns, estamos em uma Segunda Guerra Fria, para outros, vivemos uma Terceira Guerra Mundial híbrida (em múltiplos blocos), e para outros ainda, estamos testemunhando um despertar geopolítico. É inegável que o mundo está em transição, envolvido em um conflito entre o “velho” e o “novo”, que remonta à Guerra Fria.
A Guerra entre Rússia e Ucrânia é uma fase aberta desse conflito histórico. O aumento do número de países que apoiam a ideia de multipolaridade e o recuo da agenda globalista são movimentos evidentes. Consequentemente, os riscos de instabilidade se multiplicam, refletindo-se na arena da política externa e demandando contenção e prevenção por parte dos líderes mundiais.
Múltiplos blocos não desejam mais seguir os ditames ocidentais, desafiando a hegemonia global euro-americana, que enfrenta uma falta de confiança como fornecedor de segurança. O conflito entre Israel e Hamas é um exemplo concreto dessa dinâmica. Rússia, China, Índia e outros países resistem às resoluções do Ocidente, optando por formas independentes de gestão de crises. O cenário mundial é marcado por um confronto entre forças geopolíticas, incluindo a anglo-saxônica (ou euro-americana) e os múltiplos blocos continentais. Teoricamente, as manifestações desse confronto poderão ser observadas até nas regiões mais remotas do mundo.
Apesar de os EUA não terem conseguido uma vitória militar na Ucrânia até o momento, a Administração Biden tentará prolongar o conflito até 2024, buscando minar a Rússia em uma luta exaustiva, semelhante ao que ocorreu no Afeganistão na década de 1980. Para alguns, a arena chave das novas ordens “mundiais” não está no Indo-Pacífico, mas sim no mundo árabe. Não é à toa que a Rússia se aproxima cada vez mais da Arábia Saudita. Recentemente, o jato presidencial de Putin foi escoltado por quatro caças multifuncionais Su-35 de 4ª geração da Arábia Saudita, conhecidos por seu grande poder de combate, alta velocidade e alcance de voo incomparável.
Este é um breve panorama das tensões mundiais, um verdadeiro despertar geopolítico, com seus desafios à hegemonia dos EUA/OTAN. Vivemos tempos de incertezas na política mundial, em busca da tão almejada estabilidade. Em 2024, testemunharemos as estratégias dos líderes mundiais diante da instabilidade em formação.
*Raniere Menezes é do Movimento Conservador do Agreste
