Opinião: Brasil é o país dos carnavais. Por Arnaldo Dantas*

Mário Flávio - 21.02.2012 às 23:59h

O Brasil tem uma particularidade entre as nações.  Existe uma sensação entre as pessoas, seja na vida cotidiana ou institucional, que a vida só começa, de fato, depois do carnaval. Se esse imaginário já se cristalizou em nossa memória e rotina diária, no caso da política, realmente, o ano novo só se inicia de fato após os festejos de momo. Antes, as tramas, as estratégias e  as conspirações eram conduzidas de forma  discreta, feitas em sua maior parte na surdina e no  jogo de esconde-esconde e disse me disse, era um jogo jogado para uma  pequena plateia, formadores de opinião, correligionários e mídia.  Agora a coisa torna-se explicita, é hora de ressuscitar os mortos, tirar a poeira dos projetos, afinarem o discurso, convocar o bloco e colocá-lo nas ruas.

Nos últimos anos, o carnaval profano, tem simetria com a folia eleitoral, que se tornou as eleições no Brasil. Como um verdadeiro desfile de escola de samba, tudo tem inicio com o enredo, o carnavalesco (marqueteiro) pensa no tema que deve ser contado e  recontado ao longo da avenida. Os temas têm que ser gloriosos e ufanistas, emocionar e encantar a todos que os assistem. Os personagens são herois mitológicos cobertos com o manto da glória, com o elmo da virtude e empulhando a espada da justiça.

A partir do tema, o marqueteiro  carnavalesco divide a escola em alas, cada ala conta  uma parte do enredo e cada  indivíduo deve se vestir de acordo com a fantasia de sua ala.  O carnavalesco pensa em tudo, da comissão de frente à velha guarda, desenha como deve ser cada fantasia, alegoria e adereço. A comissão de frente é quem apresenta a escola, é o seu guardião, é o núcleo político de uma campanha, formada  pelas principais estrelas e assessores.  Em seguida vem o principal carro alegórico chamado de abre alas, mostra o símbolo da escola ou dos políticos, lembrado seus triunfos e vitórias.
O casal de mestre-sala e porta-bandeira mostra  para a galera as cores e símbolos das escolas,  encarna o ideal de toda campanha, nas palavras de ordem e nas propostas em sua bandeira está sempre escrito, trabalho, honestidade, luta, povo… (adjetivos que todos os candidatos acham que possuem). Os puxadores de samba e a bateria cantam e tocam uma música só (jingles), durante todo o desfile. A letra relata uma epopéia sobre a qualidade e a capacidade empreendedora do candidato, o refrão repetido várias vezes faz com que todos o memorizem.

Toda escola deve ter baianas, que geralmente são pessoas pobres que pelo menos uma vez a cada ano se vestem de luxo e podem se sentir importantes e iguais aos outros. É o que mostra a origem popular. O povo da  escola  é o mesmo  povo que se arrasta em caminhadas,  carreatas ou comícios, pensado que aquela festa é  para todos e que a alegria vai durar quatro anos.

Na escola de samba não podem faltar as rainhas, as madrinhas de bateria e os destaques, são celebridades  que encantam a platéia e representam a beleza e o glamour. São os efeitos pirotécnicos e especiais  criados pelas mais sofisticadas tecnologias midiáticas, que desconstroem o  mundo  real e recriam  um universo paralelo do faz de conta, onde a fantasia  esconde a mediocridade  e as tragédias do dia-a-dia.

Ao contrário do carnaval, que o sonho termina na quarta-feira de cinzas  e a normalidade e a rotina voltam a invadir a vida, na política a quarta-feira de cinzas pode se transformar em quarta-feira de trevas que se arrasta  por quatro anos. Onde a folia e a  alegria   dão lugar às angústias e frustrações  que só terminam quando os marqueteiros  botarem novamente o bloco eleitoral nas ruas. Esses seres divinos e iluminados  com base em pesquisas qualitativas acreditam piamente   que qualquer estratégia seja possível, quando se convive com um povo  medíocre, ingênuo e despolitizado,  que deve ser entendido e compreendido   como folião, e jamais, como cidadão. Quem ainda não viu este filme, prepare-se! Ele estará em cartaz em 2012, em todo Brasil, inclusive em Caruaru.

 

*Arnaldo Dantas é analista político