O confronto sempre foi o método escolhido por Bolsonaro para fazer política. O ainda Deputado Jair Bolsonaro se notabilizou pela truculência na forma de expor suas ideais. A sutileza nunca foi seu forte. Virulência nas palavras sempre foi a marca da sua personalidade, que fazia questão de dizer o que pensa, com fagulhas no falar e quando possível ofendendo o adversário em eventual debate.
O nome Bolsonaro sempre foi associado, entre outras coisas, à intolerância, truculência, radicalismo, agressividade, beligerância e grosseria, e esse estilo parlamentar foi carregado com Bolsonaro para presidência.
Na presidência, Bolsonaro já agrediu jornalistas, esposa de chefe de Estado (França), prefeitos, governadores, entre outros, sempre com a temperatura alta e com o estilo hostil e agressivo.
Acuado pela Justiça, pela COVID-19, com popularidade em baixa e várias derrotas judiciais que atingiram o seu entorno, Bolsonaro parece ter sentido o impacto da prisão de Queiroz, em plena casa do advogado de seu filho. Como em um passe de mágica, o Presidente abandonou a pauta do conflito, adotando um discurso de conciliação, assumindo, nas últimas semanas, uma certa descrição, e se distanciando da chamada “ala ideológica”.
Bolsonaro dá sinais de mudança de sua característica marcante, ou seja, o discurso agressivo e o confronto, enfraquecendo, assim, a chamada “ala ideológica”, se aproximando cada vez mais do centrão. A demissão do Ministro Militante da Educação Abraham Weintraub e a posse do Ministro as Comunicações, Fábio Faria demonstram ser um sinal claro da nova roupagem do Presidente arengueiro, que levantou a bandeira branca com os Poderes, e tenta quebrar o gelo com os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre. No último encontro oficial, com a presença de Maia, Alcolumbre e Toffoli, Bolsonaro usou a palavra “juntos” em duas oportunidades, para se referir a Maia e Alcolumbre, convidando os dois para viagem juntos, e utilizou as palavras “entendimento” (duas vezes), “paz”, “tranquilidade”, “cooperação” e “harmonia”.
O Bolsonaro Paz e amor não passou despercebido por setores produtivos do país. Empresários, em almoço articulado pela Fiesp no Palácio do Alvorada, cobraram do Presidente que se mantenha o tom de harmonia com demais poderes.
Em outras oportunidades, a “Pax Bolsonarista” já foi objeto de tentativa e erro, e, por isso, existe um certo ceticismo de quão duradouro será o aceno de paz, podendo ocorrer o feito sanfona, igual a que agora escutamos, a sanfona geral da república, nas lives do Presidente.
Não sabemos qual a verdadeira face do Presidente e, por isso, recorremos a Charles Dickens no imortal livro Um Conto de Duas Cidades, lançado em 1859. O autor estabeleceu premissas de um raciocínio que podem ser revisitadas hoje. Tudo é turvo, ambíguo sem modelagem:
“Aquele foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos; aquela foi a idade da sabedoria, foi a idade da insensatez, foi a época da crença, foi a época da descrença, foi a estação da Luz, a estação das Trevas, a primavera da esperança, o inverno do desespero; tínhamos tudo diante de nós, tínhamos nada diante de nós, íamos todos direto para o Paraíso, íamos todos direto no sentido contrário — em suma, o período era em tal medida semelhante ao presente que algumas de suas mais ruidosas autoridades insistiram em seu recebimento, para o bem ou para o mal, apenas no grau superlativo de comparação.”