Existem situações, fatos e fenômenos que parecem só ocorrer em Caruaru, dentre eles está a divulgação da última pesquisa do instituto Exatta. Todos os grupos políticos comemoraram, os pré-candidatos ficaram satisfeitos, assessores e cabos eleitorais entraram em delírio. Foi uma pesquisa que agradou A gregos e troianos e possibilita interpretações hilárias e extravagantes, de parte da nossa mídia provinciana.
Deixando um pouco a euforia vamos nos deter aos fatos:
1 – A pesquisa merece credibilidade por ser a primeira a ser registrada no TRE, isso a torna legal (existem outras extraoficiais, artificiais e até mentirosas, que circulam cotidianamente pela cidade).
2 – Talvez por uma questão de tempo e de recursos, o critério de abrangência e proporcionalidade mexeu em seu rigor científico, mesmo assim, a sondagem foi positiva;
3 – Com uma margem de erros de cinco pontos percentuais para mais ou para menos, coloca todos no páreo, tanto os tradicionais, como os emergentes;
4 – A pesquisa mostra que ao contrário dos aloprados, as eleições em Caruaru são duras, acirradas e apaixonadas, salvas poucas exceções;
5 – Mais uma vez o eleitorado de Caruaru possui sentimento de grupo ou de torcida, pois coloca os indivíduos acima de programas e propostas (as questões municipais ficam em segundo plano);
6 – A pesquisa mostra diversos cenários e possibilidades (uns reais e outros improváveis), mas o que chama atenção foi o empate técnico entre os principais grupos tradicionais (os que se intitulam vermelhos e os que se intitulam amarelos), respectivamente 35% a 31%;
7 – Os índices de rejeição seguem em uma ordem inversa 22% (amarelos) e 34% (vermelhos);
8 – Dos eleitores, 14% não votam em nenhum dos dois grupos tradicionais e aproximadamente 10% não sabem em quem votar;
9 – Segundo a pesquisa, 35% da população disse que a atual administração é ótima e boa, enquanto 38% diz ser ruim e péssima, 26% acham regular;
10 – Há uma grande discrepância quando se compara a avaliação da administração municipal com a estadual e a federal. A população de Caruaru avaliou o governo de Dilma com 63% de bom e ótimo; 9% de ruim e péssimo; 28% de regular. Eduardo Campos teve 69% de ótimo e bom; 6% de ruim e péssimo; 23% de regular;
11 – A margem de erros permite que os demais candidatos também comemorem os resultados, pois mesmo competindo em uma situação adversa, podem dar início a suas campanhas com 6% a 8% de aprovação.
CONCLUSÃO:
1 – Repetindo o antigo e comum clichê, que pesquisa eleitoral é um retrato de um momento ou de uma realidade instantânea, podemos concluir que os amarelos tiveram um melhor desempenho que os vermelhos;
2 – O atual prefeito possui uma vantagem descomunal sobre sua principal oponente, vejamos:
A – O atual prefeito comanda a quarta maior cidade do estado e a primeira do interior com um orçamento previsto em mais 800 milhões de reais para este ano;
B – De cada três prefeitos que disputam a reeleição, dois são eleitos em termos de probabilidade, ele tem uma vantagem de 75% sobre seus rivais;
C – O atual prefeito deve ir para reeleição com uma coligação entre 14 e 18 partidos, além de uma sólida base política, terá um tempo de rádio e televisão bem maior que a soma dos seus adversários.
E – O palanque da frente popular terá apoio das principais lideranças nacionais e estaduais de peso, como: Lula, Dilma, Eduardo Campos, Armando Monteiro, Humberto Costa, Inocêncio Oliveira etc…
F – O núcleo duro do poder da frente popular tem buscado de forma frenética e com sucesso atrair as principais estrelas e lideranças da oposição, atribuído novos temperos, sabores, aromas e consistência ao caldo da frente;
3 – No Caso da pré-candidata das oposições a situação se mostra bem diferente neste contexto:
A – Ela é oposição à administração municipal, estadual e federal;
B – Os partidos que formaram em outra época a União por Pernambuco se encontram desprovidos de lideranças e referência no Estado e no País;
C – O seu grupo político saiu fragilizado das últimas eleições, tanto para prefeitura, como para Assembleia Legislativa, perdendo vários quadros;
D – Sua primeira missão deve ser a de estruturar seu partido e ampliar as coligações;
E – Deve evitar sobre quaisquer circunstâncias a perda do PMDB e do PSDB, o que reduziria drasticamente sua base de sustentação política e tornaria seu tempo no horário eleitoral quase insignificante;
F – Ter competência para legitimar o governo de Tony Gel, desqualificar o de seu principal oponente e as suas realizações e ainda mostrar que é capaz e porque, para administrar a cidade.
Este é o cenário que podemos de forma modesta contemplar. O mesmo vai passar por várias transformações ao longo deste ano eleitoral, todos os candidatos têm acesso regular a pesquisas qualitativas e sabem, mesmo que não confessem, sua real posição na largada e seu potencial de chegada, a não ser os ingênuos ou lunáticos. Neste xadrez, cabe à Miriam Lacerda, reverter o quadro adverso apresentado, ter uma coligação competitiva e um discurso que desconstrua de forma competente o modelo vigente de administração. No caso do Prefeito José Queiroz, cabe fazer com que toda a estrutura política, que está a sua disposição funcione e seja percebida pela população. Ele deve resolver as tensões latentes e não resolvidas no interior da frente, e principalmente destacar quais princípios políticos e éticos, diferenciam a frente popular dos demais candidatos.
Os ostros pré-candidatos como: Diogo, Rivaldo, Marcelo e provavelmente Lícius devem formar um grupo consistente, que tenha uma plataforma de governo clara e objetiva, mostrando que é possível governar Caruaru de forma diferenciada. Eles devem ainda mostrar à população que o cardápio gastronômico da política não pode se limitar histórica e eternamente apenas à carne de sol e charque.
ARNALDO DANTAS
É analista político