Opinião – A sucessão estadual de 2014 – por Mário Benning*

Mário Flávio - 29.08.2013 às 08:25h

Uma das coisas que chamam a atenção é o silêncio do governador Eduardo Campos a respeito da sua sucessão. Se em nível nacional os pré-candidatos estão rodando o país, comparecendo a eventos públicos e dando entrevistas, buscando assim chegarem a período de campanha com uma taxa de recall elevado. No nível estadual esse segredo é guardado a sete chaves, o mutismo é total na frente popular.

Não sabemos quem será o ungido pelo PSB para disputar a eleição, dizemos PSB porque só numa situação excepcional o partido abriria mão de lançar o cabeça de chapa. Não existem motivos para após um governo bem avaliado, entregar a um partido rival o Governo de Pernambuco. A não ser que envolvesse uma negociação vantajosa de tempo de propaganda para a candidatura a presidente de Eduardo Campos. Aí em consequência de uma vantagem real para o plano nacional, o PSB rifaria o controle estadual.

Pode-se dizer que o silêncio do governador está ligado ao sucesso de sua avaliação pelos pernambucanos. Acumulando o título de governador melhor avaliado, ao fato de ter sido um dos políticos que menos perdeu prestígio no levante dos R$ 0,20. Juntem-se a isso as pesquisas internas que indicam o desejo de continuidade do estilo PSB de governar. Então a conclusão para o partido é obvia, seria apenas necessário indicar um sucessor e o mesmo estaria automaticamente eleito, como foi a eleição para prefeito do Recife. Para que antecipar a própria sucessão e ter os holofotes da mídia divididos? Principalmente num momento em que Campos alça voo ao Planalto.

Só para contextualizar o cenário, nesse mesmo período Lula já vinha massificando o nome de Dilma na mídia como sua candidata. E no Recife há seis anos João Paulo já vinha apresentando João da Costa como seu sucessor. Todavia também existem algumas possibilidades para esse comportamento do governador, várias delas ligadas diretamente ao projeto presidencial, que será o divisor de águas de sua escolha.

A situação mais cômoda para o PSB seria o recuo da candidatura presidencial de Eduardo Campos. Afinal o mesmo levaria a mesa de negociações com PT, à retirada da sua postulação, oferecendo os votos de Pernambuco a reeleição de Dilma. Colando maciçamente a sua imagem, a de Dilma e a de Lula, para consagrar o seu candidato. Repetindo que o alinhamento político com o Governo Federal garantiria a vinda de recursos para o estado e a continuidade do crescimento econômico.

Nesse cenário o PSB manteria o controle da máquina estadual e o mesmo poderia escolher para sucedê-lo algum técnico sem pretensões políticas. Outro poste como Geraldo Júlio, que irá tocar a governo sem o menor risco de eclipsá-lo como gestor ou ofuscar a sua liderança. Repetindo assim o que Lula fez com Dilma e Aécio com Anastasia em Minas Gerais. Assim como tivemos o Carlismo na Bahia, teríamos o Eduardismo em Pernambuco.

E quanto ao voo solo, adiaria para 2018, ocupando um lugar de destaque no Congresso ou até mesmo um ministério que lhe dê visibilidade nacional e mantendo o controle do estado para alavancar as seus projetos políticos e reverberar os seus pronunciamentos. Com esse quadro o PT não fortaleceria as candidaturas de Bezerra Coelho, ou de Armando Monteiro, que minguariam sem apoio. Murchando ao longo do caminho ou seriam jogadas nos braços do PSDB, para oferecer um palanque para Aécio, mas recebendo assim a pecha de oposicionista.

Porém se o projeto presidencial vingar a escolha envolveria outras variáveis, que teriam que ser bem avaliadas. Já que provavelmente teríamos uma reedição do que ocorreu em 2006, múltiplas candidaturas da oposição com o apoio do PT, com essas se unindo num segundo turno contra o seu candidato. Nesse contexto o escolhido não poderia ser apenas um “técnico”, pois teria que enfrentar duas grandes lideranças do estado. Dois políticos experientes, com brilho próprio, Bezerra Coelho e Armando Monteiro, que poderiam num debate ofuscar um simples poste. Em Recife a sucessão se deu num ambiente controlado, com a oposição desgastada e sem discurso, e as contradições de Geraldo Júlio não foram exploradas.

Além de exigir um contorcionismo teórico para justificar a escolha de um poste. Já que o motivo principal alardeado por ele próprio para romper com Dilma foram a sua falta de traquejo, de visão política e de liderança. Então para ser presidente um perfil técnico, um poste, não basta, mas para ser governador de Pernambuco, sim? Afinal ele iria repetir a receita do que ele considerada um erro do PT em nível nacional, lançar um candidato do bolso, sem vida política própria e sem experiência de negociar e liderar. Situação que será explorada principalmente se a gestão do “técnico” em Recife não decolar até o período de campanha.

Até lá teremos que apenas especular sobre os caminhos a serem traçados na sucessão estadual, aguardando o desenrolar dos eventos. Antevendo se pela primeira vez em sua historia recente um governador irá eleger o seu sucessor, ou se Pernambuco manterá a tradição de ser o Leão do Norte e devorar os mitos que ele mesmo cria.

*Mário Benning é professor e analista político