Opinião – A moda da capa preta – por Rita de Cássia*

Mário Flávio - 11.11.2012 às 16:25h

Coluna publicada no Jornal Vanguarda

Não há um único conceito sobre moda, mas podemos afirmar que ela se refere à estética, à arte, ao belo. A moda é algo que se copia, que traduz o ideal de perfeição. A moda é algo que impulsiona as vendas, que traduz beleza, que eleva a estima e nos torna mais agradável ao olhar do outro. Nas novelas de época somos capazes de verificar como a moda muda com o tempo – muitas vezes, nem tanto tempo assim – e já traz um modo de vestir diferente, com novos designs, novos jogos de cores; é um puro charme que se renova. A moda também está nas palavras, nos jargões, na linguagem da juventude, na vanguarda do escritor. No âmbito da linguagem, ela também é bela e se renova.
No campo da ética, prima da estética, já não é tão comum que exista moda. Na verdade, a ética é discutida, discursada, mas pouco praticada. A ética não traduz o belo, não aumenta as vendas, não impulsiona o comércio. A ética exige posturas corretas, a busca pela verdade, o respeito do agir, o altruísmo, a preocupação com a felicidade do outro. O campo da ética é o mesmo da moral, dos valores da política, da família, da religião, dos direitos; o campo da estética é o da arte, do belo, da simetria. Ética e estética não são opostos, já que se preocupam em lançar um olhar diferente sobre diferentes áreas do conhecimento, mas dificilmente se encontram.

Aquilo que é difícil não é impossível e é aí que o fenômeno ético-estético da capa preta se apresenta. Vivemos uma época de crescimentos da estética, da perda de identidade e de padronização de comportamentos ditados pela moda. Vivemos a época das tribos urbanas, do comportamento individualista-hedonista. Vivemos a época dos relacionamentos virtuais e da popularização do dito, do visto, do vestível em tempo real pelas redes sociais. E nessa época de crise assistimos, meio que pasmos, Joaquim Barbosa, ministro do STF, de origem pobre, negro, sem ‘‘sangue” de político nas veias, se transformar no novo herói nacional.

O Brasil tem problemas em relação aos seus heróis, que geralmente são artistas ou ídolos do esporte, raríssimos homens públicos ganharam esse status, mas Barbosa foi comparado pelos nossos jovens ao Batman; é o herói da luta contra a corrupção. O grande problema é que o homem da ‘‘capa preta” virou moda e pensamos o quanto essa moda vai durar. Será que a moda do Barbosa vai resistir ao fim do julgamento do mensalão ou será que durará, inaugurando um fértil período em que a ética vai estar na moda e que a corrupção e a desonestidade dos políticos ficarão ‘‘fora de moda”? O problema da moda é que ela geralmente passa, só a ética fica e muda os rumos de uma sociedade. Que tal, então, inaugurar a ética da ‘‘capa preta” e garantir que essa moda vai durar?

*Rita de Cássia é professora e advogada