Jajá diz que vai provar inocência e dispara contra governistas

Mário Flávio - 01.02.2014 às 09:34h

20140201-093355.jpg

Entrevista de Brena Vila Nova especial para o jornal Vanguarda

Teve mais de mil votos na eleição para vereador em Caruaru. Foi eleito pelo PPS. Ganha 9 mil por mês para exercer o cargo. Acredita que o regimento da Câmara só serve para algumas circunstâncias. Sua campanha foi apoiada apenas por amigos e foi financiada por sua poupança particular. Ao ser eleito, em 2013, confessa que não sabia quais seriam suas atribuições como legislador. Já foi preso e enfrenta dois processos na Justiça. Admite que acha difícil sair candidato em 2016. Estamos falando de um dos vereadores mais polêmicos e mais aplaudido que Caruaru já teve, Jailson Soares, mais conhecido como Jajá. Ele é nosso entrevistado para falar sobre o cenário político e o último escândalo que virou destaque nacional, a operação da polícia civil Ponto Final.

Jornal VANGUARDA – Por que você se candidatou a vereador?
Jajá – Um dos problemas que me fez entrar na política foi a questão da saúde e dos feirantes. Foi promessa de campanha trabalhar pela sociedade e contra o descaso na política. Como eu já fui sulanqueiro, eu resolvi entrar na política para fazer alguma coisa pela Feira da Sulanca também.

JV – Você realmente foi expulso do partido PPS?
Eu soube dessa expulsão do partido através das redes sociais e das rádios. Não recebi nenhum comunicado oficial do partido. Então, eu liguei para Raul Jungmann e ele disse que tinha tomado essa decisão da expulsão, mas que precisava conversar comigo. Ele estava no Rio de Janeiro, quando eu liguei para ele, e ele disse que quando retornar vai me ligar e vamos conversar. Até o momento desta entrevista, a expulsão não é oficial. Não fui comunicado oficialmente.

JV – Já pensa em se filiar a outro partido?
Eu pretendo manter um diálogo com o PPS, com Débora e Raul. Eu quero continuar lutando com o PPS em Caruaru, mas se o partido realmente decidir pela expulsão, eu já vou me filiar a outro. Já fui convidado a ser filiado de vários partidos, inclusive PMDB, PSB, PSDB, Psol. Mas temos muito o que conversar ainda. Eu me identifiquei com o PPS e também tenho interesse em aumentar o número de filiados do partido. Cheguei, inclusive, a ser sugerido como um nome para deputado estadual do PPS, durante evento do partido realizado ano passado.

JV – Você propôs um requerimento sobre o uso de bafômetro antes das sessões, que gerou polêmica entre os vereadores, mas que, por outro lado, sugere um grave problema de conduta de alguns deles. É verdade que há parlamentares indo alcoolizados para sessão na Câmara?
Jajá – Na verdade, um ou outro vereador sim. Estavam indo trabalhar embriagado. Ali é um local de trabalho. Eu sempre respeitei muito o parlamento, a Câmara de Vereadores. Só temos duas noites para discutir problemas que interessam à população. A partir do momento que eu solicitei esse requerimento para o teste no bafômetro, alguns pediram para que eu retirasse o requerimento para evitar escândalo. A ideia era passar o bafômetro pelos 23 vereadores e evitar que alguns fossem embriagados para as sessões, como estava acontecendo. Até porque se fosse eu indo embriagado, eu seria denunciado à Comissão de Ética e seria punido. Mas como foi outros, fica por isso mesmo. A Comissão não tomou nenhuma posição. E num acordo entre todos os edis, pediram que eu retirasse o requerimento para evitar conflito. Eu, então, retirei. Não posso revelar o nome dos que estavam indo embriagados porque fica chato citar, mas de fato isso aconteceu.

JV – Nos bastidores da política, comenta-se que um vereador estaria indo armado para sessão pública na Câmara. Você chegou a presenciar algum deles portando arma, durante a sessão?
Jajá – Existiam rumores de que algum vereador estava indo armado para sessão na Câmara. E a preocupação da oposição era essa. Tinha momento que o clima ficava tenso e grandes confusões aconteciam por causa de alguns projetos que chegavam de última hora para votação. Então, a gente se perguntava: será que tem alguém aqui armado e poderia acontecer aqui algum acidente? Eu já ouvi esse boato sim, mas eu não sei quem seria. E eu também não confirmo que cheguei a ver. Agora nenhum parlamentar é louco de ir armado para uma Câmara. E tenho certeza que isso não aconteceu. E se for armado é porque vai com má intenção. Agora, as pessoas também falam demais. Da mesma forma que falam coisas sobre mim que não são verdade, também pode ser esse o caso.

JV – É verdade que durante uma sessão na Câmara de Vereadores, você pediu um copo de água e veio um copo cheio de caco de vidro?
Jajá – Sim. É verdade. Nesse dia, eu estava na Câmara em dia de confusão. E de repente veio uma taça com vários cacos de vidro. Eu bebi a água e senti os cacos na boca. Na hora que eu ia fazer outra confusão e ia mostrar ao povo e à imprensa isso, os vereadores Ricardo Liberato e Demóstenes Veras pediram que eu deixasse isso para lá e que não fizesse escândalo. Eles disseram que tinha sido um problema com o rapaz que não observou que tinha quebrado uma taça. Mas eu fiquei amedrontado quando vi aqueles cacos de vidro. Eu ainda dei um murro na bancada e os vereadores encerraram a sessão mais cedo, para evitar o segundo expediente, para que eu não denunciasse esse fato na frente de todos. E diante do que vem acontecendo comigo na Câmara, a população precisa saber o que estou passando. Colocaram até um objeto com uma antena no bolso do meu terno e depois de seis dias, eu vi aquilo no meu bolso, quando fui vestir o terno. O aparelho parecia um roteador ou modem, um aparelho branco. E na mesma semana que isso aconteceu, apareceram cacos de vidro na minha taça. Eu convoquei todos os vereadores e o presidente para questionar esse objeto no meu terno. Mostrei a situação a Ricardo Liberato e ao Leonardo Chaves. E Liberato disse para não expor isso à imprensa. Mas esse objeto podia ser um gravador para gravar conversas com meus assessores.

JV – Durante várias sessões na Câmara, você afirmou que era perseguido pelos vereadores Ricardo Liberato, Demóstenes Veras e Marcelo Gomes. Por que eles perseguiam você?
Jajá – Como eu venho denunciando muito a gestão municipal, isso incomodava sim. Incomodava aos três vereadores. E não só esses três vereadores, mas outros também. Inclusive, tive um problema pessoal grave com um vereador e isso já está em segredo de Justiça.

JV – E é verdade que o vereador Romildo Oscar realmente tentou agredi-lo durante uma sessão devido ao Plano de Cargo e Carreira dos professores municipais?
Jajá – Houve sim a tentativa de agressão. O vereador deu um murro no meu rosto e pegou de raspão no lado esquerdo. Romildo Oscar se irritou porque eu disse que o PCC dos professores foi votado sem a leitura dos vereadores e por eu ter pedido desculpa por essa votação do PCC, lançando o dia dessa votação como o Dia Municipal de Luta pela Educação. O objetivo era pedir desculpa aos professores diante do nosso erro. E fui agredido. Cheguei a registrar a ocorrência na polícia. Isso tudo por defender a população de Caruaru. E posso dizer que todos os meus passos na Câmara estavam sendo monitorados.

JV – Diante da operação Ponto Final, você é inocente e vai conseguir provar sua inocência?
Jajá – Tenho fé em Deus que vou provar minha inocência porque venho defendendo o povo de Caruaru. Vejam as centenas de denúncias que venho fazendo sobre a atual gestão.

JV – Você defende que a quebra do sigilo telefônico fosse aplicada a todos os vereadores?
Jajá – Nós da oposição, pedimos que quebrassem o sigilo telefônico dos vereadores desde junho de 2013, publicamente, na tribuna. Mas, infelizmente, só foi quebrado o sigilo dos nossos telefones.

JV – E a CPI sobre a suspeita de superfaturamento e mau uso de verba pública pela Prefeitura de Caruaru, apontado pelo relatório da Controladoria-Geral da União, vai dar em nada?
Jajá – A prefeitura estava com indícios de irregularidades de quase 18 milhões. Isso é um dos indícios e tem outra de 14 milhões. Nós (vereadores) pegamos a denúncia do Tribunal de Contas da União. Não fomos nós da oposição que fizemos a denúncia. Foi o Tribunal de Contas. E pegamos essa denúncia do TCU e levamos ao conhecimento da sociedade. Por isso, resolvemos criar a CPI e tivemos que recorrer à Justiça para conseguir. Dia 19 de dezembro de 2013, iríamos dar início ao relatório de investigação, mas dia 18 fomos presos. Resumindo, passa mais de 40 milhões. Nós trabalhamos com dinheiro público. Nós temos que denunciar sim as irregularidades que existem em nosso município. Mas para iniciar a CPI começou a turbulência na Câmara. Precisávamos de oito votos e, infelizmente, teve uma manobra na Câmara, e levaram à votação na plenária, derrotando a CPI. Como a maioria dos vereadores é da base do governo, a CPI foi derrotada e entramos na Justiça para mantê-la e ganhamos. Por coincidência, dia 21 de dezembro de 2013, o prefeito José Queiroz teria que atender ao meu pedido de informação sobre supostos empregos fantasmas na Prefeitura de Caruaru. Essas informações ainda não foram entregues.

JV – Diante de tantas denúncias em vídeo e fotos expostas num telão na Câmara, o pedido do vereador Ricardo Liberato de levar à votação o uso ou não do telão durante as sessões foi uma questão de censura ou de regimento?
Jajá – Foi censura. Ele tentou nos calar. Quando ele viu tantas denúncias, ele chegava para mim e dizia: “Jajá, está bom de parar.” “Você está batendo demais.” Ele dizia: “Você é o único que está incomodando a Câmara.” E eu respondi a ele que eu fui eleito pelo povo para mostrar a verdade e continuei denunciando sim. Doa a quem doer. Exemplo: um dia eu entrei numa escola de supetão com uma comissão de vereadores. Hora da merenda. Era para estar sendo servido galinha e uma “mesada” de comidas gostosas e estavam servindo bolacha Cream Craker com banana verde. Então, eu perguntei à gestora: ‘Cadê a merenda?’. Ela disse: ‘Não chegou aqui’. No freezer não tinha um quilo de carne. E a gestora disse que não podia fazer nada. E tem aluno indo para escola com sandália com um prego sustentando e o fardamento mofando nos fundos da escola. Numa escola do Murici, a água de fazer a merenda era com fezes de passarinho caindo do teto.