Famosos devem voltar a se arriscar nas urnas

Mário Flávio - 06.10.2013 às 10:25h

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Da Folha

Ante a expectativa de renovação de pelo menos 60% da Câmara dos Deputados em 2014, partidos se armam para impedir a diminuição de suas bancadas. O índice esperado supera a média histórica de substituições, na casa dos 50%. Para os dirigentes das siglas, os protestos de junho expressaram demanda dos eleitores por mudança na representação política.

As legendas contam com o reforço dos chamados “candidatos-celebridade” para formar chapas competitivas. O pagodeiro Belo (PTB-SP), o ex-judoca João Derly (PCdoB-RS), o goleiro do Sport, Magrão (PSB-PE), e o cirurgião plástico Dr. Rey (PSC-SP) são exemplos do que as siglas consideram puxadores de voto, ou seja, candidatos que podem abrir espaço para mais vagas na bancada.

Isso porque os bem votados repassam parte de seus votos para colegas de coligação. A partir do quociente eleitoral –número mínimo necessário para obter uma cadeira na Câmara–, um candidato menos votado, por exemplo, pode ser eleito caso haja um “puxador” na sua chapa. “Quem é conhecido, mas não é político, e que pode contemplar essa ideia de novidade? Artista e jogador de futebol”, explica Márcio França, presidente do PSB-SP. O partido do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, pré-candidato à Presidência em 2014, foi um dos que mais filiou estrelas para concorrer à Câmara.

Além de Magrão, o PSB lançará o presidente do Atlético-MG, Alexandre Kalil, e o astronauta Marcos Pontes (SP) à Câmara e tentará reeleger o ex-jogador e deputado federal Romário (RJ). “A estratégia é procurar nomes conhecidos, que sejam assimilados pela população com facilidade”, diz Carlos Lupi, presidente nacional do PDT.

A sigla aposta no ex-pagodeiro e cantor gospel Vaguinho (RJ) como reforço para eleger 35 deputados federais. O partido conseguiu uma bancada de 26 nomes em 2010, mas perdeu parlamentares para o PSD e o recém-criado Solidariedade. Uma celebridade, porém, pode não ser garantia de sucesso. Na lista dos dez deputados mais votados em 2010, só o primeiro colocado, o palhaço Tiririca (PR-SP), era aposta entre as “estrelas”, e teve 1,3 milhão de votos.

Segundo Chico Santa Rita, marqueteiro que comandou a campanha de Fernando Collor em 1989, “só há votação forte em um candidato famoso quando se trata de um ‘cacareco’, como Tiririca”. Partidos como PT e PSDB não costumam recorrer aos candidatos pouco convencionais. No entanto, na semana passada, os tucanos filiaram Giba, no Paraná, e seu ex-colega de quadra Giovane, em Minas Gerais, enquanto os petistas celebraram a filiação de Marcelinho Carioca, em São Paulo. O ex-jogador, que se candidatará a deputado estadual, não conseguiu se eleger vereador em 2012.

Já o coordenador do curso de Marketing Eleitoral da ESPM-SP, Victor Trujillo, diz que o “descrédito da Câmara como instituição” faz com que “os partidos procurem gente de fora da política, sem o chamado ‘filme queimado'”. O problema, pondera, é que o eleitor não entende que votando nas estrelas “acaba levando dois ou três da turma antiga” para o Congresso.