O presidente do PCdoB em Pernambuco, Alanir Cardoso, esteve em Caruaru no sábado (17) para acompanhar um encontro regional dos militantes do partido em Caruaru, realizado na Câmara Municipal, com o objetivo de atualizar os filiados sobre a linha de ações políticas nas eleições 2012. Em entrevista exclusiva ao blog, os jornalistas Johnny Pequeno e Mário Flávio Lima indagaram Alanir sobre as reais possibilidade de Lícius Cavalcanti lançar candidatura a prefeito nas eleições 2012 e, derrubar a relação de polarização entre grupos tradicionais na cidade.
No debate, entrou em questão também a construção política do PCdoB em todo o estado, o fortalecimento político em torno da eleição em Olinda e um ponto para o qual Alanir chama atenção: como certificar um candidato que tenha condições de manter Caruaru sob comando da Frente Popular. E essa indagação, reflexo do pensamento ponderado de Alanir, que coloca em dúvida se os desejos de militantes do PCdoB de Caruaru em prol uma possível candidatura de Lícius em 2012, não serão barrados pela Frente.
Johnny Pequeno – Alanir, tem se discutido a questão da autonomia do PCdoB no estado, assim como em Caruaru, com os grupos que se polarizam na cidade. Há quem diga que o partido poderia lançar uma candidatura própria nestas eleições. Qual seu posicionamento em relação a essas discussões?
O partido tem objetivos nacionais nessas eleições, como todos os outros partidos. Em 2012 vamos eleger prefeitos e vereadores, mas o ano não se encerra em si mesmo, diáloga com 2014, quando vamos eleger governadores, presidente, senadores… Então enxergamos este ano como um acúmulo de forças visando 2014. Nesse quadro, nós fazemos um exame do país, de cada estado e temos obrigação de analisar a particularidade de cada cidade. Estamos recolhendo a opinião de nossos companheiros em cada região, para saber como o partido deve se posicionar em cada quadro. Evidentemente, queremos realizar essas disputas onde o partido puder encabeçar chapa aglutinando forças, em que a gente seja a solução política do nosso campo de força, faremos essa disputa. No entanto, onde não houver essa possibilidade de forças, vamos apoiar o nome mais viável da Frente Popular.
Essa é uma orientação geral, nos guiamos por essa conduta e o partido está unido em torno disso. Aparentemente, há quem poderia dizer que estamos correndo contra o tempo, que o tempo está curto para discutir eleições, mas estamos em um momento sim de possibilidades, discussões. Veja o que acontece no Recife, por exemplo, onde o PT ainda não conseguiu chegar a um consenso sobre quem será o candidato pelo partido. Se na capital, a definição de um nome que faz parte da Frente está emperrado, isso pode influenciar o debate em torno de possíveis candidatos nas outra cidades do estado, embora nenhuma cidade, lógico, esteja subordinada às definições políticas da capital, falo apenas em uma questão de consequências de decisões políticas em uma cidade que é o principal quadro eleitoral do estado…
JP – Mas, isso poderia ser o caso de Olinda também?
Olha, o caso de Olinda tem uma particularidade. Lá, o prefeito é do PCdoB, fez bom governo e temos a pretensão de reelegê-lo. Havia, até semana passada, a postulação da pré-candidatura de Tereza Leitão, que é do PT, que tem o vice-prefeito da cidade, ou seja um parceiro importante na composição da chapa, por indicar o vice de Olinda. A deputada tinha essa pretensão também e convivemos com isso, mas em reunião passada, o PT decidiu não lançar candidatura isolada. Então nesse sentido, houve um consenso e a definição da Frente Popular avançou.
JP – Daria então para comparar a autonomia do PCdoB em Olinda com o posicionamento do diretório do partido aqui em Caruaru?
Partidariamente, o PCdoB é autônomo, sempre foi, sempre será. A construção política em cada cidade é um diálogo entre a direção estadual e a municipal em cada cidade. Como partido nacional, as direções nacionais e estaduais acompanham o passo a passo da realidade política em cada cidade. Isso é benéfico, porque temos uma única linha e interagimos entre cada partido. Sendo assim, estamos acompanhando o PCdoB em Caruaru e observamos que ele age de acordo com nossa linha política e não há dicotomia entre o que pensa o partido aqui e o pensamento estadual.
JP – Mas, há alguma dicotomia em relação à gestão Zé Queiroz?
Olhe só, não examinamos em profundidade essa realidade de Caruaru. Zé Queiroz é prefeito, pela legislação, pode ser candidato à reeleição. Agora, não examinamos o suficiente essa realidade, e quando digo nós, refiro-me ao conjunto dos outros partidos que ajudaram a eleger Zé Queiroz, para chegar a uma conclusão. Não foi feito esse exame, pois está em curso, ele vai se dar nos próximos períodos, já que as convenções partidárias acontecerão só em junho, então há tempo político suficiente para definirmos como travar a batalha da sucessão política em Caruaru.
Mário Flávio – E como você entende a aproximação entre Zé Queiroz e Renildo Calheiros lá em Olinda?
Ah, mas sempre houve boas relações entre eles…
MF – Não seria Queiroz passando por cima de Lícius ?
Não, aproximação nesse sentido, não. Queiroz é prefeito de Caruaru. Renildo é prefeito de Olinda. Queiroz é presidente estadual do PDT. Renildo foi deputado federal com Wolney em vários mandatos. Eles têm relações muito próximas. É natural as pessoas conversarem, se entenderem e no nosso partido, os militantes têm total liberdade para manter contato com outros políticos.
JP – E qual sua avaliação sobre a atuação de Lícius Cavalcanti como vereador e força política do PCdoB em Caruaru?
Lícius… Além de ser presidente da Câmara, é presidente do partido na cidade, é um homem de serviços prestados e importante para a vida política de Caruaru. Nós temos dois vereadores na Câmara, o partido tem inserção em movimentos sociais, e o partido terá papel importante na construção política destas eleições.
JP – Lícius tem conversado com o vereador Diogo Cantarelli, do PSDB, que postula uma candidatura própria, visando uma possível aliança para as eleições 2012, assim como também chegou a conversar com Marcelo Rodrigues, que comanda o PV em Caruaru. Esses contatos representariam aquela questão de aglutinar o poder?
Somos um partido que busca diálogo permanente com as legendas do nosso campo de força, então dialogar com partidos da Frente é uma necessidade política. Mas, você levanta a questão do PSDB e eu digo que dialogar com esse partido não está fora de propósito. Aqui o partido principal de oposição é o Democratas, as lideranças centrais da oposição são do DEM, encabeçadas pelo deputado Tony Gel e por sua esposa, ex-deputada Miriam Lacerda. São os nomes mais ventilados para uma polarização da eleição municipal. Nesse sentido, o PSDB não tem essa afinidade tão estreita com os Democratas atualmente, o que permite diálogo com o partido no momento. Já o PV faz parte da base de sustentação da Frente Popular no estado, tem uma secretaria estadual então está dentro do grupo, mesmo que o partido tenha lançado Marina Silva como candidata à presidência nas eleições passadas. Dialogar com esses partidos representa a busca por estreitar laços e construir objetivos comuns.
JP – Mas, mesmo não havendo um estudo sobre a realidade da construção política de Caruaru, como você cita, caso houvesse uma chapa liderada por Lícius, ela seria favorável, por ser considerada uma terceira via?
Em princípio isso é uma tese que a realidade não colocou ainda nesse nível. O ponto de partida em Caruaru é discutir como manter Caruaru governada pela Frente Popular. Esse é o desafio que devemos responder. Nós não queremos perder Caruaru, como não queremos perder Recife, nem Olinda, nem qualquer outra cidade que governemos. Devemos examinar as consequências que a disputa aqui vai refletir para o estado, por Caruaru ser seguramente a cidade mais importante do interior. Não é por acaso que Caruaru tem uma representação política tão importante no estado. É daqui o vice-governador, são daqui duas deputadas estaduais da nossa base eleitas, é um deputado estadual da oposição e é daqui um deputado federal do nosso campo de força. Poucas cidades tem uma representação política tão influente na vida política de Pernambuco. Portanto, nós temos que tratar Caruaru com o peso que tem como força política no estado.
JP – Você chegou a conversar com Zé Queiroz pessoalmente sobre a construção política de Caruaru?
Recentemente não, mas estamos à disposição e vamos começar a entrar em contato, porque como prefeito, deve ter a pretensão de se disputar a reeleição e seguramente nós vamos conversar, até porque é do nosso interesse estreitar nossas relações.
JP – E com o vice-governador, o contato é frequente?
Nós temos relações, temos tido mais contato, com relativa frequência, em atividades do governo, inauguração de obras, reuniões…
MF – E na possibilidade de um futuro governo de Zé Queiroz, o PCdoB compondo a coligação dele, o partido buscaria mais espaço na gestão? Isso porque atualmente a participação se resume a uma diretoria de segundo escalão…
Isso é uma questão que entrará na mesa de negociação, evidentemente, não é pre-condição, mas vamos examinar, até porque todo partido que ajuda a eleger um prefeito tem que ter participação no governo e esta deve ser à altura do peso que o partido tem. Em Olinda, estamos na terceira gestão consecutiva. Todas as forças que nos ajudaram participam do governo e fazem isso com responsabilidade de administrar a cidade. Você veja, o PT, além do vice-prefeito, tem duas secretarias municipais, dois vereadores na Câmara Municipal, tem forte presença no governo, assim como o PSB, outro exemplo, que tem vereadores na cidade e participa da gestão. Isso é justo, é necessário, isso acontece no governo estadual. O PCdoB também tem sua fatia justa, comanda uma secretaria estadual, isso é fundamental.