Na trajetória do PMDB, percebemos um partido com uma bandeira de luta propositiva. Inicialmente fez oposição ao regime militar e foi adversário do ARENA, mas há alguns elementos curiosos que podemos usar pra utilizar na reflexão sobre a situação do partido atualmente em um contexto bem mais isolado: o da Capital do Agreste. O PMDB não está fundamentado em uma ideologia própria, aliás, ele é caracterizado como um pega-tudo que reúne lideranças de bandeiras distintas, embora se defina como centrista.
No entanto, o partido tomou uma representação “fisiológica”, pela qual se sustenta aglomerando espaço no governo e isso pode significar tornar o partido moeda de troca de votos, ou em Caruaru, de tempo no guia eleitoral. A briga pelo PMDB em Caruaru tomou maiores proporções desde 2011, quando Reginaldo França entrou na justiça contra o ex-presidente da comissão provisória do partido, Adjar Soares, para retomar o comando do partido, restabelecendo-o como Diretório Municipal, sob a influência da base do governo.
Reginaldo presidiu o PMDB durante os sete anos e três meses da gestão de Tony Gel (DEM) e permaneceu no cargo no mandato tampão de Neguinho Teixeira. O peemedebista foi um dos secretários mais fortes na época em que Tony Gel era prefeito e ficou até o fim da gestão de Neguinho. Sucederam uma série de recursos, liminares, mandados de segurança, que ora restituíam a Comissão Provisória, que manteria o PMDB aliado ao DEM, ora restabeleciam o Diretório Municipal. E, em paralelo às brigas entre governo e oposição, ainda surgiu Rivaldo Soares, atual membro do partido que, isolado politicamente, ainda insistiu na possibilidade de lançar candidatura própria do partido nestas eleições.
Nas eleições municipais de 2008, o PMDB apoiou a candidatura de Rivaldo Soares, que na época estava filiado ao PPS. Mas, depois que uma nova Comissão Provisória foi constituída em junho de 2012, sob a presidência do pai de Adjar, Severino Soares, em paralelo a uma nova liminar que concedeu o comando da sigla a Reginaldo França, o impasse envolvendo o partido culminou na realização de duas convenções partidárias, registradas em atas, uma coligada ao Caruaru em Boas Mãos, que apoia Miriam Lacerda (DEM), outra pelo Caruaru com a Força do Brasil, que apoia Zé Queiroz (PDT).
Enquanto a base do governo entrou com um pedido de impugnação contra a convenção realizada por Severino Soares, ainda havia Rivaldo, que contestou na Justiça as convenções, por apontar irregularidades na estrutura das duas composições partidárias. Mas, enfim, nessa quarta-feira (25), o juiz Jefferson Félix decidiu em favor da coligação Caruaru em Boas Mãos, mantendo o partido com Miriam Lacerda, embora a assessoria jurídica de Zé Queiroz tenha pronunciado que vai entrar com recurso junto ao TRE, e ainda que Rivaldo Soares também tenha declarado que continua a esperar que o registro das duas convenções sejam anulados.
Toda essa confusão sobre quem preside o partido, se é comissão ou diretório, se apresenta irregularidades ou não, acabou deixando de lado o que deveria, teoricamente, importar mais: qual a construção ideológica do partido para as eleições 2012? O imbróglio de quem manteria o PMDB em suas trincheiras, resumiu-se a lutar pelo tempo de guia eleitoral. Mesmo que atualmente os filiados mais ativos do partido estejam na oposição, não se vê nenhum dos 10 candidatos a vereador registrados pelo PMDB, que tenha apresentado qual a importância do partido para o debate sobre o desenvolvimento da cidade.
Da mesma forma, a base governista também não disse em que ideologicamente o partido é tão necessário. Curiosamente, Rivaldo Soares foi o único que quis discutir o PMDB enquanto sigla independente e como alternativa para uma gestão de participação popular, embora não tenha apresentado propostas concretas, não tenha conseguido validar juridicamente nem uma pré-candidatura e continue isolado politicamente e ameaçado de expulsão. Como moeda de troca de votos, o PMDB tem uma importância muito grande em Caruaru e faz jus à sua característica fisiológica.