Coluna do Blog do MF da sexta – Quando a fala atropela o cargo

Mário Flávio - 21.03.2025 às 07:13h

A recente declaração do ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski — de que “a polícia prende mal e a Justiça é obrigada a soltar” — foi mais que uma infelicidade retórica. Foi um tropeço político que gerou um ruído desnecessário, acendendo o alerta entre governadores, parlamentares e representantes da própria segurança pública.

Eduardo Leite e Romeu Zema não perderam tempo em rechaçar a fala do ministro, expondo o desgaste público que palavras mal calibradas podem causar. A reação da chamada bancada da bala foi imediata: deputados começaram a se articular para convocar Lewandowski à Câmara. Não se trata apenas de divergência de opinião — é uma crise de confiança entre os poderes e, sobretudo, entre o ministério e os profissionais que atuam diretamente na linha de frente da segurança.

Até delegados da Polícia Federal, que estão sob o guarda-chuva do próprio ministério, se sentiram atingidos. Criticaram o ministro por emitir juízos “sem evidências”. Isso não é pouca coisa. Quando os próprios quadros da pasta contestam o titular, o problema deixa de ser político e se torna institucional.

Diante da pressão, o ministério tentou apagar o incêndio com uma nota oficial: Lewandowski, segundo o texto, se referia à falta de integração entre as polícias. Talvez tenha sido isso mesmo. Mas o mal já estava feito. Em segurança pública, onde as palavras pesam tanto quanto as ações, não há espaço para generalizações ou críticas lançadas sem precisão.

A crítica à desarticulação entre as forças de segurança é legítima e necessária. O Brasil realmente precisa avançar na integração entre as polícias Civil, Militar, Federal e outras instâncias. Mas isso se constrói com diálogo, investimento e reconhecimento — não com frases que colocam em xeque o trabalho de milhares de profissionais.

Lewandowski, ex-ministro do Supremo, conhece bem o peso das palavras. Justamente por isso, esperava-se mais cuidado. O cargo que ocupa exige ponderação, articulação política e, sobretudo, respeito às instituições que compõem o sistema de justiça e segurança. Numa área tão sensível, qualquer ruído pode soar como descompasso — ou, pior, como desprezo.