Seja qual for sua posição política, é inegável que a direita brasileira tem sabido usar as redes sociais com uma eficiência que a esquerda ainda não consegue igualar. Um exemplo recente disso é o vídeo do deputado federal Nikolas Ferreira (PL) criticando o governo Lula sobre a decisão de monitorar transações via Pix (pelo menos foi essa a linha que ele seguiu). No Instagram, a publicação ultrapassou 108 milhões de visualizações – mais da metade da população brasileira, juntando as outras redes. É um número impressionante, que mostra como a comunicação da direita consegue transformar temas complexos em mensagens diretas, envolventes e virais, que atingem a todos os públicos.
O debate sobre o conteúdo do vídeo – ou mesmo sobre a atuação do deputado – é válido, mas o ponto aqui vai além disso. Trata-se de uma questão estratégica: como Nikolas Ferreira e outros políticos da direita conseguem tanta tração nas redes enquanto a esquerda continua patinando? A resposta parece residir em dois pilares: narrativa e execução.
A direita tem sido ágil em captar as emoções do público e transformá-las em narrativas curtas e de impacto, mesmo quando polêmicas. A esquerda, por outro lado, frequentemente adota uma postura mais formal e analítica, que tem dificuldade em engajar audiências, especialmente os mais jovens, principalmente investindo em parceria com a mídia tradicional, que as vezes não fala a linguagem moderna e atual.
No caso do governo Lula, a troca de comando no Ministério da Comunicação – saindo Paulo Pimenta e entrando Sidônio Palmeira – é um reconhecimento de que algo não estava funcionando. Palmeira, que teve papel relevante na campanha presidencial de 2022, carrega consigo a esperança de uma mudança na estratégia de comunicação. Mas será que isso será suficiente?
Até agora, o governo tem enfrentado dificuldade para engajar com a juventude, um público que consome informação de maneira rápida e espera narrativas mais autênticas e diretas. Um exemplo disso é que o jovem atual não sonha mais apenas em ter a carteira assinada, uma bandeira histórica de Lula, ele quer empreender e ter seu próprio negócio. Enquanto isso, figuras como Nikolas Ferreira não apenas ocupam esse espaço, mas o dominam. Com sua retórica simples e provocativa, ele atinge milhões com uma mensagem que, independentemente de sua veracidade ou complexidade, encontra eco em uma audiência conectada e em busca de identificação.
A esquerda, se quiser equilibrar essa disputa, precisa de mais do que mudanças de nomes nos ministérios. É necessário compreender que, no campo das redes sociais, não basta ter a razão – é preciso saber como entregá-la de forma que o público se importe. É hora de aprender com os erros e, quem sabe, buscar inspiração nos próprios adversários. Afinal, enquanto a direita segue liderando o jogo das redes, a esquerda parece ainda estar tentando entender as regras e muitas vezes defendendo pautas que ficaram no passado e não interessam mais ao presente. A conferir.
