Na semana passada, neste blog, abordei algumas questões sobre a agonizante situação da identidade cultural do São João de Caruaru, e nesta semana retomarei o tema pela complexidade e urgência em levantar aspectos que estão deformando a nossa identidade.
Início por um relato de experiência, no último sábado, saí com a esposa e filha para a estação e o Pátio do Forró e entre outras coisas tivemos uma grande dificuldade para encontrar uma barraca minimamente organizada, que oferecesse as iguarias da época, por incrível que pareça, é mais fácil encontrar qualquer tipo de hambúrguer do que encontrar pamonha ou canjica.
As estruturas metálicas nos aproximam a um ambiente frio e sem vida. A identidade visual que pouco ou nada ter a ver com a história dos nossos festejos, senti-me desterritorializado na minha própria cidade.
Discutir a grade de programação se tornou banal e há pelo menos uma década e meia às atrações completamente fora de um contexto cultural tomaram conta. A minha preocupação se dá no tocante a uma perspectiva em médio prazo do que poderá ser o nosso São João, que cada vez mais tem um teor privado do que popular. As iniciativas de descentralização levando os festejos para as zonas rurais e o incentivo às comidas gigantes nos mostra que o “pulso ainda pulsa”.
O nosso São João virou um evento que se pensa 11 meses para a execução de “30 dias”, como que na preservação cultural deveria ser o contrário, a prioridade cultural é também um retrato dos nossos governantes em todas as esferas, o que importa é público e dinheiro, isso lembra um pouco da política do pão e circo da Roma Antiga.
Preocupo-me muito com nossas raízes culturais, não sendo fundamentalista, mas de forma alguma em nome do discurso falacioso aceitarei ver a nossa identidade sendo perdida em nome de um pensamento meramente econômico ou naturalizar a afirmação que “é isso que o jovem gosta”.
Estamos perdendo a luta cultural da musicalidade, amanhã poderá ser as nossas fogueiras, depois nossas comidas típicas e quando menos esperarmos estaremos nos perdendo de nós mesmo, culturalmente falando.
*Alberes Silva é professor