O texto publicado no blog da urbanista que tanto admiramos, Raquel Rolnik, e reproduzido por este blog, intitulado como: “Arquitetura nota 10, mas urbanismo…”, mostra um trabalho do nosso escritório (Jirau Arquitetura e Urbanismo) e faz uma bela reflexão sobre o modelo de cidade para onde a nossa legislação, vinculada aos programas habitacionais do Governo Federal nos encurralam.
Quem vive o dia a dia de trabalhar para o mercado imobiliário e, ainda assim, tenta projetar com dignidade, em cada oportunidade oferecida, sabe o quão pesada é a luta para equacionar os interesses financeiros, as legislações burras e os nossos mais vivos anseios de urbanidade.
Desde as nossas primeiras incursões nos projetos de habitação social (Alto do Moura Village, 2009), até os nossos mais recentes projetos, vamos avançando, degrau por degrau, no sentido de construir um discurso e abrir um diálogo com o mercado sobre o tema da moradia para os projetos de habitação do Governo. Pouco a pouco, a casa de pombo vai deixando de ser o padrão por aqui.
Os anseios sobre o objeto arquitetônico também são maiores e, consequentemente, o que produzimos hoje enquanto arquitetura é sem dúvidas um avanço. Mas a grande questão continua no urbanismo. Esse mesmo impacto que Rolnik sentiu, nós fazemos questão de mostrar e denunciar, como aconteceu no último sábado, quando recebemos uma turma de arquitetura de Teresina-PI, que nos pediu que os acompanhássemos e sugeríssemos alguns projetos nossos para visitar. Foi justamente no Wirton Lira que começamos a visita porque é lá, diante dessa realidade, que nós podemos estimular essa discussão.
O nosso discurso é o mesmo de Rolnik. O Minha Casa Minha Vida produz apenas casas, não produz cidade. O que ainda é muito melhor do que o hiato que tivemos antes dos governos da ultima década, que não erraram, simplesmente porque não construíram nada, nem casa, nem cidade.
No final, quem faz arquitetura faz cidade, e nesse ponto, o programa MCMV se assemelha a qualquer outro programa de habitação social, a qualquer COHAB. Não existe espaço na discussão para a pulverização do uso comercial, não existe espaço dentro dos orçamentos para a viabilização de calçadas confortáveis ou ciclovias, aquela praça que nosso escritório concebeu, não passou de uma mancha verde na planta de aprovação.
Além disso, as pessoas se sentem inseguras, constroem cada qual sua fortaleza, com portões herméticos e cercas elétricas e a cidade que temos, na vida real, se afasta cada dia mais, da que com tanto suor e esforço, nós propusemos e à duras penas defendemos. E não se engane, não é por falta de proposição da nossa equipe que não temos as escolas, as praças, as calçadas, os comércios e os serviços apresentados nos projetos.
O que falta são programas relacionados com o que realmente faz uma cidade ter qualidade. O que falta – localmente falando – é uma legislação inteligente, que permita discussões sobre os assuntos que realmente importam, como bem disse Raquel Rolnik.
*Pablo Patriota é arquiteto do escritório caruaruense Jirau Arquitetura e Urbanismo.