Segundo estudo divulgado na semana passada pelo Banco Mundial, dados revelados em ampla pesquisa da referida instituição são de grande importância para a sociologia, e mais ainda para o governo atual e futuros personagens que pretendem se candidatar aos cargos que estarão na disputa eleitoral 2018. De alto valor científico, a parte que mais me chamou a atenção da pesquisa foi no quesito juventude brasileira, formada por moças e rapazes, na faixa etária de 15 aos 29 anos. Segundo foi coletado, o Brasil tem uma população nessa faixa etária de aproximadamente 50 milhões de pessoas, dos quais 25 milhões estão em margem de risco social, fora do setor produtivo e da economia.
Quarenta e cinco por cento, ou onze milhões, duzentos e cinquenta mil deles não trabalham nem estudam, o que fortalece a ociosidade coletiva, primeiro estágio para serem assediados pela criminalidade, principalmente aqueles que vivem nas periferias das cidades, convivendo com o distúrbio familiar originário do consumo de álcool, drogas lícitas ou não, violência, falta de estrutura urbana etc. Oito milhões e setecentos e cinquenta mil jovens são arrimos de família, provendo o sustento do lar em subempregos, e não possuem escolaridade necessária que lhes garantam uma formação profissional.
Já para dois milhões e meio de jovens, a combinação de trabalho e estudos sobrecarregam-lhe, geralmente comprometendo as duas atividades: um trabalhador cansado e um estudante com menor capacidade de aprendizado e interação.
Ampliando a reflexão e o debate no nosso país, apenas 40% da população tem o ensino médio completo, o que revela o tema Escolaridade como secundário nesses cinco séculos de nacionalidade. Quando ela chega nos primórdios do Brasil com a marca dos Jesuítas, recebemos uma educação de alto caráter religioso e menor valor científico, mas também excludente, já que era direito de poucos, e do ângulo pedagógico, tinha uma característica muito preocupante: adquirir o conhecimento nos tornava cidadãos obedientes aos governantes e a própria igreja, mesmo após a reforma protestante de 1517 que propõe um modelo diferente: a educação deve ter um forte base científica e que seja transformadora da realidade social daqueles que se tornam parceiros do saber.
A pobreza material, proveniente da concentração de rendas e exploração dos latifúndios, não pode ser interpretada como uma “benção de Deus” que permite o sofrimento agora para o sujeito ser beneficiado no céu, após a morte. Dotados de consciência social adquirida pela boa escolaridade, somos agentes transformadores da realidade adversa, refletimos, questionamos, cobramos direitos e exercemos deveres, aspectos elementares na construção de uma sociedade mais científica e menos passiva dos governantes e seus líderes religiosos.
O nosso país tem uma estrutura voltada para os jovens, através do sistema “S”: Senai, Sesc, Sesi e outras instituições de menor envergadura, ofertando escolaridade e profissionalização, que apesar das boas estruturas e eficientes profissionais, não alcançam cem por cento do território brasileiro, como também não chega a uma população que nasce à margem dos programas de inclusão existentes nesses órgãos. Vale levar em conta outros aspectos, como o desenvolvimento tecnológico, diretamente responsável pela dispensa dos trabalhadores e seus préstimos, além de profissionais que estão dispensados por profissões em extinção. Retratada a situação preocupante, merece um esforço social e político, para que o Brasil saiba corrigir esse desafiador quadro, num curto espaço de tempo. Juventude capacitada é a garantia de país promissor.
*Prof. José Urbano