Artigo – Entre cavaleiros e cavalgados, os novos desafiantes em Caruaru – por Mário Benning*

Mário Flávio - 29.05.2015 às 07:06h

A divulgação de que Caruaru poderá ter pela primeira vez uma eleição em dois turnos ouriçou o mundo político local. Existe claramente a possibilidade de romper com os eternos clássicos da política caruaense. Onde a cada eleição são sempre colocados candidatos dos mesmos grupos políticos. Pode-se, pela primeira vez, colocar outra opção no cardápio da política municipal, além das já tradicionais carnes de sol ou charque, uma carne nova.

Porém entre a possibilidade e a realidade existe um espaço enorme, e muita água ainda vai passar por baixo da ponte até que essa definição fica clara. O que se pode afirmar é que essa história dependerá, exclusivamente, das decisões tomadas por alguns aspirantes à lideranças locais. Se tiverem coragem de assumir o papel de protagonistas, ou se continuarão nas confortáveis posições secundárias, verdadeiros satélites a orbitarem as estrelas da política caruaruense.

O primeiro grupo é composto pela coligação que PSD, PT e PTB, que ganharam força com a vitória de Dilma em Caruaru no segundo turno da eleição presidencial. E aproveitaram a vitória acachapante, com mais de 60% dos votos, para capitalizarem esse resultado em torno da tese da renovação. Já que os eleitores caruaruenses dissociaram-se fortemente de suas lideranças tradicionais. Com eles votando maciçamente em Dilma, enquanto: Gel, Lyra e Queiroz, apoiaram Aécio Neves.

Pré-candidatos nesse grupo não faltam, desde o Senador Douglas Cintra ao vereador Demóstenes Veras, ou algum nome do PT. Em diversas falas, os membros desse conjunto , já assumiram de maneira inequívoca o desejo de governarem Caruaru. O que “melou” os planos dessa composição foi o esgarçamento político do Governo Dilma, às crise política e econômica, pois esse seria o estandarte que legitimaria a campanha desse grupo, os candidatos de Dilma e Lula na cidade.

O que facilitaria, daria um empurrão, nesse grupo, é se Queiroz escolher manter sua aliança com o Governador Paulo Câmara. Costurando o apoio do seu partido, o PDT, a reeleição de Geraldo Júlio, e cobrando uma reciprocidade, um lá e ló. Com o PSB mantendo a vaga de Vice Prefeito aqui. Desde que o ungido, o candidato do prefeito, seja um nome não comprometido com oposição estadual, do bloco PT e PTB, e que apoie ,efetivamente, o projeto do PSB em 2018, a reeleição de Paulo Câmara.

Com essa costura, que já foi feita em 2012, Queiroz torpedearia o projeto dos Lyra, podendo até manter outro Gomes na vaga de Vice. Laura Gomes, daria uma legitimidade, principalmente se o escolhido for um poste, e contaria com apoio do Governador para enquadrar os partidos nanicos.

Se a escolha for está, ficará muito difícil para esse conjunto político manter-se na coligação do prefeito, impossível mesmo. Já que uma composição entre Queiroz e o PSB, excluirá automaticamente o PT e o PTB, em virtude do acirramento na política no estadual. Porém, há a possibilidade de mesmo assim, esse grupo aceitar o golpe e partir para a submissão. Não se coligando para prefeito, mas coligando-se na proporcional, escolhendo a acomodação política a ruptura e o confronto. Aceitando alguns cargos na máquina como pagamento, o que inviabilizaria qualquer pretensão política futura desse grupo na cidade.

O outro grupo desafiante é o PSDB, que em Caruaru sempre orbitou confortavelmente o grupo Tony Gel. Tendo inclusive ocupado o espaço de Vice Prefeito em diversas campanhas. Com a formação de um novo diretório municipal e uma campanha bem sucedida de filiações políticas. O novo PSDB, é a primeira seria ameaça ao protagonismo de Tony Gel, a sua liderança no campo da oposição. Um campo onde ele reinou absoluto, confortavelmente, desde o ocaso de Draylton Nejaim.

As armas usadas até o momento são,explorar as fragilidades no discurso de Gel, alguns do seus calos. Desde a busca em cooptar um grupo em que Gel sempre teve dificuldade em penetrar, os mais escolarizados. E uso da rejeição ao PT em nível nacional, para também se credenciar junto aos menos escolarizados, minando assim a sua fortaleza, a sua base. Usando como mote a redução da máquina pública, e sua eficiência, outro calo de Gel, para se firmarem como protagonistas políticos.

Se eles, os membros do PSDB, realmente vão desafiar o controle de Gel na direita caruaruense, ou se estão falando grosso para assegurarem a vaga de Vice mais uma vez, só o futuro dirá.

Porém tanto o PSDB quanto o conjunto PT-PTB, tem que entender, é que só se converterão em alternativas de poder se partirem para o confronto. Afinal só time que disputa tem torcida.

A Prefeitura de Caruaru não é um prêmio para os mais obedientes, para os mais bem comportados. Para administrar a maior e mais rica cidade do interior, a capital do Agreste, será preciso ir além dos discursos e unir teoria e prática. Colocando em prática os conselhos de Maquiavel para o líder ideal, onde a vitória seria uma consequência da conjunção entre a fortuna e a virtude.

Com a fortuna não significando riqueza, mais sim a oportunidade. Ter a chance, a sorte da janela se abrir, o está no lugar certo na hora certa. E a virtude, a habilidade de saber aproveitar essa chance, de ver o cavalo selado passando e cavalga-lo. A chance está em aberto, e se nossas jovens lideranças não aproveitarem a oportunidade, é porque, infelizmente, não tem vocação para serem cavaleiros, líderes. E devem se resignar com o papel de cavalgados na política caruaruense.

*Mário Benning, é Mestre em Geografia e Professor do IFPE/Caruaru. Texto postado no Blog Caruaru Vermelho.