Antônio Miranda se despede do Jornal Vanguarda

Mário Flávio - 25.02.2012 às 12:13h

O mês de fevereiro deixa o jornalismo de Caruaru mais triste. O  jornal Vanguarda está sendo veículado essa semana com uma reportagem assinada pelo jornalista Fernandino Neto, a qual, mostra que o experiente jornalista, Antônio Miranda, vai deixar de escrever a sua tradicional coluna no periódico. Seu Antônio Miranda é uma referência e merece todas as homenagens das gerações de comunicadores de Caruaru. Uma figura carismática, que serve de exemplo para qualquer um que se aventure a adentrar no mundo das letras. Segue abaixo a reportagem assinada por Fernandino Neto e esperamos que muitas homenagens sejam prestadas ao mestre das palavras.

Reportagem: Fernandino Neto

Há pelo menos seis décadas escrevendo para o Jornal VANGUARDA, o jornalista Antonio Miranda se despede, este mês, do periódico. Neste sábado, circulará pela última vez a Coluna do Miranda, em que o jornalista caruaruense traz à tona recordações da Caruaru do passado e sua gente. Miranda, que está com 88 anos, sofreu recentemente uma isquemia cerebral que o impede de continuar fazendo o que motivou a sua vida até aqui: escrevendo, alegrando e emocionando seus leitores – muitos deles fiéis e que o acompanham há muitos anos.

Eminente jornalista, sua trajetória no universo da notícia começou quase por acaso. Quando criança, Miranda trabalhava com o pai, Miguel Miranda Cavalcante, num armazém na rua dos Sapateiros. A mãe, Alexandrina Vasconcelos Cavalcante, o garoto nem chegou a conhecer direito. “Quando ela morreu, eu tinha um ano. Não me lembro da fisionomia dela”, explica. Os jornais e revistas que o pai comprava, aos domingos, eram ‘devorados’ por Miranda e inspiraram seu lado escritor. Fez curso de guarda livros, na antiga Academia de Comércio, graduou-se pela Faculdade de Direito de Caruaru e, em 1963, participou de Curso Intensivo de Jornalismo, a profissão que abraçou por toda vida e através da qual conquistou sua aposentadoria.

Antonio Miranda Cavalcante nasceu no dia 1º de abril de 1923. Caruaruense da rua Preta, na adolescência chegou a acreditar que era poeta. Escreveu uma poesia e queria publicar no VANGUARDA. Com medo de não ser atendido pelo jornalista José Carlos Florêncio, fundador e então diretor do semanário, Miranda decidiu jogar o seu trabalho por debaixo da porta e correu para não ser visto. A espera quase o desanimou. Até então, nada havia sido publicado. Em seguida, veio a surpresa. Algumas semanas depois, o seu texto estampava a página literária do jornal.

Escrevendo poesias e crônicas para os jornais da época, a exemplo do católico A Defesa, Miranda viu as portas da imprensa se abrirem. Embora gostasse do estilo literário, sua preferência sempre foi pela literatura de não-ficção. Em parceria com Azael Leitão, Nelson Barbalho, Luiz Torres e outros “amantes das letras”, criou o Jornal do Agreste, considerado por ele como sendo o mais ‘peitudo’ que já existiu em Caruaru. O jornal acabou fechando devido à escassez de recursos.

Quando passou a colaborar com o VANGUARDA, sua coluna recebeu o nome de Domingo. Muitos anos depois, o espaço de comentários acabou recebendo o seu próprio nome. Hoje, a Coluna do Miranda é uma das mais tradicionais do jornal e da imprensa pernambucana. Revivendo histórias de um passado distante para muitos ou nem tanto para outros, Antonio Miranda acabou se tornando um dos principais expoentes do jornalismo pernambucano e, com um detalhe: até poucas semanas atrás, numa época em que as redações pouco ou nada têm a ver com as que trabalhou no passado, continuava produzindo e contando “causos”.

CORRESPONDENTE
Foi o jornalista Luiz Torres, correspondente do Jornal do Commercio, em Caruaru, quem indicou Antonio Miranda para assumir a mesma função no Diario de Pernambuco. A parceria durou cerca de 15 anos e Miranda guarda em seu arquivo pessoal as principais matérias que escreveu para a imprensa pernambucana.

Em seus escritos, Miranda também noticiava os bastidores políticos e as ações dos movimentos sociais, econômicos e religiosos. O “faro” jornalístico não lhe decepcionava. Miranda sempre estava antenado e atento a tudo que pudesse preencher as linhas de uma boa matéria. Tanto que descobriu que uma vaca subiu no telhado de uma fábrica de camas e, lá de cima, dançou xaxado. A matéria foi reproduzida em jornais de todo o país e também fora dele. O fato rendeu comentários feitos pela BBC de Londres, e pela Voz da América, nos Estados Unidos.

Através desta reportagem, a família VANGUARDA presta uma homenagem ao jornalista Antonio Miranda e agradece por tantos e tantos anos de uma parceria que consideramos eterna. Aproveitamos para desejar uma rápida e exitosa recuperação, colocando-nos sempre à disposição. E, apesar de estarmos no início do ano, queremos nos despedir deste contador de “causos” da forma como ele sempre se despede de cada um de nós: “Feliz Natal, Mirandinha!”.

Parabéns, seu Miranda! Aliás, Miranda, porque como ele mesmo diz: “já vendi o meu engenho, então não posso mais ser chamado de senhor”.