A ditadura militar torturou, sequestrou e perseguiu crianças e adolescentes – Por Fred Santiago*

Mário Flávio - 11.10.2021 às 09:25h

Já se tornou lugar comum nas ordas conservadoras atuais a ideia de que a ditadura militar foi violenta apenas contra “terroristas” e que, portanto, os chamados “cidadãos de bem” teriam passado incólumes pelo período ditatorial. Tal afirmação, quando confrontada com as evidências históricas, não se sustenta. A seguir, citaremos alguns casos de crianças e adolescentes vítima da brutalidade da ditadura militar brasileira.

O garoto Antônio José da Silva foi preso e espancado em 1974 na região do Araguaia e, em seguida, levado para um quartel no Estado do Rio de Janeiro. Até hoje não se tem notícia do seu paradeiro.

Em 1968, uma militante política teve seu filha recém nascida sequestrada por militares e deixada numa instituição religiosa. Posteriormente, a garota foi adotada, ilegalmente por um militar de alta patente do exército.

Em 1973, Giovani Viana da Conceição, com pouco mais de quatro anos de idade, foi sequestrado por militares na cidade de Araguaína. Está desaparecido até hoje.
Em 1964 a garota Iracema e sua mãe Lúcia Emília foram presas no Recife e levadas para uma unidade militar. No local, Iracema viu sua mão ser torturada. A garota foi espancada e seviciada. Em seguida, foi deixada por militares na praça do Derby.

No dia 07 de novembro de 1973, o adolescente José Ribamar foi preso e levado para a base militar de Bacaba para, em seguida, ser transferido para o quartel general do exército em Belém do Pará, onde foi obrigado a trabalhar para os militares. Nesse mesmo dia também foi preso o adolescente José Wilson de Brito Feitosa.

Juracy Bezerra de Oliveira, um garoto de apenas oito anos, foi sequestrado pelos militares em 1972 na região de Xambioá. Foi levado para fortaleza e registrado ilegalmente num cartório como se fosse filho de um tenente do exército.

Com poucos meses de vida, a bebê Lia Cecília da Silva Martins foi retirada dos braços da mãe, uma militante política, e levada para uma casa de acolhida de crianças em Belém do Pará.
Em 1973, a criança Miracy Bezerra de Oliveira foi levada, à força, pelo sargento João Lima Filho para a cidade de Natal no Rio Grande do Norte.

No ano de 1966, cinco bebês de origem indígenas foram sequestrados por militares e deixados em uma instituição religiosa na cidade de Barra do Garças.

No dia 12 de janeiro de 1974, o adolescente Osniel Ferreira da Cruz foi preso, espancado e levado para a base militar de Bacaba. No mesmo dia, foi preso o também adolescente Sebastião de Santana.
A bebê Rosângela Serra Paraná foi sequestrada e entregue ao ex-soldado do exército Odyr de Paiva.

Yeda Viana da Conceição tinha apenas oito anos de idade quando foi sequestrada por militares. Desde então, nunca mais foi vista.
Em depoimento à justiça militar, em 1973, Maria José de Sousa Barros afirmou que levaram seu filho para um matagal e iniciaram uma sessão de espancamento contra o garoto, tentando retirar informações sobro o paradeiro do pai.
Ainda em 1973, a professora Maria Prata Soares foi presa junto com seu filho de quatro anos de idade. Foi torturada na frente do menino, que foi mantido durante quatro dias na delegacia.

Em 1969, o carpinteiro Milton Leite foi preso e levado para a delegacia com seus dois filhos de cinco e sete anos. O advogado Antônio Expedito de Carvalho teve sua filha Cristina, de apenas dez anos, interrogada e ameaçada de tortura por agentes da repressão.

Em 1974, o garoto Carlos Alexandre Azevedo, tinha um ano e oito meses, quando foi torturado por agentes do Dops em São Paulo.
A operária Maria Eloídia Alencar, em 1970, no Rio de Janeiro, foi presa e espancada, juntamente com seu filho menor de idade
Com apenas dois anos de idade, o menino Ernesto Carlos Dias do Nascimento foi preso junto com a mãe e levado para a Operação Bandeirantes em São Paulo. O garoto foi classificado como “subversivo” pelos agentes da repressão.

Com base em todos os casos relatados acima, fica mais do que demonstrada a falsidade do “argumento” de que a ditadura militar perseguiu “terroristas”. Sequestros, torturas, espancamentos e perseguições também atingiram muitas crianças e adolescentes.

*Fred Santiago é historiados e membro do Grupo de Pesquisa Ditadura, Resistência e Memória.