PT e PSB desistem de formar federação, mas aliança Lula-Alckmin está mantida

Mário Flávio - 09.03.2022 às 20:08h

Do Valor

Após quase quatro meses de negociações com poucos avanços devido a impasses eleitorais regionais e aspectos práticos de funcionamento, PT e PSB decidiram em reunião na tarde de hoje, em Brasília, não formar uma federação partidária. O PT não aceitou as regras propostas pelo PSB no início de fevereiro que tinham o objetivo, de acordo com socialistas, de equilibrar forças no âmbito do novo mecanismo eleitoral.

Por outro lado, PT, PCdoB e PV aprovaram o encaminhamento para se unirem formalmente. “Em resposta ao atual momento político, o PT, o PCdoB e PV decidem caminhar para constituir a federação e continuará dialogando com o PSB em busca de sua participação, bem como, o envolvimento de outras do nosso campo”, diz nota assinada pelos quatro partidos.

A formação de federação é um dispositivo novo, criado após o fim das coligações. Formalizada a aliança, os partidos precisam replicar a união nos Estados e ter atuação conjunta no Congresso e nas Assembleias pelos próximos quatro anos.

A aliança nacional do PT e do PSB em torno da pré-candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está mantida.
Nos bastidores, o petista defendia a formação da federação com o PSB para estruturar uma base de apoio no Congresso com aproximadamente 150 deputados.

Questionado sobre a desistência do PSB, o presidente nacional do partido, Carlos Siqueira, respondeu apenas de maneira genérica. “São partidos com culturas diferentes que não estão preparados para andar juntos neste momento”, justificou.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, destacou que, mesmo sem a federação com o PSB, os dois partidos vão continuar com alianças nos Estados. Ainda há impasses em São Paulo, Espírito Santo e Rio Grande do Sul.

Há a expectativa de que até dez deputados do PSB deixem a legenda após o fracasso na tentativa de união. O partido encontra dificuldade para formar chapas proporcionais em pelo menos 15 Estados. Diante do início da pré-campanha eleitoral, havia uma cobrança muito grande nos Estados para que a situação fosse definida o quanto antes.

De acordo com as regras da Justiça Eleitoral, as legendas federadas são obrigadas a lançarem chapas conjuntas em todos os Estados e a atuarem unidas por quatro anos no Congresso e nas Assembleias.

Participaram do encontro os presidentes nacionais dos quatro partidos: Gleisi Hoffmann (PT), Carlos Siqueira (PSB), José Luiz Penna (PV) e Luciana Santos (PCdoB). Estavam presentes também os deputados Paulo Teixeira (PT), José Guimarães (PT) e Renildo Calheiros (PCdoB).

Os principais pontos de discordância são os que pretendiam alterar o chamado quórum qualificado e o direito de veto a propostas que tenham contra si ao menos 15% dos votos da assembleia, que funcionaria como uma espécie de diretório nacional da federação.

O PSB pretendia rediscutir o número de vagas de cada legenda em caso de formalização da união. A composição leva em consideração a proporcionalidade da Câmara dos Deputados. Nesta configuração, o PT ficaria com 27 vagas e o PSB com 15. O PCdoB e o PV teriam quatro cada.

Entre outros pontos, a legenda sugeriu uma representação partidária mais equânime. Além da proporcionalidade da Câmara, os dirigentes socialistas queriam que, no cálculo para a composição da federação, fosse levado em consideração o número de prefeitos e de vereadores de cada sigla.

O PSB também chegou a sugerir no início de fevereiro, em documento assinado pelo presidente nacional da sigla, Carlos Siqueira, que os prefeitos tenham prioridade para concorrer à reeleição ou indicar o sucessor com apoio da federação. O PSB comanda 250 cidades brasileiras. Já o PT, 179.

Na formação de chapas para deputados federais e estaduais, o partido sugeria que fossem considerados os votos válidos alcançados pelas instituições partidárias nas respectivas unidades federadas. A sigla também defendia que a composição da assembleia deveria ser mantida por quatro anos.