Opinião – Um retumbante fracasso, o IDEB de Caruaru – por Mário Benning*

Mário Flávio - 11.09.2014 às 09:25h

O tempo é o senhor da razão, talvez não exista ditado que caiba melhor nessa semana de divulgação do IDEB municipal. Afinal com a divulgação da nota dos testes aplicados em todo o país, temos uma chance de avaliar se as políticas implementadas no município tiveram a eficácia propalada aos quatros ventos pela Prefeitura, inclusive durante o horário nobre. O IDEB avalia se os alunos dominam principalmente as competências em linguagem e matemática, pois se o aluno aprendeu esses conteúdos era não terá dificuldades nas demais áreas do conhecimento.

Essa prova, o IDEB, usa uma escala de 0 a 10, onde qualquer nota abaixo de 6,0 significa que os nossos alunos não aprenderam os conteúdos do nível de ensino em que estão matriculados. Esse ano a meta estabelecida do MEC para o país era a nota de 4.5, o que demonstra o quão longe estamos de uma educação de qualidade no país. O teste foi aplicado no final de 2013, e Caruaru atingiu no ensino fundamental I a nota 4.2. O preocupante é que pela primeira vez desde 2007, Caruaru ficou abaixo da meta nacional. Já no Fundamental 2 a situação é bem pior, pois só ficamos acima da meta em 2009, em 2011 ficamos aquém.

E agora ocorreu uma situação surreal, Caruaru não obteve nota nesse nível de ensino. Apesar da política do Governo Estadual de fechar as turmas de 6º ao 9º ano, o que levou a um aumento na quantidade de alunos matriculados na rede municipal. Para o MEC o total de alunos que fizeram a prova foi insuficiente para se atribuir uma nota. Diante desse quadro é necessário, que a Secretária Municipal de Ensino dê uma reposta clara sobre o ocorrido. Para que não paire a suspeita que o teste foi boicotado para esconder os indicadores negativos, ou se foi mais um atestado de incompetência, de descaso, onde nem aplicar um teste corretamente essa gestão foi capaz.

O que o IDEB revelou é aquilo que os professores municipais gritam pela cidade e que o relatório da CGU tão bem revelou. Que a educação municipal está em petição de miséria: com prédios sucateados, sem material de apoio, sem merenda de qualidade e com profissionais desrespeitados e desestimulados. Sem falar no inchaço de contratados, que muitas vezes só tem como critério de seleção ter participado dos atos de campanha.

O resultado expõem as consequências de todos os desmandos praticados por essa gestão, no manuseio dos recursos destinados a educação municipal. Desde o famoso, Cidade Conectada, as consultorias contratadas a peso de ouro e de qualidade duvidosa e o uso de livros didáticos defasados, mas com preços acima do mercado.

Esse quadro caótico pode ser resumido em apenas uma palavra, fracasso. E usamos esse termo tendo como referência a escala usada pelos membros dessa gestão., pois como disse Jesus: “ (…)a medida que usarem, também será usada para medir vocês.” Se quando Caruaru, ficou acima da meta nacional por apenas dois décimos, a prefeitura vangloriou-se do resultado como sendo uma prova inequívoca do sucesso. Agora usando a mesma métrica, dois abaixo, só cabe um termo, fracasso.

Porém essa conta tem que ser dividida entre outros atores, os sócios: a Câmara Municipal que não cumpriu seu papel de fiscalizar a gestão, ao judiciário que ainda não se pronunciou sobre a aberração do PCC da educação municipal apesar de estar em flagrante desrespeito a legislação nacional.

E finalmente o Ministério Público e seu inexplicável silêncio apesar do detalhamento de inúmeras irregularidades no relatório da CGU. O que todo esse quadro revela e reforça, é o diagnóstico feito pelo ex ministro Delfim Neto, quando em entrevista recente afirmou, que um dos maiores erros da ditadura, entre tantos, foi ter entregue a gestão da educação básica aos municípios.

Realmente diante do exposto pelo IDEB no país afora, não há o que discordar, que a educação é um patrimônio, um bem público, muito importante para ficar nas mãos das prefeituras, especialmente na da Prefeitura Municipal de Caruaru.

*Mário Benning é professor e analista político