O comportamento da bolsa no segundo trimestre de 2023 vem se mostrando bastante atraente para os investidores. Essa performance pode ser explicada, em resumo, por um motivo: as expectativas de juros no Brasil. Apesar das incertezas do que pode acontecer vindo de Brasília, já é possível enxergar um futuro favorável para um possível início de ciclo de redução da Selic.
No último dado de inflação divulgado pelo IBGE, o IPCA de maio fechou o mês com uma alta de +0,23%, abaixo da expectativa do mercado de +0,33%. Além desse ponto, tivemos a aprovação do arcabouço fiscal na câmara dos deputados, que agora tramita no Senado. O mercado não gosta de incertezas e, agora, com a nova âncora fiscal se tornando mais clara para os agentes de mercado, aumenta o nível de segurança e convicção para cortes na taxa de juros.
A correlação entre a redução da taxa de juros e o aumento do preço das ações é um fenômeno observado em diversos mercados ao redor do mundo. Quando um banco central decide reduzir a taxa de juros, isso geralmente ocorre como uma medida de estímulo econômico, com o objetivo de impulsionar o consumo e o investimento ou como forma de controle da inflação. Essa redução tem impactos diretos no mercado de ações.
A redução da taxa de juros torna o ambiente mais favorável para os investidores de ativos de risco. Com taxas de juros mais baixas, os investimentos em renda fixa se tornam menos atraentes em termos de retorno. Isso leva muitos investidores a buscarem alternativas de investimentos mais rentáveis, como o mercado de ações. A demanda por ações aumenta, o que tende a impulsionar seus preços.
A redução da taxa de juros também afeta as empresas de forma positiva. Com taxas de juros menores, as empresas têm acesso a capital mais barato para financiar seus projetos de expansão, investimentos em novas tecnologias e outras iniciativas de crescimento. Isso melhora as perspectivas de lucro das empresas, o que, por sua vez, aumenta o valor percebido de suas ações. Os investidores são atraídos pelas empresas com perspectivas de lucro mais promissoras.
Além disso, taxas de juros mais elevadas aumentam a taxa de desconto nas planilhas de valuation dos analistas de ações. Existem diversas formas de analisar o preço justo de uma empresa, uma delas, a mais utilizada, é o fluxo de caixa descontado. A taxa de desconto tem relação com o custo médio de capital e os riscos do investimento, uma alta taxa de juros possui correlação direta nessa conta.
Outro fator importante é que a redução da taxa de juros pode impulsionar a atividade econômica como um todo. Com taxas de juros mais baixas, o consumo e o investimento das empresas tendem a aumentar, estimulando o crescimento econômico. Esse crescimento econômico geralmente se reflete nos resultados financeiros das empresas, o que pode impulsionar seus preços no mercado de ações.
Em resumo, a redução da taxa de juros tem uma correlação histórica positiva com o aumento do preço das ações. Isso ocorre devido ao aumento da demanda por ações como alternativa de investimento mais rentável, às melhores perspectivas de lucro das empresas devido ao acesso a capital mais barato, ao impulso geral na atividade econômica e maior percepção de valor nas empresas. No entanto, é importante ressaltar que a relação entre taxa de juros e preços das ações pode ser influenciada por uma série de outros fatores econômicos e políticos, e não deve ser considerada uma regra absoluta.
*Marcelo Duarte, sócio da Dapes Investimentos