Ao surgirem notícias de que Jesus havia ressuscitado um dos apóstolos, São Tomé recusou-se a acreditar no fato, apesar dos relatos vívidos por seus colegas. Ele exigiu como prova tocar as chagas, para que ele pudesse crer. O que deu origem a expressão: “Tal qual São Tomé, só acreditando vendo”. São Tomé não afirmou a priori que negava ou confirmava o fato, mas apenas disse que antes de tomar uma posição queria examinar o episódio. É esse bom senso que vem faltando aos vereadores caruaruenses, comprovado com os pronunciamentos emitidos na sessão da última terça-feira (20), seja da situação ou pela oposição.
Ambos os lados discutiam, e proferiam opiniões sobre o relatório da CGU, mas o que ficou patente é que a maioria não leu o documento. Mesmo com todo bafafá em torno da série de reportagens publicadas pelo JC, não se deram ao trabalho de se preparar para os debates. Muitos apenas comentavam a respeito do volume, do calhamaço, que é o relatório, afinal são mais de 370 páginas. Diferente de São Tomé, que primeiro averiguou e depois tomou a sua decisão, em Caruaru foi o contrário. O que se esperava é que depois de terem aprovado sem ler o PCC da educação, os mesmos tivessem aprendido a lição. Passando a ter mais responsabilidade no exercício do mandato parlamentar. Evitariam se expor ao ridículo perante à sociedade ao discutir assuntos que não dominam.
Na bancada da situação, o constrangimento era notório, muitos declinaram a palavra. Outros insistiram que a Prefeitura havia prestado todas as explicações, ou que o relatório da CGU também atingia o ano de 2004. E que não havia necessidade de uma CPI, pois o MPF havia instaurado inquéritos e bastava apenas aguardar o desenrolar dos mesmos.
Ledo engano, quem apenas folheou o relatório viu que todas as explicações da gestão foram rejeitadas pela CGU. O documento logo nas primeiras páginas afirma que o objeto de investigações são os repasses ao longo de 2010 e 2011, e não 2004. E mesmo que o MPF dê continuidade às investigações, os vereadores podem contribuir, senão investigando fatos passados, mas procurando ver se os erros foram sanados e como está a administração desses recursos federais atualmente.
Agravou o mutismo da situação a reunião realizada entre o executivo municipal e os vereadores rebeldes. Partindo do pressuposto que não ocorreu pressão da Prefeitura sobre o voto desses vereadores, a simples realização do encontro nas vésperas da sessão e o comportamento dócil dos “rebeldes” alimentaram as especulações sobre o cardápio servido durante o encontro.
Já na oposição, apesar de ocuparem o centro do palco, com o recuo dos governistas, a situação não é muito diferente. Inspirados no sucesso obtido por Jajá, em bater, passaram a sessão inteira adjetivando o prefeito e proferindo frases de efeito. Verdadeiros líderes de torcida, que agitam as galerias lotadas, mais preocupados em gerar mídia e ter os seus cinco minutos de fama do que em discutir o relatório de forma apropriada.
Tivessem dividido entre si o relatório e abordado na tribuna de maneira responsável os pontos polêmicos do mesmo, iriam assim demonstrar o descaso com a administração das verbas destinadas a educação. Emparedando a gestão e os que não assinaram o requerimento. E mediante a recusa de uma CPI, como plano B, propor uma audiência pública com especialistas em políticas educacionais, em legislação educacional e os técnicos do núcleo regional da CGU. Para discutir o financiamento da educação em Caruaru e o desrespeito à legislação que regula o uso dos recursos do Fundeb e o porquê de afirmamos que o PCC é uma afronta aos marcos legais da educação. Teria sido mais útil do que o stand up realizando ontem. Diante do que está sendo exposto, só nos resta pedir que os nossos vereadores sejam críticos no exercício do mandato.
Inspirem-se em São Tomé, para que com essa prática passem realmente a ser produtivos e objetivos. Todavia, se insistirem nessas práticas, serão associados a outro apóstolo, aquele das trinta moedas de prata.
*Mário Benning é professor e analista político