Porém essa coesão ideológica não era acompanhada de uma unidade política, estava mais para uma federação, ou diversas correntes, cujo tom dependia da liderança estadual. Dentre as quais a mais famosa, e danosa, era o Lacerdismo. O termo UDN lacerdista, ou o lacerdismo, virou sinônimo na história nacional de golpismo e radicalismo.
Movimento que tinha como núcleo o jornalista e político, Carlos Lacerda: o demolidor de presidentes. Figura presente, em todas as crises politicas do país de 1945 até o Golpe Militar, desde a crise que levou a morte de Getúlio, tentou impedir a posse de Juscelino, e depois o seu governo, levantou-se contra Jânio Quadros e Jango, sendo uma das principais lideranças civis do Golpe de 1964.
Orador carismático, escritor talentoso e culto, utilizou o radicalismo como plataforma para alcançar visibilidade nacional. Cavalgava e estimulava crises políticas, torcendo que eles o levassem a Presidência do País, sem para isso levar em conta os danos às instituições políticas ou à sociedade.
Insuflava o ódio e o desrespeito a seus adversários, muitas vezes usando termos ofensivos e principalmente de calúnias . O medo, também era uma ferramenta frequente em seu arsenal, propagava o risco de uma ditadura comunista ou peronista no país. Fomentava o golpismo das forças armadas, torcendo para que elas lhe entregassem o poder após a derrubada do Presidente eleito.
Não queria o diálogo, queria crise e a aniquilação dos seus adversários. Tudo isso sendo coroado com um discurso moralista, de defensor da família, dos valores cristãos e da sociedade brasileira.
Como um dos líderes do golpe militar, pregava pelo afastamento depolíticos populares, para que assim vencesse as eleições presidenciais de 1965, que já tinha um favorito, JK. Porém numa das ironias da história foi engolido pelos militares e teve seus direitos políticos cassados, morrendo no ostracismo em 1977.
Entretanto essa forma danosa de fazer política, que tanto mal já fez o país, ressurgiu. Com a crítica e o debate cedendo lugar a acusações, calúnias e golpismos de toda natureza. O Senador Ronaldo Caiado ( DEM) já afirmou que o modelo de oposição deveria ser Lacerdista. Vários membros do PSDB, principalmente o seu Presidente Aécio Neves, já aderiram a essa linha de atuação.
Inclusive relançando Banda de Música da UDN, com deputados e senadores se revezando para desgastar ao máximo o governo, nas tribunas e na imprensa. Vide o espetáculo degradante que tomam parte figuras como: Carlos Sampaio, Aloysio Nunes, Álvaro Dias, o batedor de panelas Bruno Araújo e Mendonça Filho.
Desgastar, complicar e sangrar são os lemas da oposição, palavras de ordem, principalmente para lideranças que não possuem o controle de máquinas partidárias. No PSDB, Aécio disputa com os governadores Geraldo Alckmin e Marcondes Perillo a indicação do partido para 2018. Manter esse estado de animosidade e tensão é vital, para assim consolidar-se como candidato natural do partido. Anulando a fragilidade de ter perdido o controle do seu estado Minas, e a dupla derrota, tanto a do seu candidato a governador e a dele próprio nos dois turnos presidenciais .
Essa nova, velha forma de atuar, fica mais evidente quando analisamos as táticas usadas pela oposição entre o final do ano passado e início de 2015.
Se em 1950 e em 1955, Lacerda questionou, respectivamente, os direitos de Getúlio e JK assumirem porque não tiveram a maioria dos votos. Algo que constituição de 1946 não exigia, maioria absoluta, ou estabelecia segundo turno.
Agora o PSDB Aecista e seus satélites, DEM e PPS, trilharam o mesmo caminho, questionando desde a pequena margem da vitória e até a validade da eleição levantando suspeitas sobre a inviolabilidade da urna eletrônica. Chegando até a tentar, via liminar, impedir a diplomação de Dilma.
Em 1954 Lacerda ecoou o discurso do mar de lama, e exigiu a deposição de Getúlio, para salvar a democracia e evitar a implantação do Peronismo no Brasil. Reeditou-se o termo mar de lama e trocou-se Peronismo por Chavismo. Se entre 1950 e 1964, Lacerda estimulou o golpe militar, a tática agora é o golpismo democrático, ou golpismo paraguaio, impeachment sem provas.
O que está faltando aos Neo Lacerdista é ter coragem de repetir a frase que melhor retrata a veia golpista de Lacerda: “Vargas não deve ser candidato. Se for candidato, não deve ser eleito. Se for eleito, não pode tomar posse. Se tomar posse, não pode governar. Se tentar governar, deve ser deposto”. Mas falta a competência e a coragem para isso.
*Mário Benning é mestre em Geografia e professor no IFPE/Caruaru