Coluna publicada no Jornal Vanguarda do dia 01 de setembro
Ainda é cedo para se avaliar o nível do guia eleitoral em Caruaru, porém pelo que se viu até agora parece difícil, para os grupos políticos em disputa, superar os vícios do passado e fazer um debate propositivo, no qual os problemas da cidade possam ser profundamente discutidos com as respectivas medidas para solucioná-los. Perdido em meio à enxurrada de denúncias e troca de acusações mútuas, o eleitorado não consegue diferenciar os projetos e escolher com segurança o melhor, ou talvez o menos ruim, para a cidade.
Também não foi possível ver uma discussão séria centrada em laços de compromissos entre candidatos e a população diante dos desafios que a cidade vem enfrentando no atual cenário. A continuar assim, não será surpresa a indiferença e o desinteresse de muitos em não assistir o guia eleitoral. “Não vejo a hora desse nojo terminar”, disse-me um popular na rua da Matriz. O que é bastante sintomático em uma parcela da população.
Esta semana, por exemplo, o Alto do Moura e o restaurante O Gonzagão tomaram praticamente todo o espaço do guia eleitoral de Miriam Lacerda e Zé Queiroz numa polêmica sobre uma suposta farsa no guia da candidata da coligação Caruaru em Boas Mãos. Tirando de tempo os verdadeiros problemas da cidade, a polêmica se estendeu com os dois lados tentando provar quem, de fato, é o verdadeiro dono do restaurante. Um humorista debochado diria que a única coisa que os dois candidatos conseguiram foi promover aquele polo gastronômico e em especial o famigerado bar. Deu até vontade de saborear um bode assado por ali.
De que adianta aos caruaruenses saber quem realmente é o proprietário do estabelecimento? O episódio desta semana foi digno de substituir um capítulo do programa “a grande família”, da TV Globo. Se a intenção era tirar de foco as principais questões que afligem a cidade, eles tiraram de letra. Zé Queiroz e Miriam Lacerda poderiam muito bem se apropriar do Alto do Moura para discutir a necessidade urgente de uma política cultural para a cidade de Caruaru, no contexto das transformações porque passa Pernambuco e o Brasil. E por falar nisso, neste ponto os dois lados não disseram quase nada a população.
Naquilo que diz respeito ao guia de vereador a situação é ainda pior. A maioria dos candidatos demonstram visivelmente dificuldades para ler no teleprompter imaginem para se comunicar com a população. Currículos sofríveis, promessas descabidas, frases de efeito e pirotecnias desfilam diante de um eleitor confuso, quando não largado em risos. Se o guia eleitoral vivesse de audiência corria o sério risco de sair do ar ou se tornar uma opção humorística.
Por enquanto, foi somente as primeiras semanas do guia eleitoral, vamos torcer para que o nível do debate possa melhorar e atrair a população para um diálogo mais focado em suas necessidades e aflições.
Veridiano Santos é professor de História
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