Ao sair a lista com os nomes dos vereadores eleitos em Caruaru, a mesma representou de maneira clara e inequívoca o mosaico existente na vida política local, pois a sua composição teve como marca a heterogeneidade, a diversidade. Claramente o único padrão existente era a ausência de padrão, já que nela estavam representados diversos segmentos: lideranças religiosas, esportivas, profissionais liberais, líderes comunitários, comunidade artística e os membros das tradicionais famílias da cidade.
Dentre esses 23, porém um destoava, pois não se encaixava em nenhum desses grupos, o vereador Jajá, que apostou num estilo sui generis de fazer campanha, com o seu famoso: “Jajá não promete, Jajá dar”, com direito a erro de grafia e tudo. Tão diferente dos demais candidatos que terminou recebendo o voto de protesto, anárquico e o da informalidade. Com seu estilo cômico, não atraiu o apoio do movimento LGBT local, que não quis associar-se a sua candidatura, por achar que ela reforçava o estereótipo dominante sobre os homossexuais, apesar de o mesmo em momento algum renegar a sua identidade, lembrando ainda que ele carrega o marco local de ser o primeiro vereador declaradamente homossexual eleito em Caruaru.
Jajá, até o momento, está sabendo separar seu personagem criado para a campanha do exercício do cargo. Demonstrando claramente que a sua orientação sexual é apenas uma das dimensões da sua personalidade, mas não a única. Contradisse todos aqueles que no pós-eleição afirmavam que no exercício do seu mandato ele continuaria com o estilo exótico da campanha.
Embora o mesmo ainda peque pela inexperiência, pela falta de intimidade com o regimento, ainda derrape na liturgia o cargo e precise superar a falta de intimidade com os microfones tanto na tribuna ou em entrevistas. Mesmo assim nesses quase seis meses de mandato, Jajá vem ocupando espaço no cenário político, destacando-se dos vereadores de primeiro mandato, muitos dos quais não demonstraram claramente a que vieram, e até mesmo ofuscando as lideranças tradicionais da Câmara.
Com sua espontaneidade admitiu o erro na votação do PCC dos professores e desculpou-se com a categoria, algo que nenhum vereador fez. Encapou a luta contra a homofobia em Caruaru ao solicitar a concessão de pensões aos companheiros dos funcionários municipais ao Caruaruprev, também buscou a constituição de um polo da diversidade no São João. E recentemente ocupou o espaço na mídia local ao participar de uma comissão que apurou as condições de funcionamento da rede municipal de saúde.
Num cenário que é marcado por uma oposição inexistente e por uma situação dócil, submissa e em alguns casos acéfala, Jajá encontrou um nicho, um vazio que ele está preenchendo com a sua postura independente, agradando assim o eleitorado da cidade, mesmo aqueles que não votaram nele. Transitando entre situação e oposição, sem assumir cores partidárias xiitas votando as matérias com liberdade, se o mesmo prosseguir nessa linha ao contrário de muitos que chegam na Câmara como grandes e se apequenam, por suas atuações equivocadas e adesistas, ele fará o caminho contrário. Pois creio que nenhum vereador na história recente da cidade assumiu um mandato com tanto escárnio, descrédito e suspeição e tornou-se uma grata surpresa, um verdadeiro cabra da peste.
*Mário Benning é analista político e professor