Bom dia, amigos.
Hoje é um dia daqueles em que qualquer pedaço de papel, qualquer recanto de parede, qualquer lugar em toda a cidade, além do colégio municipal onde estudei, deveria estar com um nome escrito: Álvaro Lins.
Entendo perfeitamente todas as manifestações realizadas ontem para celebrar o centenário do “Velho Lua”. Mas reconheço que não conseguirei encontrar tão cedo qualquer explicação sobre este som quase mono que se faz sobre os 100 anos deste caruaruense que em busca da importância na área das ciências humanas se transformou em um dos maiores e mais atuantes intelectuais do século passado.
Álvaro de Barros Lins teve a incrível capacidade de desenvolver simultaneamente atividades como Historiador, Jornalista, Crítico Literário, Ensaísta e membro da Academia Brasileira de Letras. Como se não bastasse, foi Chefe da Casa Civil da presidência da república no governo de JK. Em seguida foi nomeado pelo mesmo presidente para assumir o cargo de Embaixador do Brasil em Portugal – naquele país já havia exercido cátedra na Faculdade de Filosofia e Letras de Lisboa.
Mas foi também na Europa que Álvaro assistiu de perto aos horrores da Ditadura Salazarista. Conheceu Humberto Delgado, vítima das perseguições políticas. O Embaixador solicitaria ao governo brasileiro asilo político para Delgado. O pedido foi negado pela presidência da república e Álvaro Lins imediatamente apresentou uma carta rompendo com o presidente Juscelino Kubitschek – isto é, em nome dos seus princípios democráticos e libertários Álvaro Lins pediu demissão do cargo e voltou ao Brasil para levar retomar uma vida simples de cidadão, na condição de professor. Pouco tempo depois Humberto Delgado foi assassinado pela Ditadura Portuguesa.
No Rio de Janeiro Álvaro ingressou nas atividades desenvolvidas pelo Partido Comunista e viajou para Moscou a fim de participar das Missões de Paz que eram encabeçadas pela então União Soviética. Mais tarde, em 1964, o golpe que instaurou a Ditadura Militar em solo nacional atingiu diretamente este ilustre conterrâneo. As chamadas “Forças de Segurança” invadiram a casa dele e destruíram parte de sua biblioteca particular.
Poucos anos depois, em 1970, a morte nos roubava um homem que dedicou a vida aos seus ideais igualitários – sem jamais desistir deles.
É verdade que algumas solenidades ocorreram recentemente em Caruaru e rememoraram esta indescritível figura humana. Mas é preciso que Álvaro Lins faça parte do nosso cotidiano e não apenas de uma data no calendário.
Torço sinceramente para que nós – neste modesto 14 de Dezembro de 2012 – reservemos ao menos um recanto qualquer da nossa memória para inscrever este nome na pequena e seleta lista em que descansam os vultos mais importantes da História do Brasil. Salve o Camarada das Letras e da Vida! A sua trajetória e a sua importância são infinitamente maiores do que este pequeno relato que por ora escrevo. Que a consciência libertária desta cidade jamais permita que apaguem sua inestimável obra, nosso inquestionável patrimônio. Muito obrigado, Álvaro!
*Almir Vilanova é apresentador da TV Asa Branca – Caruaru e na Globo FM – 89,9