Opinião – A Mudança Capotou – por Mário Benning*

Mário Flávio - 18.08.2024 às 09:47h

Há cerca de dois anos, na época das eleições, as minhas irmãs me perguntaram o que esperar de uma gestão Raquel Lyra como Governadora. E eu disse, baseado na vivência de morador de Caruaru durante os seus quase seis anos de gestão. Esperem muito improvisação, decisões sendo tomadas de forma intempestiva para depois apresentarem problemas serem reformuladas. Parecendo até, que o erro foi incorporado, normalizado, como uma etapa de qualquer política pública.

Uma seleção de secretários, em sua maioria ilustres desconhecidos, tendo em comum apenas a fidelidade absoluta a gestora. Mas nem isso garante as permanências, já que a rotatividade é alta. Já houve, em nível estadual, uma reforma do secretariado a conta gotas para não chamar a atenção. E nem assim, a máquina decolou.

Afirmei ainda, que se preparassem para o arrocho salarial, porque educação e valorização docente só seriam para marketagem. Com desrespeito à lei do piso, com congelamento dos salários dos docentes ativos e inativos.
Infelizmente, por mais que me doa dizer, isso estava correto.

A gestão de Raquel tinha tudo para ser um marco: a primeira mulher eleita, e desde a redemocratização, primeira liderança do interior, que não fez carreira na capital, a conquistar o Palácio do Campo das Princesas.
Porém, a paralisia está tão patente, tão grande, que o próprio Governo lançou uma campanha para dizer que agora vai! Que foram necessários “apenas” 18 meses para colocar a casa em ordem, e que a tão propalada mudança vai chegar, mesmo que seja a passos de tartaruga…

Não há projeto na educação, vide a queda do IDEB em nível nacional, ou o estabelecimento de prioridades. Para se ter ideia um prédio no centro do Recife foi desapropriado, em apenas 30 dias após o início do Governo, por 100 milhões de reais. Ninguém sabe para que, ou se esse dinheiro poderia ser usado para melhorar a infraestrutura das escolas já existentes. E embora o estado comemore o 1º ligar do IDEB na região, caímos para o quarto em nível nacional.

Nos salários, congelou e achatou o plano dos docentes, distorcendo e descaracterizando a lei do Piso do Magistério. Mesmo com a União, se comprometendo a complementar o necessário, se o Estado abrir a caixa preta e provar que usa corretamente os recursos da educação. Está na lei do piso e do Arcabouço fiscal. Mas a gestão estadual preferiu congelar, e dar outros fins aos recursos destinados a valorização docente.

Um exemplo de autossabotagem, foi a recriação do Festival de Inverno, com o nome Pernambuco Meu País. Foi um exemplo de picuinha e descaso do dinheiro público. No governo Jarbas, havia um calendário, no qual, espaçavam-se as datas para que os turistas pudessem ter recursos para visitar e gastar nas cidades. O eixo desse festival, naquela época era o de Garanhuns que ancorava o evento.

Por disputas políticas, enquanto o tradicional festival de Garanhuns ocorria simultaneamente era realizado os de Bezerros e Gravatá. Dividindo o público entre as cidades, e esvaziando ambos os eventos. Nunca vi shows tão esvaziados como os que ocorreram em Gravatá.
De maneira caótica, como de praxe, a gestão resolveu mudar as matrículas dos servidores estaduais sem comunicar ou organizar uma estrutura para isso. E para não fugir do hábito, inúmeros erros já foram apontados.

Mostrando que a verdadeira marca dessa gestão é o improviso. Já há promessa de folhas suplementares, talvez duas ou até três. Parece que acertar de primeira é querer demais.
A crise do SASSEPE que foi herdada, teve até agora como principal medida rebatizá-lo para IASSEPE. Foi muito piorada por essa gestão, talvez se ela e os seus secretários fossem usuários já tivessem se empenhado em resolver. Mas pelo jeito não são.

Temos servidores, idosos, principalmente, sem a certeza de atendimento se eles ou seus dependentes caírem doentes. Os do interior que terão de custear deslocamentos e hospedagens indo para Recife. Isso num plano que não há inadimplência, 100% descontados em folha, e que até agora vem fazendo milhares sofrerem e até morrerem.
Fazer sofrer os mais frágeis parece ser um dos objetivos da gestão, até agora mesmo com a autorização judicial já concedida e os alvarás emitidos. Sem nenhuma explicação os herdeiros dos precatórios da educação não foram pagos.

O dinheiro continua parado na conta do Estado, para que e porquê ninguém sabe. O professor já ganha pouco e o pouco dinheiro deixa para seus familiares é retido, sem explicação e prazo nenhum.
Se na campanha ostentou ter sido delegada e saber combater o crime…

Esse preparo todo ainda não entrou em campo, deve estar em aquecimento. Pois a violência piorou em Pernambuco, com o estado tendo a segunda pior taxa nacional, destoando da queda generalizado em todo país
Se quiséssemos poderíamos elencar mais e mais, mas para não cansar o leitor, paramos por aqui. Essa percepção de paralisia na gestão estadual é tão grande que vários aliados, ou áulicos, justificam o caos pela necessidade de ordenar a já famosa herança maldita.

Não nego que tenha havido uns esqueletos, vários na verdade, no armário deixados pelo PSB, mas o cheiro nauseabundo é mais atual.
Ao ponto, do próprio pai da Governadora, vir a público dizer que a gestão irá melhorar e alcançará os píncaros de popularidade e aprovação. Não que isso não seja possível, afinal faltam dois anos de mandato, e muita coisa pode acontecer ainda. Mas, se o freio de arrumação não for dado, corre o risco da mudança capotar na estrada e ficar pelo caminho.

*Mário Bemning é professor e analista político