Livro sobre relação de Gilberto Freyre com o judaísmo será lançado em Caruaru neste sábado (26)

Mário Flávio - 26.04.2025 às 08:15h

A Cepe Editora lança, neste sábado (26), em Caruaru, o livro Gilberto e o judaísmo: consonâncias e dissonâncias hebraicas no judeu de Apipucos, de Caesar Sobreira. A publicação é o primeiro estudo, no Brasil e no exterior, dedicado exclusivamente à análise da visão de Gilberto Freyre sobre os judeus e o judaísmo, tema considerado um dos mais delicados e polêmicos da obra do sociólogo pernambucano. O evento acontece na Academia Caruaruense de Cultura, Ciências e Letras, a partir das 16h, com um bate-papo entre o autor, o escritor Mário Hélio Gomes de Lima e o professor Renato Athias, antes da sessão de autógrafos.

Com 392 páginas, organizadas em duas partes e oito capítulos, o livro examina referências ao judaísmo em 27 obras escritas por Freyre, incluindo a clássica trilogia Casa-grande & senzala (1933), Sobrados e mucambos (1936) e Ordem e progresso (1959). Para embasar a análise, Sobreira também revisitou mais de 50 publicações de autores nacionais e estrangeiros que discutiram a presença judaica nos textos freyreanos.

Segundo Caesar Sobreira, em Casa-grande & senzala, as referências aos judeus são majoritariamente positivas, ressaltando qualidades intelectuais e científicas, ainda que eventualmente permeadas por termos considerados inadequados para os dias atuais, como o verbo “judiar”. “Não há evidências de judeofobia ou antissemitismo nesta obra”, afirma o autor, destacando que eventuais críticas se limitariam ao uso de determinadas expressões linguísticas.

O ensaio também aborda o impacto cultural e econômico dos povos semitas, especialmente judeus, na formação da civilização lusitana transplantada para o Brasil, com ênfase na região Nordeste, e discute as acusações de antissemitismo que Freyre enfrentou ao longo de sua trajetória. Entre os críticos analisados no livro, destaca-se o antropólogo norte-americano Jules Henry, primeiro a levantar suspeitas sobre o possível viés antissemita de Casa-grande & senzala em uma resenha de 1947, ainda que sem usar o termo explicitamente. A crítica foi posteriormente rebatida pelo próprio Freyre no prefácio da sexta edição de sua obra.

Equilibrando diferentes pontos de vista, o autor traz no livro 11 críticas favoráveis e 11 desfavoráveis às ideias de Freyre. De acordo com Sobreira, nenhum dos críticos posteriores revisitou diretamente o texto original de Jules Henry, baseando-se apenas nas citações do próprio sociólogo no prefácio.

O livro conta ainda com prefácio assinado por Tania Novinsky, professora da Universidade de São Paulo (USP) e neta da historiadora Anita Novinsky, que inicialmente havia sido convidada para escrever sobre o tema. Segundo Tania, a obra de Caesar Sobreira contribui para um novo olhar sobre Gilberto Freyre, trazendo novas interpretações para velhas polêmicas.

Sobre o autor

Caesar Sobreira é professor titular de Antropologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Além de Gilberto e o judaísmo, já publicou pela Cepe Editora Diálogo das Grandezas do Brasil: Primeira edição do apógrafo de Lisboa (2019). É também autor dos livros Nordeste Semita: ensaio sobre um certo Nordeste em que Gilberto Freyre é semita (2010) e Opus Iustitiae Pax: Igreja, Estado e Direitos Humanos no Brasil – 1964/1996 (2017).