Livro que conta a história dos judeus em Pernambuco será lançado nessa terça-feira (05)

Mário Flávio - 04.12.2023 às 17:10h

A presença dos judeus em Pernambuco se entrelaça com a própria história do lugar. Há registros desta relação desde os primeiros anos do ciclo comercial do pau-brasil, no século XVI, até décadas recentes. Diante de um período tão largo, o desafio seria escrever uma obra que retratasse os mais de cinco séculos desta presença. O escritor, economista e membro da Academia Pernambucana de Letras (APL) Jacques Ribemboim encarou o desafio. Por mais de uma década, ele se dedicou ao trabalho, pesquisando em acervos nacionais e estrangeiros. O resultado é a História dos Judeus de Pernambuco, um livro da Cepe Editora, com lançamento nesta terça-feira (5/12) na APL, bairro das Graças, no Recife.

Em 608 páginas, a obra reproduz ilustrações, mapas, fotografias, selos e documentos de diversas épocas, e traz, principalmente, histórias de homens e mulheres que cruzaram o Atlântico em busca de uma vida nova. A maioria deles enfrentou o mar para fugir da perseguição religiosa na Europa. No Brasil, Pernambuco foi um dos destinos procurados, mas não o único. Ao se referir a Pernambuco, o autor enfatiza que este não se limita “a um território, muito menos ao do atual estado, mas a uma espécie de Pernambuco conceitual”.

De acordo com Ribemboim, o Pernambuco conceitual incluiria aspectos históricos, culturais, etnográficos “e que talvez pudesse ser geograficamente inserido em um Nordeste Setentrional”, compreendido de Alagoas ao Ceará, com trechos de Sergipe e do Maranhão.

O conceito do que venha a ser judeu também é amplo. “Não está relacionado a uma etnia específica, até porque os judeus do Brasil provêm de grupos bastante diversos, embora no período colonial haja prevalecido o padrão sefardita, de origem hispano-portuguesa”, pontua. Ribemboim afirma ainda que por “judeus” deve-se entender os “judeus e cristãos-novos, incluindo alguns de seus descendentes”. Os cristãos-novos, por sua vez, são os judeus convertidos, à força ou por vontade própria, ao cristianismo.

Para contar a História dos Judeus de Pernambuco, o autor optou por estruturá-la em ciclos. Ao todo, seis. O primeiro é o Ciclo da madeira judaica (1502-1535), quando prevalece a exploração do pau-brasil. Depois vem o Criptojudaísmo olindense (1535-1630), período em que a prática religiosa se dava secretamente em virtude das perseguições, o Judaísmo holandês (1630 e 1654), com a vinda de sefarditas holandeses, o Hiato do Judaísmo (1654-1910), no qual o exercício comunitário da religião se restringiu a núcleos paraibanos, o Judaísmo contemporâneo (1910-2000), marcado pela chegada dos imigrantes da Europa Oriental. Por fim, desde 2000, as Novas Tendências (desde 2000), com o judaísmo reformista, a presença das mulheres na liturgia religiosa e o fortalecimento do marranismo.

Para chegar à estrutura final do livro, Ribemboim fez uma pesquisa pormenorizada sobre o assunto. Foram quase 220 livros, capítulos de livros, artigos científicos, artigos e entrevistas publicados em jornais e revistas, além de cerca de 200 fotografias e reproduções de mapas, quadros, gravuras, selos, páginas de livros e documentos. Outro dado que indica a extensão da obra é o índice onomástico, que tem quase 1.600 nomes de pessoas, famílias e autores catalogados. A título de curiosidade, Branca Dias e Maurício de Nassau são os personagens mais citados na obra. Ela, 41 vezes. Ele, 33.